UnB reverte expulsão e diploma Honestino Guimarães, morto pela ditadura
O estudante de Geologia da Universidade de Brasília (UnB), Honestino Guimarães, que desapareceu durante a ditadura militar em 1973, será homenageado com um diploma acadêmico post mortem. Esta ação faz parte de um processo de reparação histórica a Honestino e outras vítimas do regime autoritário instaurado após o golpe de 29 de março de 1964.
Os trâmites para a concessão do diploma acadêmico post mortem a Honestino Guimarães foram discutidos em um encontro com dirigentes da UnB no dia 7 de março. Por sugestão da reitora da UnB, Márcia Abrahão, a entrega do título deve ser feita no aniversário da UnB, em 21 de abril. “É muito importante o envolvimento do instituto também, porque na Universidade precisamos aprovar nos órgãos colegiados. Fico feliz com toda essa mobilização. Vamos fazer isso unidos, a UnB e a sociedade”, defendeu a reitora.
Para o ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior, o diploma para Honestino é um “ato de reparação” em razão do dano ao projeto de vida. “Eu fiquei bastante tocado com a notícia da USP e de saber do movimento de amigos, familiares e da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB”, disse José Geraldo, ao citar a concessão de diplomas de graduação post mortem para estudantes da Universidade de São Paulo (USP) mortos pela ditadura militar.
Estiveram com a reitora Márcia Abrahão para conversar sobre a proposta, familiares e amigas de Honestino Guimarães, produtores do filme sobre a vida do estudante desaparecido, membros da administração superior, o ex-presidente da ADUnB professor Jacques de Novion, o diretor do IG, Welitom Borges, e o ex-reitor José Geraldo de Sousa Junior. Foto: André Gomes/Secom UnB
O diretor do Instituto de Geociências (IG), Welitom Borges, explicou que a proposta de concessão de diploma passará pelo conselho de sua unidade. “Honestino foi o primeiro colocado do primeiro vestibular para Geologia. Para nós, é uma alegria nos unirmos a esse ato e integrar o grupo. Vou levar ao conselho o quanto antes. Já solicitamos o histórico de Honestino no ano passado”, justificou.
Paixão de Honestino
A professora Beth Almeida, contemporânea de Honestino, recorda que o processo de expulsão do estudante da UnB em 1968 foi fraudulento e injusto. “Faltavam 11 créditos para ele completar o número necessário para concluir o seu curso. Portanto, a concessão do diploma de biólogo, postumamente, será um ato de memória, verdade, justiça e reparação para Honestino”, descreveu Beth, que estudou na UnB de 1967 a 1968 e depois concluiu o curso de licenciatura em Química na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
“Honestino era um bom aluno. Ele passou em primeiro lugar no vestibular da UnB em 1965, mas colocou seu projeto de lutar contra a ditadura militar no Brasil e pelo socialismo democrático acima de seus projetos pessoais”, contou Beth. Ela também celebra o fato de que a expulsão de Honestino da UnB está sendo revertida.
Betty Almeida é autora do livro “Paixão de Honestino”, um relato histórico sobre a trajetória violentamente interrompida quando o estudante foi sequestrado, torturado e morto. Segundo a autora, o livro aborda as circunstâncias da morte do estudante a partir da luta histórica e resistência dessa vítima da ditadura militar. “Sua memória está viva em todos nós que convivemos com ele e nas pessoas que também conhecem a história dele, que foi uma história de grande luta e empenho pessoal na causa da democracia e do socialismo democrático no Brasil”, acrescentou Beth.
Honestino Guimarães, nascido em 28 de março de 1947, em Itaberaí (GO), foi aprovado em primeiro lugar no vestibular para Geologia da UnB em 1965. Em 1968, foi eleito presidente da Federação dos Estudantes da UnB e posteriormente foi preso e expulso da universidade. Vivendo na clandestinidade entre 1968 e 1973, Honestino foi sequestrado aos 26 anos e nunca mais foi visto. Sua morte foi confirmada publicamente em 1996, mas seu corpo nunca foi encontrado.
Por Cezar Xavier