Acusações de Maduro apontam risco de “ingerência extrarregional” na Guiana
Maduro acusa Guiana de dar carta branca para instalação de bases americanas na Amazônia
Na quarta-feira (3), o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, fez sérias acusações ao afirmar que os Estados Unidos instalaram “bases militares secretas” em Essequibo, região disputada entre Venezuela e Guiana, rica em petróleo. Em meio a essas declarações controversas, especialistas como Pedro Silva Barros, pesquisador do Ipea e ex-diretor de assuntos econômicos da União de Nações Sul-Americanas (Unasul), expressaram preocupações e destacaram a importância da integração regional para dissuadir qualquer interferência extrarregional na América do Sul.
Maduro afirmou ter “informações comprovadas” sobre a presença dessas bases secretas, que estariam sendo utilizadas para preparar agressões contra populações tanto na Venezuela quanto em regiões do sul e do oriente do país. Essa denúncia surge em meio a uma longa disputa territorial entre Venezuela e Guiana, que se intensificou com a descoberta de reservas petrolíferas na área pela ExxonMobil em 2015.
Para Barros, “a presença ingerencista extrarregional na Guiana representa um risco eminente, que deve ser monitorado de perto pelo Brasil e outros países da região”. “A dissuasão de qualquer presença extrarregional ingerencista na América do Sul se dará pela integração regional, inclusive em defesa, e pela associação de nosso desenvolvimento aos nossos vizinhos; não pelo isolamento de qualquer um deles”, disse ele, sobre o importante papel do Brasil neste processo de mediação.
Ele mencionou especificamente a importância da pavimentação completa da estrada entre Boa Vista e Georgetown, especialmente o trecho entre Lethem, na fronteira com o Brasil, e Linden, incluindo a ponte sobre o rio Essequibo. Essa infraestrutura, segundo ele, fortaleceria os laços entre os países da região e contribuiria para a segurança e estabilidade na área.
Barros também destacou a importância do Conselho de Defesa Sul-Americano da Unasul, que, segundo ele, seria o espaço mais adequado para aumentar a confiança e transparência entre os países da região e resolver diferenças de forma diplomática e cooperativa. Este organismo faz falta desde que a Unasul foi desmontada por governos de extrema-direita.
Diante das tensões crescentes e das acusações mútuas entre Venezuela, Guiana e Estados Unidos, as análises de Pedro Silva Barros ressaltam a urgência de uma abordagem regional unificada para lidar com questões de segurança e defesa. A integração regional e a cooperação entre os países sul-americanos emergem como elementos-chave para garantir a estabilidade e a soberania na região.
Venezuela x Guiana
Em resposta às acusações, o presidente Maduro promulgou uma Lei Orgânica para a Defesa da Guiana Essequiba, reforçando a soberania venezuelana sobre o território em questão. Essa medida, no entanto, gerou preocupações adicionais, especialmente após a Guiana expressar sua “grave preocupação” com a violação de sua soberania.
Diante das tensões crescentes e das acusações mútuas entre Venezuela, Guiana e Estados Unidos, a situação na região permanece delicada. A análise de especialistas como Pedro Silva Barros destaca a necessidade urgente de diálogo e cooperação regional para evitar um agravamento da crise e promover a estabilidade na América do Sul.
(por Cezar Xavier)