Três desafios para Boulos vencer em São Paulo
A quase sete meses para as eleições municipais de 2024, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) está à frente em todas as pesquisas de intenção de voto para a Prefeitura de São Paulo. Na última delas, o levantamento RealTime/Big Data, divulgado nesta segunda-feira (5), Boulos aparece com 34% das intenções de votos no cenário mais provável de disputa.
Ele é seguido pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), que tentará a reeleição partindo de um patamar de 29%. Como a margem de erro da pesquisa é de três pontos percentuais, há um empate técnico entre os dois pré-candidatos. O cenário se repete num eventual segundo turno, com ligeira vantagem numérica para Nunes – 40% a 38%.
É a segunda eleição seguida de Boulos ao governo paulistano. Em 2020, sua candidatura surpreendeu e foi ao segundo turno, mesmo enfrentando adversários com mais tradição eleitoral e mais tempo de horário eleitoral na TV. Nenhum partido com representação no Congresso Nacional o apoiava. Ainda assim, na luta para ver quem seria o oponente de Bruno Covas no turno derradeiro, Boulos teve 20,24% dos votos válidos.
Seu patamar atual, de quase 40% dos votos válidos no primeiro turno, quase o dobro do patamar de quatro anos atrás, é um trunfo importante. A dianteira expressiva inibiu alternativas à esquerda e sacramentou uma composição que já conta com seis partidos – PSOL, Rede, PCdoB, PT, PV e PDT. Outro apoio significativo é o do presidente Lula, que, em 2022, foi o mais votado em São Paulo na eleição presidencial, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
De outro lado, tentando esconder uma gestão pífia, sem marcas, Ricardo Nunes aposta numa chapa antiesquerda, vinculada ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O prefeito já deixou claro que fará uma campanha do medo – chamar Boulos de “amigo do Hamas” é uma das apelações já em curso. O orçamento municipal recorde, de R$ 118 bilhões, pode atrair apoio de partidos, políticos e cabos eleitorais.
Mas Nunes também pode desidratar não apenas pelo primarismo – mas também pela rejeição elevada a seu governo e pela adesão ao bolsonarismo. A população de São Paulo está dividida – 46% reprovam a gestão e 43% aprovam. Da mesma maneira, para 49%, a imagem de Bolsonaro é negativa em meio às eleições.
Numa eleição equilibrada, a pré-campanha pode fazer a diferença a favor de um ou outro candidato. Com base nos números da pesquisa RealTime/Big Data, três desafios se impõem a Boulos.
1) Reduzir a rejeição
Segundo a pesquisa, 46% dos eleitores paulistanos dizem que não votariam de jeito nenhum no pré-candidato do PSOL. De onde vem essa resistência elevada? Boulos não está envolvido diretamente em pautas negativas – como escândalos de corrupção –, nem teve experiências políticas efetivamente questionáveis. Mas encarna a esquerda e a base de Lula na disputa – o que lhe impõe o custo da polarização. Ainda assim, é fundamental que Boulos identifique os principais focos de questionamento à sua candidatura, apresente propostas para as demandas mais concretas da população e reduza esses índices de rejeição. Um ponto de partida é tentar desfazer estereótipos e preconceitos negativos a seu respeito. Com contundência, criatividade e até humor, esse desafio não é dos mais difíceis.
2) Lutar pelo voto de opinião
Seja de direita, seja de esquerda, o candidato a prefeito precisa apontar diagnósticos e rumos para São Paulo. Boulos tem a vantagem de conhecer a periferia e representar melhor a busca por justiça social – o combate às desigualdades. Mas milhões de eleitores em São Paulo são de classe média, têm interesses e formam opinião. Ignorar esse segmento é entregar a vitória ao adversário. Boulos tem demonstrado preocupação em construir um programa de governo mais completo e abrangente. Sabendo, por exemplo, que 27% dos paulistanos consideram a crise de segurança como o principal problema na cidade, o pré-candidato tem estudado políticas públicas na área.
3) Ampliar os apoios
A esquerda, por tradição, amealha de um quarto a um terço dos votos válidos em São Paulo já no primeiro turno. Ao atrair para a chapa a ex-prefeita Marta Suplicy, na condição de sua vice, e firmar o apoio dos principais partidos de esquerda e centro-esquerda, Boulos praticamente consolidou o apoio desse espectro à sua candidatura. A missão de sua campanha, agora, é atrair a adesão de quem não se declara necessariamente à esquerda, mas desaprova gestão Ricardo Nunes ou tem restrições ao bolsonarismo. É o caso de Alexandre Giordano (MDB-SP), que foi eleito como suplente do senador Major Olímpio (PSL), mas assumiu o cargo após a morte do titular por Covid, em 2021. De vereadores a deputados, passando por lideranças sociais e religiosas a empresários, Boulos deve ampliar seu leque de apoio.