Foto: José Paulo Lacerda/CNI

As mulheres trabalham mais, estudam mais, porém, seguem tendo menos participação no mercado de trabalho e recebendo menos que os homens no Brasil.

A desigualdade é ainda mais grave quando se trata das mulheres negras e pardas, é o que aponta a 3ª edição de “Estatísticas de Gênero”, Indicadores sociais das mulheres no Brasil, apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), iniciada um 2012. O estudo foi divulgado nesta sexta-feira, dia 8, Dia Internacional da Mulher.

Em 2022, o rendimento das mulheres (R$ 2.303, em média) correspondeu a 78,9% do equivalente recebido por homens (R$ 2.920). No início da série histórica, em 2012, a diferença era estimada em 73,5%.

“A maior diferença no rendimento, em 2022, estava no grupo de profissionais das ciências e intelectuais: elas receberam o equivalente a 63,3% da média dos homens”, apontou o IBGE.

Também de acordo com o estudo, enquanto a taxa de participação das mulheres no mercado de trabalho foi de 53,3% em 2022, a dos homens ficou em 73,2%. No ano, entre as mulheres de 15 a 24 anos, 23,0% não estavam ocupadas, não estudavam e não estavam em treinamento (26,6% entre pretas ou pardas), enquanto entre os homens na mesma faixa etária esse percentual foi de 14,6%.

“A maior dedicação às atividades de cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos acaba por restringir uma participação mais ampla das mulheres no mercado de trabalho”, explica o IBGE.

As mulheres dedicam quase o dobro do tempo a cuidados dos filhos, dos familiares idosos e dos afazeres domésticos, 9,6 horas semanais, em média, que os homens. Em 2022, foram 21,3 horas por semana para elas contra 11,7 horas para eles.

Entre 2012 até 2019, a taxa de participação das mulheres mostrou crescimento contínuo, mas acabou “caindo em 2020 em razão dos efeitos da pandemia de COVID-19 e tornando a crescer, em 2022, atingindo 53,3% mantendo-se, contudo, em patamares estruturalmente inferiores às taxas verificadas para os homens. As mulheres estavam mais ocupadas no setor de Serviços: 85,2% contra 60,4% dos homens. Importante ressaltar que o número médio de horas dedicadas aos cuidados de pessoas e/ou afazeres domésticos pouco se alterou quando se considera apenas os homens ocupados no mercado de trabalho”, observou o instituto de pesquisa.

Considerando ambas as jornadas de trabalho, em ocupação no mercado de trabalho e no doméstico não remunerado, a carga horária total semanal de trabalho das mulheres foi de 54,4 horas e, para homens, 52,1 horas no mesmo ano.

O IBGE constata também que, mesmo para as mulheres que se encontram ocupadas no mercado de trabalho, a necessidade de conciliação da dupla jornada de trabalho as leva a tomadas de decisão que impactam sua inserção ocupacional.

Além dos afares domésticos que recaem principalmente sobre as mulheres, e os cuidados com os filhos, o poder público e empresas privadas não garantem às mulheres o acesso à creches, dificultando ainda mais o acesso ao mercado de trabalho.

Em 2022, 28,0% das mulheres estavam ocupadas em tempo parcial (de até 30 horas semanais), quase o dobro que os homens (14,4%). Por outro lado, a parcela das mulheres pretas ou pardas exerciam mais o trabalho parcial (30,9%) em comparação com as brancas (24,9%).

Na proporção de pessoas ocupadas em trabalhos informais, no ano de 2022, a informalidade foi maior para as mulheres (39,6%) quando comparada aos homens (37,3%). No trabalho informal, a grande maioria obtém sua subsistência de atividades de trabalho sem carteira assinada, vivem dos famosos “bicos” com jornada de trabalho excessiva e renda miserável.

“Enquanto indicador de qualidade da ocupação, a desagregação por cor ou raça reflete desigualdades históricas no mercado de trabalho e mulheres e homens pretos ou pardos apresentaram as maiores proporções de ocupados informalmente em relação à população branca”, ressaltou o instituto de pesquisa.

Em termos de taxas de desocupação, o estudo aponta que as mulheres apresentam, historicamente, taxas mais elevadas que homens. Em 2022, a taxa foi de 11,8% para as mulheres e 7,9% para os homens. Sendo 14% para as pretas ou pardas e 9,2% para brancas.

O IBGE também apontou que 32,3% das mulheres do país ou uma em cada três mulheres estavam abaixo da linha de pobreza, ou seja, com renda domiciliar per capita de até U$ 6,85 por dia (o equivalente a R$ 33,8), conforme os critérios do Banco Mundial. Nessa situação,  41,3% das mulheres pretas ou pardas contra 21,3% das mulheres brancas.

No quesito escolarização, em 2022, a proporção de pessoas com nível superior completo foi de 21,3% entre as mulheres e 16,8% entre os homens. Naquele ano, 35,5% dos homens (entre 25 anos ou mais de idade) não tinham instrução ou possuíam apenas o fundamental incompleto. Já entre as mulheres, a proporção ficou em 32,7%.

No caso do ensino médio completo e ensino superior incompleto, 32,6% entre as mulheres contra 34,7% para os homens. Já para o ensino fundamental completo e ensino médio incompleto, ficou 12,1% entre as mulheres e 13,6% entre os homens.

Por “cor ou raça no nível de instrução, o percentual de homens brancos com ensino superior era 2,4 vezes maior do que o dos homens pretos ou pardos, enquanto o percentual de mulheres brancas com ensino superior era quase o dobro daquele alcançado pelas mulheres pretas ou pardas”, também ressaltou o IBGE.

Fonte: Página 8