Como Braga Netto se submeteu a Bolsonaro e liderou o golpismo no Exército
Há muitos nomes que personificam a desmoralização das Forças Armadas – e, em especial, do Exército – diante da adesão ao golpe tramado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Mas, com o avanço acelerado das investigações nas últimas semanas, nenhum militar está com a imagem mais corrompida do que o general da reserva Walter Souza Braga Netto.
Se Bolsonaro fosse reeleito em 2022, o ambicioso Braga Netto seria hoje o vice-presidente da República e estaria no topo de sua carreira política. Sob o governo de extrema-direita, ele serviu como ministro-chefe da Casa Civil e, num segundo momento, como ministro da Defesa.
Escolhido a dedo para a chapa presidencial, Braga Netto não apenas reforçou sua lealdade a Bolsonaro. Mais do que isso, passou a se submeter às ordens conspiratórias do chefe e foi o grande articulador do golpismo no Exército. Sonhava com o gabinete de vice-presidente, mas provavelmente passará os próximos anos na cela de uma penitenciária.
Segundo a agência Reuters, a principal linha de investigação da Polícia Federal (PF) aponta o general como uma espécie de articulador do golpe. Ele estava à frente dos preparativos “para viagem a Brasília e alojamento de militares com treinamento de forças especiais após a eleição de 2022”. Tinha, ainda, a missão de ampliar o apoio do Exército à manobra.
Uma fonte ouvida em anonimato pela Reuters resumiu a parceria: “Braga Netto atuava como um incentivador e influenciador dentre os demais comandantes do Exército. E há suspeitas de que ele buscava meios para financiar os acampamentos”. Estava também sob sua responsabilidade o recrutramento dos chamados “kids pretos” – oficiais do Exército com treinamentos de forças especiais para insurgências e sabotagens.
Foi na casa do militar que “diversos militares de segundo escalão” se reuniram em 12 de novembro de 2022, 13 dias após as eleições presidenciais, para debater a continuidade ilegal de Bolsonaro no poder. Uma das ações consistia em mobilizar, às escondidas, os “kids pretos” para regiões como o Distrito Federal e o Rio de Janeiro.
Massa de manobra, esses militares forjariam a encenação de distúrbios nas ruas a fim de se “justificar a decretação de um estado de sítio ou de defesa — a base das minutas de decreto de teor golpista analisadas pelo então presidente Bolsonaro”. Até o custo da iniciativa estava em pauta – Braga Netto falava em R$ 100 mil.
O ex-ministro também estava encarregado de pressionar as bases contra os comandantes do Exército, Marco Antonio Freire Gomes, e da Aeronáutica, Carlos de Almeida Baptista Júnior – ambos contrários ao golpe bolsonarista. Braga Netto usava as redes para inflamar apoiadores e criticar a cúpula das Forças Armadas.