Carcereiro vigia presos executando trabalho de cozinha | Foto: Charlie Riedel/AP

O estado do Alabama está sendo processado por escravização de prisioneiros. A governadora Kay Ivey, o procurador-geral Steve Marshall, membros do Conselho de Perdões e Liberdade condicional do Alabama, entre outros órgãos, estão sendo processados por 10 detentos de prisões estaduais por um esquema que nega liberdade condicional a presos em sua maioria negros para estender sua estadia nas prisões do Estado.

Segundo o processo Robert Earl Council aka Kinetic Justice v. Kay Ivey, o governo do Estado do Alabama usou de escravidão prisional, emprestando detentos para empresas de empacotamento de carne, para redes de ‘fast food’ e ainda centenas de agências distritais, municipais e estaduais. 

Os chefes do esquema também teriam conspirado para o aumento no número da população prisional através da negação de condicional de detentos, de maioria negra, aptos a obtenção do direito, a fim de usá-los para trabalho forçado.

Lakiera Walker, 36, uma das reclamantes no processo, já trabalhou em unidades de empacotamento de carne, redes de fast food como o McDonald’s e Burger King, obras em rodovias e remoção de lixo, assim como trabalhos dentro da prisão, tudo isso enquanto detenta no Alabama, e chegou a receber $2 dólares por dia.

Lee Edward Moore Jr, 51, preso desde 1997, já teve 4 pedidos de liberdade condicional negados, ele já fez todo tipo de trabalhos dentro da prisão, como a remoção da cadeira elétrica depois que as execuções passaram a ser por injeção, todo tipo de trabalho de manutenção, encanamento, eletricidade, aquecimento e ar-condicionado. Nunca foi pago por nenhum trabalho que fez. Seu advogado disse que, pelo seu histórico de bom comportamento, ele já deveria estar em liberdade.

“Não há argumento razoável de que ele representa uma ameaça para a segurança pública já que ele esteve trabalhando longas horas diariamente desde que ele foi encarcerado”, disse. “Moore tem trabalhos pagos em construção esperando por ele assim que ele for para casa e uma esposa e família desesperados para vê-lo. Sua enteada é uma oficial de condicional e vários membros de sua família são policiais”.

Esses detentos também são punidos se eles se recusarem ao regime de trabalho forçado. São mandados para confinamento na solitária. “Você não pode dizer que não pode ir trabalhar hoje”, disse Lakiera Walker. “Você é mandado para segregação, que é confinamento na solitária” e que “em um ponto as pessoas estavam tão arrasadas que elas optavam pela solitária só para ter um tempo de sossego”.

O serviço de escravidão prisional teria dado lucro ao Estado do Alabama cerca de $450 milhões de dólares em 2023. Os detentos além de trabalhar para empresas particulares, fabricam móveis, para prédios públicos como cadeiras executivas, mesas para juízes e até construíram um mirante na mansão da governadora. E o estado sempre confisca 40% de seus salários que já são menores se comparados com trabalhadores livres que recebem pelo mesmo emprego.

Já no resto dos Estados Unidos como um todo, os lucros por trabalho prisional seriam de 2 bilhões de dólares e economia de 9 bilhões de dólares por serviços prestados aos Estados.

Os sindicatos também entraram na luta contra a exploração do governo do estado, USSW (que representa trabalhadores de redes de fast food) e RWDSU (que representa trabalhadores de unidades avícolas e de empacotamento de carne). O emprego de detentos por uma fração do salário que um trabalhador livre recebe causa uma desvalorização da categoria, assim como empresas param de contratar, já que podem utilizar uma mão de obra que não pode desistir do emprego.

Fonte: Papiro