Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, contou para a Polícia Federal sobre cinco reuniões para discutir a estratégia do golpe de Estado realizadas entre Jair Bolsonaro, membros do antigo governo e militares.

Na segunda-feira (11), Cid prestou novo depoimento por mais de 8h acrescentando e esclarecendo pontos de seu depoimento de um colaboração premiada sobre os planos golpista do ex-presidente Bolsonaro.

As informações são da colunista Bela Megale, de O Globo.

Mauro Cid contou que Jair Bolsonaro recebeu pessoalmente, em uma reunião com seu assessor Filipe Martins e com o advogado Amauri Feres Saad, a minuta de um decreto que instalaria uma ditadura no país. Reforçou que o ex-presidente pediu que fossem feitas alterações no decreto.

Em seguida, tendo recebido o documento alterado, Jair Bolsonaro chamou os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica para pedir apoio para o golpe. Mauro Cid disse que soube da reunião, ocorrida no dia 7 de dezembro, mas não esteve presente.

Cid contou, ainda, detalhes da reunião convocada por Jair Bolsonaro no dia 5 de julho de 2022, na qual orientou seus ministros a usarem suas pastas para atacar as urnas eletrônicas e mentir sobre o processo eleitoral.

No encontro, Jair Bolsonaro falou que “a gente vai ter que fazer alguma coisa antes” das eleições, para as quais já previa um resultado desfavorável.

Mauro Cid falou que foi orientado por Jair Bolsonaro a tomar conta dos equipamentos e fazer a gravação de toda a reunião. Analisando a filmagem, a Polícia Federal identificou uma “dinâmica golpista”.

O ex-ajudante de ordens ainda relatou que, no dia 12 de dezembro de 2022, participou pessoalmente de uma reunião com o major Rafael Martins e outros militares para discutir a estratégia golpista que seria colocada em prática.

Martins foi preso pela Polícia Federal nas operações que miram o grupo que atacou a democracia.

Depois da reunião, Rafael Martins pediu para Mauro Cid um pagamento de R$ 100 mil para levar bolsonaristas para Brasília para participarem de atos golpistas.

Outra reunião citada por Mauro Cid ocorreu no dia 28 de dezembro de 2022, em Brasília, e foi convocada pelo coronel Romão Correia Neto, que era assistente do Comando Militar do Sul.

O golpe era o tema único do encontro, que contou com a presença de oficiais formados nas Forças Especiais e assistentes de generais que seriam favoráveis à intentona.

A Polícia Federal encontrou no celular de Mauro Cid mensagens comprovando que foi o coronel Correia Neto quem escolheu os participantes da reunião.

Ainda no depoimento, o tenente-coronel Mauro Cid afirmou ter sido o elo entre Jair Bolsonaro e a cúpula do Exército, entre eles o ex-comandante, general Freire Gomes, no pedido do governo por apoio para o golpe.

Mauro Cid tinha “prestígio” entre os militares por ser filho do general Mauro Lourena Cid.

O ajudante de ordens conversava com Freire Gomes, que queria saber quem eram os que pediam para Jair Bolsonaro dar um golpe. O então comandante do Exército também buscava entender se Bolsonaro realmente estava disposto a atacar a democracia.

No dia 9 de dezembro, dois dias depois de Bolsonaro consultar os chefes das Forças Armadas sobre o golpe, Mauro Cid enviou para Freire Gomes um áudio para atualizá-lo.

“Boa tarde, general. Só para atualizar o senhor que vem acontecendo e o seguinte. O presidente tem recebido várias pressões para tomar uma medida mais, mais pesada onde ele vai, obviamente, utilizando as forças, né (…) A pressão que ele tem recebido é muito grande. (…) Ele enxugou o decreto, né? Aqueles considerandos que o senhor viu e enxugou o decreto, fez um decreto muito mais resumido”, disse o ajudante de ordens.

Fonte: Página 8