Bombardeios de Netanyahu já destroem prédios também em Rafah | Foto: AFP

Em uma medida significativa do crescente isolamento de Israel, inclusive entre países que até aqui vinham sustentando quase incondicionalmente o genocídio em Gaza, o governo do Canadá anunciou que irá suspender as exportações de armas para Israel, após o parlamento ter aprovado, na segunda-feira, uma moção instando o primeiro-ministro Justin Trudeau a fazê-lo.

Embora o volume dessas exportações nos últimos três meses tenha sido bem pequeno, US$ 28,5 milhões, a suspensão em si do envio de armas ao governo investigado pela Corte Internacional de Justiça por genocídio contra os palestinos, pelo Canadá, país que integra o G7, é importante por significar um aumento do isolamento político do regime israelense.

Também sinaliza deslocamentos de peso, como a recente acusação, pelo chanceler europeu, Josep Borrell, de que Israel “usa a fome como arma” e tornou Gaza “em um cemitério a céu aberto”.

Registre-se também que, ainda outro dia, o governo Trudeau andava aplaudindo um colaboracionista hitlerista ucraniano, no afã de endossar Zelensky, e servindo de biombo para a perseguição dos EUA à Huawei.

Logo após a votação, a ministra canadense das Relações Exteriores, Mélanie Joly, disse ao Toronto Star que o governo pararia de exportar armas para Israel de acordo com a demanda da moção.

Comparativamente à mesada de anual dos EUA à Israel, de US$ 3,3 bilhões, é muito pouco ou, ainda, em relação aos US$ 10 bilhões daquele pacote de outubro de US$ 100 bilhões para as “guerras eternas” anunciado por Biden, mas que empacou no Congresso.

Juristas inclusive advertiram Biden que ele estava se arriscando a ser futuramente considerado “cúmplice de genocídio”.

“SEM BRECHAS”, EXORTAM PACIFISTAS

A decisão de suspensão de envio de armas foi classificada pela organização Canadenses pela Justiça e Paz no Oriente Médio como “muito importante”, instando o governo Trudeau a não deixar entreaberta “qualquer brecha” que seja para exportação militar para Israel, “ponto final”.

Dez dias antes, o Canadá havia voltado atrás no corte do financiamento à agência da ONU para os Refugiados Palestinos, adotado no final de janeiro, depois de Israel fabricar a acusação contra a UNRWA de que 12 entre 13 mil funcionários da ajuda humanitária teriam supostamente envolvimento com o ataque do Hamas.

O que naquele momento serviu de pretexto para a Casa Branca encabeçar o corte do financiamento da assistência aos palestinos famintos e desalojados, chantageando a resistência palestina e os países árabes e agravando a chegada da fome em massa que está sendo noticiada agora, além de tentar obscurecer a aceitação, pela Corte Internacional de Justiça da ONU, de investigação contra Israel por genocídio em Gaza.

Na realidade, o que se apreende agora é que, como parte dos planos de genocídio e limpeza étnica, a extinção da agência de assistência aos palestinos, criada em 1949 pela Assembleia Geral da ONU no ano seguinte da Nakba, entrou para a ordem do dia de Netanyahu, sob a cínica alegação de que “perpetua a questão palestina”.

23 MILHÕES DE TONELADAS DE ESCOMBROS

Graças às bombas e armas fornecidas pelos EUA principalmente, mas também por outros como a Grã Bretanha e Alemanha, em cinco meses as tropas israelenses já mataram ou feriram mais de 100 mil palestinos e transformaram casas, escolas, clínicas, padarias, instalações de infraestrutura e prédios governamentais em 23 milhões de toneladas de escombros.

Em novo memorando dirigido ao governo Biden, a Oxfam e a Human Rights Watch advertiram que as forças israelenses lançam “rotineiramente” “bombas de 2.000 libras em áreas densamente povoadas em Gaza”.

“De acordo com o The Washington Post”, segundo o memorando, “as forças israelenses lançaram mais de 22.000 munições de origem americana em Gaza nos primeiros 45 dias das hostilidades”. Washington teriam transferido pelo menos 5.000 ‘bombas’ de 2.000 libras para Israel desde 7 de outubro.

Recentemente, sem deixar de enviar mais e mais armas, Biden passou a dizer que Netanyahu “atrapalha mais que ajuda” Israel e até prometeu instalar um cais em Gaza para “ajuda humanitária”.

“NEM UM NÍQUEL A MAIS”

O anúncio repercutiu no vizinho Estados Unidos, com o senador e ex-pré-candidato a presidente nas eleições de 2016, Bernie Sanders, chamando Biden a seguir o exemplo do Canadá e considerando a votação no parlamento canadense como “absolutamente certa”.

“Dada a catástrofe humanitária em Gaza, incluindo a fome generalizada e crescente, os EUA não devem fornecer mais um níquel para a máquina de guerra de Netanyahu”, disse o senador.

Sanders, que inicialmente havia aderido ao suposto “direito de defesa” de Israel em Gaza, reconsiderou essa posição após ser questionado pelo respeitado intelectual judeu-americano Norman Finkelstein, filho de sobreviventes do Holocausto, e por organizações da comunidade judaica contrárias ao morticínio em massa dos palestinos em curso, perpetrado pelo regime israelense.

“PIADA”

O que Israel faz com essas armas e bombas fornecidas por Washington vem sendo transmitido ao vivo nas redes sociais e choca o mundo.

Na semana passada, no que foi chamado de “piada doentia”, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Galant, deu à Casa Branca, que aceitou, garantia por escrito de que “Israel usará armas dos EUA de acordo com o direito internacional e permitirá a entrada de ajuda humanitária apoiada pelos EUA em Gaza”.

Fonte: Papiro