"TV Pública, seu canal principal": alvo de perseguições e desmontes do governo Milei | Foto: Divulgação

“Entre lágrimas e emoção”, o programa Cozinheiros Argentinos, o mais visto da TV Pública do país vizinho, foi exibido pela última vez nesta quarta-feira (27), colocando fim a mais de 15 anos ininterruptos de sucesso e reconhecimento como também o de melhor audiência.

A medida do governo de Javier Milei acelera o esvaziamento da TV Pública, que a partir de abril substituirá a programação ao vivo, informativa, cultural e crítica, reduzindo o canal estatal à mero repetidor de conteúdos enlatados e embrutecedores.

“Durante outras etapas políticas, com gestões correspondentes a diferentes governos, tivemos divergências, críticas e até reclamações públicas, que podem ser facilmente acessadas na internet. Em nenhum caso houve um nível de censura tão grotesco como este atual”, denunciaram os trabalhadores do canal, frisando que entre o apagão informativo encontra-se a suspensão dos noticiários diários da primeira manhã e da meia-noite, assim como todos os do fim de semana.

Entre os exemplos do obscurantismo que passou a ser executado pela gestão de devastação, revelaram os trabalhadores, “está a transmissão da abertura das sessões do dia 1º de março em rede nacional, onde apareceram tão somente deputados e senadores pró-governo, numa tentativa de tapar o sol com a peneira já que o partido de Milei tem uma minoria notável no parlamento”.

Quanto ao Cozinheiros Argentinos, revelou o apresentador e chef Juan Braceli, “não existiria um programa como esse se não existisse a mídia pública e é importante dizer isso”.

“Se não houver mídia pública, ninguém aposta em um programa federal e em ir para a esquina da Argentina, onde você pode mostrar a vida do povo, suas idiossincrasias, suas histórias, tristezas e alegrias”, acrescentou.

No momento de despedida, Braceli revelou um “imenso amor por todos os que passaram por Cozinheiros Argentinos, pelos que trabalharam, participaram e nos abriram as portas de suas casas e de seus corações. Muito obrigado por nos apoiar durante todo esse tempo. Você sabe por que estamos aqui e por que o país inteiro está apertado neste momento? Até sempre, obrigado”, encerrou.

MILEI TIRA DO AR MÃES DA PRAÇA DE MAIO

O programa da Associação das Mães da Praça de Maio já havia sido retirado do ar no final de fevereiro. A entidade qualificou a decisão de “injusta e intempestiva do governo negacionista de Milei, pois é uma postura que priva os espectadores de todo o país de um ciclo que leva 16 anos ininterruptos na tela”.

Apesar do atropelo, a organização não se diz “surpresa pela medida”, pois se vê frente a “um governo que manifestou sua intenção de destruir os meios públicos”. Por outro lado, advertiu, o autoritarismo desde já “sabe que tem nas Mães da Praça de Maio uma organização disposta a lutar com todas suas forças para impedi-lo”.

Em comunicado à sociedade, reiteraram que, “juntamente com a luta do nosso povo, construiremos as condições políticas para recuperar esse espaço televisivo”. “Esse espaço que nos ultrapassa: faz parte de uma forma de luta e comunicação que já fez escola, deixou a sua marca e mais cedo ou mais tarde prevalecerá. Como a luta dos nossos filhos”, concluem.

Fonte: Papiro