A Ucrânia “tornou-se um Estado abertamente terrorista”, afirma Lavrov
O envolvimento do regime de Kiev no ataque terrorista de 22 de março na casa de shows Crocus, nos arredores de Moscou, que matou 145 pessoas e feriu mais de 500, “já é evidente”, afirmou o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov.
“O rastro ucraniano” – ele acrescentou – não é apenas visível naquele ataque, mas também “em muitos outros” que foram perpetrados na Rússia.
“Agora é evidente que é disso que se fala no decorrer dos relatórios sobre a forma como a investigação está progredindo, que há um rastro ucraniano. Além disso, ninguém duvida da participação da Ucrânia em muitos outros atos terroristas em território russo”, destacou Lavrov, ao se reunir com embaixadores de outros países em Moscou na quinta-feira (4).
Outros atos terroristas perpetrados pelo regime de Kiev foram enumerados pelo chanceler russo: os assassinatos da jornalista Daria Dugina e do correspondente de guerra Vladlen Tatarski [em atentados a bomba], a tentativa de homicídio do romancista e ativista político Zakhar Prilepin e a explosão da ponte da Crimeia que deixou cinco mortos, entre outros atentados.
“Atualmente a Ucrânia tornou-se um Estado abertamente terrorista. Há 10 anos que aterroriza os cidadãos do seu país e para além das suas fronteiras”, afirmou o chefe da diplomacia russa.
Lavrov agradeceu aos embaixadores de outros países pela sua solidariedade com os cidadãos russos após o ataque à casa de shows. “Isto simboliza mais uma vez a nossa unidade e determinação em combater o terrorismo em qualquer uma das suas manifestações, sem concessões ou duplos padrões, com base no fato de o terrorismo não ter nacionalidade nem religião: é um mal global”.
Na véspera, em um evento em Astana, capital do Cazaquistão, a 19ª reunião anual dos chefes dos conselhos de segurança da Organização para Cooperação de Xangai (OCX), o secretário do Conselho de Segurança russo, Nikolai Patrushev, apontou que as pistas do ataque terrorista à casa de shows nos arredores de Moscou conduzem aos serviços especiais do regime de Kiev que, por sua vez, são controlados por Washington.
“O rastro leva aos serviços especiais ucranianos”, ele sublinhou, após salientar que “identificar o mandante e patrocinador do crime monstruoso é o mais importante”.
“É sabido que o regime de Kiev não é independente e é totalmente controlado pelos EUA”, ele observou, comentando o frenesi com que Washington tenta abafar a discussão sobre o possível envolvimento ucraniano no ataque terrorista à casa de shows, insistindo em atribui-lo exclusivamente a uma facção do Estado Islâmico (ISIS).
A ponto de o conselheiro de comunicações de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, ter dito na semana passada que qualquer sugestão russa em contrário é “absurda e propaganda”.
“Também devemos levar em conta que o ISIS, a Al-Qaeda e outras organizações terroristas foram criadas por Washington”, acrescentou Patrushev.
Para a mídia russa, em última instância, ao buscarem exonerar Kiev de qualquer responsabilidade no atentado, Washington está “blindando” a si própria. Nas últimas semanas, a mídia norte-americana vinha dando destaque ao papel da CIA na Ucrânia desde 2014, como tendo recriado o SBU “a partir do zero”.
Como destacara o presidente Putin, Washington não esperou sequer o incêndio ser apagado em Crocus, para alegar que a Ucrânia não tinha nada a ver com o atentado.
Quando que, sob o ângulo de “quem se beneficia”, é óbvio que o regime de Kiev não podia ser descartado liminarmente e agora, profissionalmente e imparcialmente, as forças de segurança e a justiça estão no encalço dos perpetradores, dos facilitadores e dos mentores, como exigiu Putin.
Segundo o presidente russo, o objetivo dos mentores do atentado foi “provocar pânico em nossa sociedade ao mesmo tempo que demonstrando para sua própria gente que nem tudo está perdido para o regime de Kiev. Tudo o que eles precisam é seguir as ordens dos seus amos ocidentais, lutar até o último ucraniano, obedecer aos comandos de Washington, endossar a nova lei de mobilização, e formar algo semelhante a uma nova versão da juventude de Hitler. Para cumprir com tudo isso, eles buscarão novas armas e fundos adicionais, muito do qual será provavelmente desviado e, como é costume na Ucrânia hoje, colocado nos próprios bolsos”.
No evento da OCX, Patrushev disse ainda que “em 7 de março, as embaixadas americana e britânica emitiram pela primeira vez alertas a seus cidadãos sobre o perigo de um ataque terrorista em Moscou nas próximas 48 horas. Foi nesse dia, segundo testemunhas, que os autores do ataque terrorista visitaram Crocus City Hall para avaliar a situação no local”.
Sobre as alegações de Washington sobre os “avisos” transmitidos a Moscou, o reputado jornalista Seymour Hersh, o mesmo que apontou que foi o governo Biden que explodiu os gasodutos Nord Stream, afirmou, após ouvir fontes da inteligência dos EUA, que era uma notificação genérica, em nada semelhante ao alerta dado pela Rússia, que dava os nomes dos terroristas, e que foi ignorado, e resultou no atentado da Maratona de Boston.
Já são 11 os presos pelo massacre na casa de shows próxima a Moscou, entre os pistoleiros, facilitadores e recrutadores, e as investigações prosseguem. Os quatro assassinos, de nacionalidade tajique, fugiram de carro – nada de “martírio jihadista” -, mas acabaram presos quando se dirigiam à Ucrânia, tendo confessado que receberam dinheiro e armas para o atentado.
Na semana passada, o Ministério das Relações Exteriores da Rússia transmitiu à Ucrânia a exigência de que os envolvidos em ataques terroristas em território russo, incluindo o chefe do Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), general Vasyl Malyuk, sejam presos e extraditados para Moscou.
Malyuk se autoincriminou em uma entrevista televisionada no final de março em que se gabou de estar envolvido na organização da explosão da Ponte da Crimeia e revelou detalhes de outros ataques terroristas ucranianos na Rússia.
Ele teve o desplante de dizer que “não vamos admitir isso… mas, ao mesmo tempo, posso oferecer alguns detalhes.” Entre esses, a execução extrajudicial em Moscou, do deputado ucraniano exilado, Ilya Kyva, cujo partido ‘Plataforma de Oposição – Pela Vida’, o maior das regiões de fala russa, fora banido pelo regime neonazista de Kiev.
Em paralelo, o chefe do regime de Kiev demitiu seu secretário de Segurança e Defesa Nacional, Oleksiy Danilov, por ter cometido a indiscrição, logo após o atentado em Crocus, de dizer pela TV ucraniana que “daremos a eles [russos] esse tipo de diversão com mais frequência”.
O comunicado russo enfatizou que o sangrento ato terrorista que ocorreu em 22 de março em Krasnogorsk e chocou o mundo inteiro “está longe de ser o primeiro atentado contra o nosso país nos últimos tempos”. “As ações de investigação levadas a cabo pelas autoridades competentes russas indicam que os vestígios de todos estes crimes levam à Ucrânia”, acrescenta.
Entre as vítimas desses ataques terroristas ucranianos com bombas, a Rússia enumerou os jornalistas Dugina e Tatarsky, o escritor Prilepin e seu motorista Shubin. 42 pessoas ficaram feridas no atentado em um café de São Petersburgo em que foi morto Tatarsky. Cinco pessoas foram mortas na ponte da Crimeia.
Fonte: Papiro