Biden e Trump são rejeitados pela maioria dos eleitores: falência do bipartidarismo?
A Superterça, as primárias simultâneas em 15 estados e um território que definem um terço dos delegados às convenções que nomearão os respectivos candidatos democrata e republicano a presidente, acabaram praticamente, como se diz no jargão futebolístico, cumprindo tabela, por não ser perceptível a olho nu alguma alternativa viável a Biden versus Trump e com tudo se encaminhando para a revanche da gerontocracia em novembro.
Isso no quadro em que, de acordo com pesquisa do The New York Times, ambos são rejeitados em massa pelos norte-americanos, com nada menos que 59% dizendo rejeitar o atual presidente, Biden, contra 55% que rejeitam o ex-presidente Trump.
Já segundo pesquisa da CNN do início de fevereiro, 63% dos eleitores ficariam decepcionados ou muito irritados com a vitória de Biden. E 54% no caso de um triunfo de Trump.
Mas, se nada mudar, a disputa em novembro vai ser Genocide Joe versus Trump Trucida Imigrante. Ou Trump Fascista, vocês escolhem. O que dá bem o tom de a quantas andam as coisas no império em desencanto.
Biden segue impassível na cumplicidade com o genocídio perpetrado por Israel em Gaza, desde o envio de armas a granel para a matança até à proteção no Conselho de Segurança da ONU com seu veto, além de dinheiro, muito dinheiro. Desde 2014, ele está enfiado de mala e cuia na guerra por procuração dos EUA/Otan contra a Rússia na Ucrânia.
Trump tenta fazer dos imigrantes o bode expiatório da decadência vivida pelos EUA, sob a desindustrialização, guerras eternas e metástase do rentismo de Wall Street, além de reclamar das “eleições fraudadas”. E tem como ‘programa’ deportar em massa, tentar bloquear o desenvolvimento soberano da China e cortar imposto de magnatas.
Nas vésperas da Superterça, segundo pesquisa The New York Times/Siena Poll, Trump tinha 48% da preferência dos entrevistados, contra 43% de Biden.
O que o analista político Nate Cohn explica: “Biden é tão impopular que agora é ainda menos popular do que Trump, que continua tão impopular quanto era há quatro anos”.
CAMPEÕES DE IMPOPULARIDADE
Como já destacado, os campeões de impopularidade Biden e Trump têm, respectivamente, 59% e 55% de rejeição.
Na sondagem NYT/Siena com eleitores registrados, 47% desaprovam o desempenho de Biden “fortemente” e 12% desaprovam “um pouco”. Apenas 19% o apoiam fortemente e outros 19%, “de alguma forma”.
Na verdade, a oito meses da eleição, são 45% os eleitores democratas que acham que Biden não deveria se candidatar à reeleição. E 73% concordam “fortemente” ou “um pouco” com a afirmação de que Biden, de 81 anos, é “muito velho para ser um presidente eficaz”.
O que reflete o impacto sobre o público dos repetidos tropeços de Biden em público, desorientações, lapsos de memória e confusão de nomes, fatos e datas – além do desastre que o Bidenomics e sua política externa são.
E o problema não é propriamente a idade: Trump, que tem apenas quatro anos a menos que Biden, só é visto por 42% como “muito velho” para ocupar a Casa Branca.
Por seu lado, Trump é rejeitado de forma absoluta por parte significativa daqueles que não votam nele, e, nas primárias que disputou antes de desistir, sua oponente Haley conseguiu entre 30-40% dos votos.
PRIMÁRIAS SEM BRILHO
A Associated Press projetou a vitória de Trump, nas primárias republicanas, no Texas e mais dez estados. Já Biden, vitória em 14 estados. Para obter a indicação, um candidato democrata deve ter 1968 delegados; entre os republicanos, 1215. As convenções serão em julho (republicanos) e agosto (democratas)
Entre os democratas, Biden segue ladeado por dois inexpressivos figurantes. Como a exceção que confirma a regra, no território da Samoa Americana Biden perdeu para o especulador, aliás, filantropo, Jason Palmer.
Os Estados em que aconteceram as primárias são Alabama; Alasca; Arkansas; Califórnia; Colorado; Iowa; Maine; Massachussets; Minnesota; Carolina do Norte; Oklahoma; Samoa Americana; Tennessee; Texas; Utah; Vermonte; e Virgínia.
Na quarta-feira (6), a republicana Nikki Haley jogou a toalha e se retirou da disputa, depois de só ter conseguido vencer em Washington e Vermont.
“ESCOLHA CLARA”
Apesar desse enorme sentimento de rejeição popular, Biden buscou capitalizar o resultado da Superterça, dizendo que as primárias mostraram que os americanos estão diante de “uma escolha clara”.
“Vamos continuar avançando ou vamos permitir que Donald Trump nos arraste para trás no caos, na divisão e na escuridão que definiram seu mandato?”, ele questionou em um comunicado.
“Se Donald Trump voltar à Casa Branca, todo esse progresso está em risco. Ele é movido pela mágoa e pelo ressentimento”, disse Biden.
Por sua vez Biden passou a ser repudiado por parte do eleitorado democrata por sua cumplicidade no genocídio que Israel comete em Gaza, com 13% dos votantes na primária de Michigan registrando na cédula “não comprometido”, para exigir dele o fim do envio de armas a Israel.
“AMÉRICA MAIOR DO QUE NUNCA”
Trump comemorou o resultado das primárias em sua mansão na Flórida, acompanhado por puxa-sacos, fanáticos e enricados, prometendo “tornar a América grande de novo, maior do que nunca”.
Ele criticou a política econômica de Biden e sua política externa e enfatizou o caos na fronteira com o México, seu tema predileto de campanha, em que denuncia que outros países estão abrindo “as portas dos hospícios e dos presídios” para mandar gente perigosa para os EUA e diz que os imigrantes ilegais estão “envenenando o sangue dos americanos”. Além de se gabar dos incríveis quatro anos com ele na Casa Branca.
Também tem advertido que Biden ameaça levar o mundo à Terceira Guerra Mundial.
No terreno judicial, a disputa será intensa. Trump está respondendo a 91 acusações em quatro diferentes casos, que vão da fraude em seu negócio bilionário, até a tentativa de virada de mesa no 6 de janeiro, com a invasão do Capitólio, passando pela retenção, em sua mansão, de segredos do Pentágono.
O que crescentemente está doendo no bolso, sob duas sentenças em que é penalizado em mais de meio bilhão de dólares. Vários casos irão a julgamento antes da eleição, sem que esteja claro qual será exatamente a repercussão disso. Ele jura que é “perseguição política”.
Trump acabou de obter uma decisão favorável e unânime da Suprema Corte ao vetar a interpretação feita por um ente da federação, o Colorado, de que poderia tirá-lo da cédula no Estado sob a 14ª Emenda, considerando que isso não cabe quando se trata de uma disputa federal, como é o cargo de presidente.
Pelo lado de Biden, seu filho Hunter (e seu famoso ‘notebook do inferno’) é sempre motivo de sobressalto, com os republicanos acusando o inquilino da Casa Branca de ser o “Big Guy” das negociatas do rebento. E a puxada de tapete mútua não dá sinal de esmorecer.
Além disso, há aquele comentário atribuído ao então presidente Obama de que “não se deve nunca subestimar a capacidade de Biden de fazer m…”.
ESTADOS-PÊNDULO DEFINEM
Como nos EUA a eleição, ao fundo e ao cabo, é indireta, no Colégio Eleitoral, e é decidida em meia dúzia de Estados que oscilam entre o voto nos democratas e o voto nos republicanos, os chamados Estados-Pêndulo, aí podem interferir no resultado final candidaturas de terceiros partidos, caso de Jill Stein (verdes), Cornel Well (independentes) e Robert Kennedy Jr, cujas votações podem se tornar o fiel da balança.
Aliás, Stein, que também concorreu em 2020, frequentemente é acusada de ter tomado votos de Hillary em Michigan, Wisconsin e Pensilvânia, decidindo a eleição em favor de Trump por pouquinho nesses Estados. Não é a primeira vez que esse fenômeno joga um papel, e o próprio Bill Clinton deve sua eleição, contra Bush Pai, à candidatura do magnata Ross Perot.
A propósito, no pouco democrático sistema eleitoral norte-americano, os candidatos que não são dos dois partidos hegemônicos têm que conseguir, Estado por Estado, com que seu nome seja adicionado à cédula, já que o sistema funciona como se fossem 50 eleições separadas e não existe nos EUA nada parecido com um TSE.
Well, um respeitado intelectual negro, pretende ter seu nome nas urnas em 15 Estados até março, chegando entre 30 a 35 estados até junho. Até o final de fevereiro, RFK Jr só tinha seu nome garantido na cédula de um dos 50 estados, o Utah.
Fonte: Papiro