Sede da Tik Tok na Califórnia | Foto: Reprodução

Em novo capítulo da guerra tecnológica dos EUA contra a China, o TikTok, o aplicativo de maior impacto entre a juventude norte-americana, com seus vídeos curtos, está sendo alvo de nova incursão por Washington, com a aprovação, na última terça-feira, de um projeto de lei bipartidário, na Câmara dos Deputados, para venda forçada em 180 dias ou banimento nos EUA, que seguirá para o Senado, e a qual o presidente Biden já prometeu assinar.

De acordo com pesquisas, entre os jovens norte-americanos até 30 anos, o TikTok já se tornou a principal fonte de informação, e o próprio Biden, para tentar voltar a atrair essa faixa do eleitorado, recentemente fez um vídeo de campanha via o aplicativo.

O projeto de lei é também um ataque frontal à liberdade de expressão, já que os EUA não acham que existe nenhum problema quando seus aplicativos, como o Google, Facebook e Instagram, são majoritariamente usados em muitos países, mas alegam que o TikTok, usado por 170 milhões nos EUA, é uma “ameaça à sua segurança nacional”.

Se isso fosse verdade para o TikTok, que é chinês, porque não seria também para o aplicativo norte-americano Facebook, por exemplo, em outros países?

Afinal, graças ao ex-agente da NSA, Edward Snowden, desde 2013, é amplamente sabido que quem tem compulsão em grampear o mundo inteiro, e surrupiar dados alheios, são exatamente os EUA.

Refletindo a histeria antichinesa e racista desencadeada pela plutocracia norte-americana, a aprovação na Câmara foi por 352 votos a 65. A lei também forçaria Apple e Google, esta, dona do Android, a remover o TikTok de suas lojas de aplicativo.

“LÓGICA DE BANDIDO”

A China reagiu, classificando a venda forçada/banimento de “lógica de bandido”, segundo declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Wang Wenbin.

Wang acusou os EUA de adotar “táticas de bullying” em vez de “competir de forma justa” e de “nunca ter encontrado evidências de que o TikTok ameaça sua segurança nacional”.

O porta-voz afirmou que o comportamento dos EUA “perturba as operações comerciais normais, prejudica a confiança dos investidores internacionais no ambiente de investimento e destrói a ordem econômica e comercial internacional”, ao mesmo tempo que alertou que tais ações “se voltarão” contra os EUA.

De uma forma mais direta o jornal chinês Global Times, que aborda questões de política externa, em um editorial na semana passada, acusou os EUA de “abertamente tentar roubar o TikTok.”

O GT sublinhou, ainda, que “a imagem da liberdade de expressão e do estado de direito nos EUA está em frangalhos, e o último projeto de lei é simplesmente mais uma prova disso”.

Em março do ano passado, porta-voz da diplomacia chinesa, se manifestando sobre as pressões desencadeadas contra o TikTok/ByteDance, advertiu que “a venda ou alienação do TikTok envolve a exportação de tecnologia e os procedimentos de licenciamento devem ser realizados de acordo com as leis e regulamentos chineses”.

#TIKTOK COMEÇA A LUTAR

Na quarta-feira, na rede social chinesa Weibo, a hashtag “#Tiktok começa a lutar” atraiu 80 milhões de visualizações e muitos comentários. “Deixe-me contar uma piada: a sociedade americana é liberal e democrática, e tem uma economia de mercado completa”, zombou um internauta.

Segundo a agência Reuters, o TikTok disse que espera que “o Senado americano considere os fatos e que escute seus eleitores” antes de qualquer decisão.

“Esperamos que eles percebam o impacto na economia, em 7 milhões de pequenas empresas e nos 170 milhões de americanos que usam nosso serviço”, disse um porta-voz do aplicativo.

O aplicativo convocou seus milhões de usuários e milhares de criadores de conteúdo a enviar mensagens aos senadores, repudiando o ataque à liberdade de expressão.

Às vésperas da votação na Câmara, o Escritório do Diretor de Inteligência Nacional dos EUA divulgou um relatório, com o ostensivo objetivo de influenciar os parlamentares. Segundo o qual o ‘governo chinês’ teria usado contas do TikTok para “prejudicar candidatos dos partidos Democrata e Republicano” – isto mesmo, ambos os partidos (!) e ao mesmo tempo nas eleições de 2022 -, sem explicar como tão sorrateira e esquizofrênica ação poderia ocorrer.

O relatório também se referia a postagens no TikTok com posições bastante divergentes, o que supostamente constituiria evidência de um esforço arquitetado para “polarizar” e “dividir” o povo norte-americano – como se Trump e Biden eles próprios não se encarregassem disso.

Um portal, inclusive, deu como exemplo dessa suposta atuação, o fato de terem aparecido no TikTok, depois de 7 de outubro, inúmeros vídeos, uns apoiando Israel, e outros, os palestinos. Realmente, muito perigoso isso: e a “unanimidade” sobre o genocídio, como é que fica?

O PRECEDENTE DE MONTANA   

No ano passado, uma ação impetrada pelos criadores de conteúdo do TikTok conseguiu a derrubada de uma lei estadual, aprovada em Montana, que iria banir o TikTok no Estado a partir de 1º de janeiro de 2024.

O juiz que apreciou o caso considerou pertinente a argumentação dos criadores de conteúdo para o aplicativo de que a lei era “inconstitucional” e “viola os direitos de liberdade de expressão”.

Ao sancionar a lei, o governador de Montana, Greg Gainforte, havia postado a alucinada declaração, no então Twitter, de que a medida era destinada a “proteger os dados pessoais e privados dos habitantes de Montana do Partido Comunista da China”.

Esse tipo de alegação certamente granjeou votos na Câmara dos deputados em Washington.

Assim, no afã de deter avanços chineses na alta tecnologia e na inovação, Washington, com 800 bases militares no mundo inteiro e uma folha corrida de dezenas de golpes de Estado e ingerência em outros países, insiste sem o menor pudor em enlamear demais nações com aquilo tem sido sua marca registrada, a interferência nos assuntos internos alheios, a chantagem, o grampo em escala industrial e, claro, a violação da liberdade de expressão, como agora vemos.

Fonte: Papiro