Palestinos logo após feitos prisioneiros em Gaza | Foto: Common Dreams

A Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), publicou na 3ª feira (16) um documento detalhando torturas sofridas por palestinos aprisionados na Faixa de Gaza.

O relatório “Detenção e alegados maus-tratos de detidos de Gaza durante a guerra Israel-Hamas”, foi elaborado a partir dos depoimentos dessas vítimas que, depois de conseguir se livrar do sufoco, contaram também tratamento bárbaro dispensado a outros idosos e crianças que também foram capturados.

Jogados em prisões do sistema israelense, eles relataram que depois do confisco de seus pertences, foram submetidos a interrogatórios, sendo privados de água, alimentação e de utilizar o banheiro. O relatório descreve que alguns reféns foram agredidos com barras de ferro e mordidas de cachorro.

Além da tortura física, os reféns só dormiam durante 5 horas, sob ventiladores que diminuíam ainda mais a temperatura do ambiente em meio ao frio do inverno.

“Vi pessoas [presas] com mais de 70 anos, muito velhas. Lá eram pessoas com Alzheimer, idosos cegos, pessoas com deficiência que não conseguiam andar, pessoas que tinham estilhaços nas costas e não conseguiam ficar de pé, gente com epilepsia… e a tortura era para todos. Nós dissemos a eles que alguém era cego. Eles não se importaram”, conta um homem de 46 anos.

As denúncias incluem agressões físicas, abusos sexuais e a ausência de assistência legal e jurídica. A idade dos presos varia entre 6 e 82 anos, registram. Estimativas da própria UNRWA, já divulgadas, afirmam que 4 mil pessoas foram presas em Gaza e levadas para prisões israelenses, sendo que algumas delas morreram no cárcere.

AGRESSÃO SEXUAL E PSICOLÓGICA

 “Pediram aos soldados que cuspissem em mim, dizendo ‘ela é uma vadia, ela é de Gaza.’ Um soldado tirou nossos hijabs e eles nos beliscaram e tocaram nossos corpos, incluindo nossos seios. Fomos vendadas e sentíamos eles nos tocando, empurrando nossas cabeças para atrás”, relatou uma mulher palestina de 34 anos.

Segundo o relatório, os detidos contaram que foram forçados a se despir na frente de soldados, que os fotografaram nus. As agressões coordenadas pelas forças israelenses deixaram grande parte dos reféns doentes ou feridos. A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino foi acionada para transportar os enfermos para hospitais locais.

A UNRWA foi fundada há 75 anos para ajudar os refugiados palestinos da guerra de 1948 e atualmente oferece assistência a mais de 6 milhões de pessoas e fez protestos contra as autoridades de Israel, que não foram respondidos por nenhuma instituição do país.

CRIANÇAS PEQUENAS MORREM DE DESNUTRIÇÃO

O comissário geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, afirmou em discurso ao Conselho de Segurança da ONU, na quarta-feira (17), que crianças pequenas e recém-nascidos estão morrendo de desnutrição e desidratação no norte de Gaza.

“Do outro lado da fronteira há comida e água limpa, mas é negada permissão para fornecer essas ajudas e salvar vidas humanas”, assinalou.

“As crianças estão carregando o peso desta guerra. Mais de 17 mil menores estão separados de suas famílias, deixados sozinhos para enfrentar os horrores de Gaza. Devemos nos recusar a escolher entre mostrar empatia pelos palestinos ou pelos israelenses, e compaixão pelos habitantes de Gaza ou pelos reféns israelenses e suas famílias”, ponderou.

Em meio a perdas de repasses de países ocidentais devido às acusações de Israel sobre a presença de colaboradores do Hamas em seu quadro de funcionários, o comissário afirmou que há uma “campanha insidiosa” para encerrar as operações da UNRWA.

Ele pediu “uma investigação independente e responsabilidade pelo flagrante desrespeito ao status protegido dos trabalhadores humanitários nos termos do direito internacional”.

TORTURADOS PARA ADMITIR RELAÇÕES COM O HAMAS

Segundo denuncia no relatório a UNRWA, muitos foram pressionados sob tortura, inclusive funcionários da entidade, a admitirem relação com o Hamas e ainda que participaram do ataque de 7 de outubro.

Entre os abusos descritos, figura ainda a “tortura similar ao ‘waterboarding’ (sufoco com água, usado pelos sequestrados levados à prisão de Guántanamo) e mais ameaças.

Segundo a UNRWA, foram entrevistados, entre os detidos e liberados sem qualquer procedimento jurídico, 43 menores e 84 mulheres.

A UNRWA além de ser a principal fonte de mantimentos gratuitos aos refugiados, também tem sido uma das principais denunciantes fornecendo detalhes da agressão israelense aos palestinos de Gaza.

Foi para abafar estas denúncias e suprimir alimentos aos de Gaza que os invasores desencadearam uma cruzada contra a UNRWA que acabou tendo parte importante de seu financiamento cortado por governos que apoiam a agência. Os Estados Unidos foi o primeiro a usar estas alegações com a finalidade de cortar recursos da UNRWA.

AUMENTA NÚMERO DE MORTOS, FERIDOS E PRESOS

O número de mortos após mais de seis meses de guerra na Faixa de Gaza atingiu 33.970. Foram feridos 76.770, segundo levantamento desta quinta-feira (18), segundo dados das autoridades da Saúde em Gaza. “A ocupação israelense cometeu sete massacres contra famílias, causando 71 mortos e 106 feridos nas últimas 24 horas”, detalharam em comunicado, no qual recordam que “numerosas vítimas” permanecem sob os escombros.

O número de palestinos capturados pelas forças de ocupação depois de 7 de Outubro é de aproximadamente 8.310, e este total inclui aqueles que foram detidos nas suas casas, em postos de controle militares, registrou na quinta-feira (18) a Agência Wafa.

Fonte: Papiro