Conselho de Segurança da ONU exige cessar-fogo na Faixa de Gaza. EUA foi a única abstenção | Foto: AFP

O Conselho de Segurança da ONU aprovou nesta segunda-feira (25) uma resolução pedindo um “cessar-fogo imediato” em Gaza pelo restante do mês sagrado muçulmano do Ramadã – duas semanas -, depois que os Estados Unidos se abstiveram da votação, deixando de vetá-la, como vinha fazendo sistematicamente há quase seis meses, em meio ao massacre em Gaza.

A resolução 2728, que foi apoiada por 14 países, exceto os Estados Unidos, também pede “o levantamento de todas as barreiras à prestação de assistência humanitária em escala” e a libertação de todos os cativos.

A reunião começou com os membros cumprindo um minuto de silêncio pelas vítimas do ataque terrorista à Rússia na sexta-feira.

A proposta de resolução foi elaborada pelos dez países membros não permanentes do CS da ONU – Argélia, Guiana, Equador, Japão, Malta, Moçambique, Serra Leoa, Eslovênia, Coreia do Sul e Suíça -, e foi apresentada pelo embaixador de Moçambique.

Rússia e China, ao vetarem na sexta-feira o “falso pedido” dos EUA, já haviam manifestado seu apoio à proposta. Dos membros permanentes do CS, votaram favoravelmente ao cessar-fogo Rússia, China, Reino Unido e França.

“Expressamos nosso profundo apreço a todos os membros deste conselho por seus esforços e contribuições neste projeto de resolução e no fim da situação catastrófica na Faixa de Gaza”, disse o embaixador de Moçambique, Pedro Comissário Afonso, ao apresentar a proposta em nome dos “E10”.

“Essa resolução precisa ser implementada. O fracasso seria imperdoável”, o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, saudando a aprovação, afinal, do cessar-fogo.

A Palestina, em mensagem aos Estados membros do CSNU, pediu que todos “cumpram suas responsabilidades legais para implementar a resolução imediatamente”.

A nota também enfatizou que devem ser intensificados os esforços para alcançar um cessar-fogo “permanente e sustentável que se estenda para além do Ramadã”, e que garanta “a entrada de ajuda, para trabalhar para libertar prisioneiros e evitar a deslocação forçada”

A Palestina acrescentou que o “consenso para pôr termo à agressão contra o povo palestino deve ser acompanhado de medidas práticas e consequências para Israel pôr termo à guerra”.

“O consenso que testemunhamos hoje deve abrir caminho para o pleno reconhecimento dos direitos muito atrasados dos palestinos e a independência do Estado da Palestina”, disse o dirigente do Fatah, Sabri Saidam Saidam, à Al Jazeera.

EUA ENFIM PAROU DE BLOQUEAR O CS, DIZ CHINA

“Depois de repetidos vetos às ações do Conselho, os Estados Unidos finalmente decidiram parar de obstruir as exigências do conselho por um cessar-fogo imediato. Apesar de tudo isso, os EUA ainda tentaram encontrar todos os tipos de desculpas e fizeram acusações contra a China”, afirmou o embaixador Zhang Jun.

“Senhor Presidente, quase seis meses após a eclosão do conflito em Gaza, mais de 32.000 civis inocentes perderam a vida. Para as vidas que já morreram, a resolução do conselho de hoje chega tarde demais, mas para os milhões de pessoas em Gaza que permanecem atoladas em uma catástrofe humanitária sem precedentes, esta resolução, se implementada completa e efetivamente, ainda pode trazer a esperança há muito esperada”, acrescentou.

Ele concluiu, sublinhando que “as resoluções do Conselho de Segurança são vinculativas.”

O embaixador da Argélia, Amar Bendjama, que apresentara a terceira proposta de cessar-fogo vetada por Washington, agradeceu a todos os membros do conselho “por sua flexibilidade e pela maneira construtiva que nos permitiu hoje adotar esta resolução há muito esperada”. Uma resolução – ele acrescentou – que pede “um cessar-fogo imediato na Faixa de Gaza, a fim de pôr fim aos massacres que, infelizmente, ainda estão em andamento ao longo dos cinco meses”. “Esse banho de sangue continuou por demasiado tempo.”

A Rússia chegou a pedir que o termo “permanente” fosse devolvido à proposta de resolução de “cessar-fogo”, como era inicialmente, o que havia sido mudado para obter a abstenção de Washington.

Em troca de não vetar, Washington pediu que o texto não incluísse uma referência a um cessar-fogo “permanente”, mas “duradouro”.

Para o embaixador Vassily Nebenzia, sem a caracterização de “permanente”, Israel voltaria a retomar sua investida em Gaza. No entanto, a proposta russa não passou, repetindo o placar de sexta-feira (3 votos a favor, 1 contra e 11 abstenções).

“O silêncio do Conselho de Segurança sobre Gaza estava se tornando ensurdecedor. Está mais do que na hora de o conselho finalmente contribuir para encontrar uma solução”, disse o representante da França, Nicolas de Riviere. Ele chamou a “estabelecer um cessar-fogo permanente” em Gaza, já que este “termina dentro de duas semanas”.

Outro dos “E10”, a Eslovênia, através do embaixador Samule Zbogar, assinalou que o CSNU “deu o sinal mais forte até agora: exigimos um cessar-fogo imediato para o mês do Ramadã, levando a um cessar-fogo duradouro. É um apelo que todos estamos desesperados para ouvir do conselho”.

ABSTENÇÃO TARDIA

A decisão de Washington de se abster, que ocorre após sucessivas recusas do governo Netanyahu de desistir da invasão terrestre em Rafah, ampliação do roubo de terras na Cisjordânia e ataques a comboios humanitários, marca o que o portal Middle East Eye considerou como “a crítica mais formal dos EUA” ao regime israelense.

Foi para Rafah que as bombas e canhonaços de Israel empurraram 1,5 milhão de palestinos, tangidos de suas casas, que agora estão em destroços.

Anteriormente, os EUA lançaram três vetos contra os pedidos de cessar-fogo. Separadamente, Washington também bloqueou uma emenda que pedia um cessar-fogo que a Rússia havia tentado incluir em uma resolução do Conselho de Segurança em dezembro.

Antes da votação, o primeiro-ministro israelense Netanyahu havia ameaçado cancelar uma visita da delegação a Washington se os EUA não usassem seu veto e não condicionassem o cessar-fogo à libertação de reféns.

Como é amplamente sabido, Israel depende inteiramente das bombas e armas fornecidas por Washington para manter o genocídio contra os palestinos, bem como da proteção prestada pela Casa Branca nos organismos internacionais.

Israel já matou ou feriu 100 mil palestinos, quase 75% deles crianças e mulheres, implantou um bloqueio a comida, água, remédios, combustível e eletricidade que constitui uma punição coletiva aos palestinos, barra a ajuda humanitária a ponto de 1 em cada 2 habitantes de Gaza estar à beira de uma fome catastrófica, e com seus bombardeios deixando um rastro de destruição de 23 milhões de toneladas métricas de escombros, do que eram casas, prédios, escolas, centros médicos, padarias, mesquitas e infraestrutura de água e luz.

O ataque de 7 de outubro, que analistas compararam a uma “fuga da prisão”, já que Gaza é conhecida como “a maior prisão a céu aberto do mundo”, ocorreu em meio a 57 anos de uma “ocupação sufocante” e em meio a anúncios, por Netanyahu, de que não haveria Estado palestino algum, inclusive mostrando na Assembleia Geral da ONU um mapa onde só existia “Israel”, contrariamente à lei internacional. As autoridades de Tel Aviv registraram 1140 israelenses mortos no ataque, dos quais não se sabe quantos foram mortos por conta do “fogo amigo” e da “Diretriz Hannibal”, e cerca de 250 cativos.

Desde então, o mundo assiste, chocado, a um genocídio, via streaming, em pleno século 21, a ponto de a Corte Internacional de Justiça da ONU ter aceitado pedido da África do Sul para investigar Israel por genocídio e incitação ao genocídio. Enquanto diariamente líderes israelenses e soldados nas redes sociais se autoincriminam.

Assim, o isolamento de Israel não para de crescer, com a percepção, cada vez mais generalizada, de que, sob um regime de apartheid e fascismo, está se tornando um Estado pária, condição contra a qual judeus no mundo inteiro têm se colocado, assinalando, “não em nosso nome” e “nunca mais é para todos”.

Fonte: Papiro