Cineastas argentinos estão mobilizados contra o desmonte do Instituto do setor | Foto: Reprodução

“Reduzir o Instituto Nacional de Cinema e Artes Audiovisuais da Argentina (Incaa) ao máximo é entregar de bandeja o que nos resta de soberania audiovisual às mesmas pessoas de sempre”, denunciou Ingrid Urrutia, representante da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE), condenando o ataque do governo de Javier Milei à instituição.

A ATE explicou que entre as medidas do governo neoliberal está o anúncio do encerramento de todos os contratos do Incaa, a suspensão do financiamento de festivais, pagamento de horas extras, redução do serviço de segurança e transporte, combustível, estacionamento, alimentação, ou qualquer outro gasto institucional. Órgão público criado na década de 1950 para fomentar a produção audiovisual, a instituição organiza o Festival de Mar Del Plata, um dos mais renomados do mundo. Graças ao impulso do Incaa, desde que “A História Oficial” (1985), de Luiz Puenzo, ganhou o Oscar de melhor filme em língua estrangeira, o país sempre colocou uma obra no páreo. Em 2010, de Juan José Campanella, conseguiu novamente o Oscar com “O segredo dos seus olhos”.

Conforme Urrutia, desde o momento em que Carlos Luis Pirovano – nome que tem por único “mérito” ser colaborador da campanha da ultradireitista Patricia Bullrich – ter sido nomeado para o Incaa na semana passada, ficou claro que o desmonte da instituição seria seu único propósito.

“Menos de 24 horas depois de assumir a chefia do instituto, ele avançou sobre todos os trabalhadores. Não se trata apenas de empregos. Devemos defender o cinema nacional que está sendo atacado. A informação tem a ver com o corte indiscriminado dos apoios financeiros, seja ao setor privado, às associações, aos municípios e províncias [Estados] para a realização de festivais”, alertou.

Na avaliação da ATE, o desmantelamento do Incaa não se dará apenas a partir da redução de pessoal, mas também da restrição à promoção das produções cinematográficas. “Há controle, classificação, exposição, fiscalização. A atividade realizada inclui programas federais. São mais de 70 espaços do Incaa em todo o país”, recordou Urrutia.

“PLANO DE ENTREGA DO PAÍS ÀS GRANDES CORPORAÇÕES”

Na prática, querem estrangular o instituto à sua “mínima expressão”. “Isso é necessário para que avancem com seu plano de entrega do país. Isso anda de mãos dadas com o objetivo de entregar às grandes corporações um setor que se autofinancia, gera 700 mil empregos e é um negócio fenomenal”, acrescentou.

Para o cineasta e roteirista Benjamin Naishtat, o setor está em alerta diante da sucessão de atropelos adotados contra a cultura. “Tivemos três meses de acefalia no Incaa e, como todos devem ter percebido, existe uma crueldade muito política, ideológica contra o cinema”, alertou Benjamin, frisando que o setor foi identificado como “adverso às ideias que hoje estão no poder”. “Por isso estão nos atacando, paralisando a atividade”, destacou.

Benjamin Naishtat alertou que nomearam um novo presidente para a instituição “sem a menor experiência”, onde “não há respostas, não há prazos e são anunciados cortes brutais”. “A maior parte do financiamento provém da própria atividade, mas foi decidido paralisar a atividade. Muitas pessoas são demitidas. Não entendemos. Estamos cansados deste ataque frontal a uma indústria que é virtuosa, gera identidade e muitíssimos empregos”, concluiu.

Sob o lema “Cultura Mobiliza”, organizações sociais e trabalhadores do setor convocaram manifestações e uma entrevista coletiva para esta quinta-feira (14), às 17 horas, em frente ao Cine Gaumont, na capital, Buenos Aires, e em todo país, em resposta ao anúncio de desmantelamento da instituição.

Fonte: Papiro