Bendjama, embaixador da Argélia na ONU, defende cessar-fogo no Conselho de Segurança | Foto: AFP

Os Estados Unidos vetaram novamente nesta terça-feira (20) uma proposta de resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), apresentada pela Argélia, que determinava um cessar-fogo humanitário imediato. 

Treze membros do conselho votaram a favor e o Reino Unido se absteve, o que garantiria sua aprovação, se não houvesse veto de algum dos cinco membros permanentes. Esse foi o terceiro veto dos EUA desde o início da guerra de Israel a Gaza.

A urgência da instauração do cessar-fogo se tornou ainda maior diante da ameaça do regime Netanyahu de atacar a cidade de Rafah, para onde forçou 1,5 milhão de civis a se deslocarem, e com Israel já tendo matado ou ferido 100 mil palestinos, destruído hospitais, escolas, mesquitas e padarias, e mantendo um cerco a Gaza para nazista nenhum botar defeito, sem comida, água, combustível ou remédios.

A proposta da Argélia também reiterava as exigências do conselho para que Israel e o Hamas “cumpram escrupulosamente” o direito internacional, especialmente a proteção de civis e o “compromisso inabalável” do conselho com uma solução de dois Estados, Israel e Palestina, vivendo lado a lado em paz.

“Um voto a favor desse projeto de resolução é um apoio ao direito dos palestinos à vida. Por outro lado, votar contra implica um endosso à violência brutal e à punição coletiva infligida a eles”, disse o embaixador da Argélia na ONU, Amar Bendjama, antes da votação.

“Esta resolução representa a verdade e a humanidade contra os defensores do assassinato e do ódio”, ele sublinhou.

“GENOCIDE JOE”

A representante do presidente Genocide Joe no CS da ONU, embaixadora Linda Thomas-Greenfield, vetou o “cessar-fogo imediato e incondicional”, como vinha prometendo, sob a cínica alegação de que “atrapalharia” negociações visando a libertação de reféns e uma “paz duradoura”.

O enviado israelense Gilad Erdan se esmerou: “um cessar-fogo é uma sentença de morte para muitos mais israelenses e habitantes de Gaza.”

Após a votação, o embaixador argelino Bendjama disse que o veto dos EUA deve ser entendido como “aprovação da fome como meio de guerra contra centenas de milhares de palestinos”.

“ISRAEL NÃO VAI SE SAFAR”

O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, disse ao conselho que o veto dos EUA é uma mensagem a Israel de que “pode continuar a se safar de assassinatos”. “Israel não pode, não deve e não vai se safar. Não vamos permitir”, acrescentou.

“Este veto não absolve Israel de suas obrigações, nem daqueles que o protegem. Não aqui no Conselho de Segurança. Nem na CIJ, nem em lugar nenhum. Mesmo que o Conselho de Segurança continue a se esquivar de suas responsabilidades para ser obstruído pelo veto de um membro permanente repetidamente. Os outros órgãos do sistema internacional estão assumindo suas responsabilidades.”

“Hoje testemunhamos mais uma página negra na história do Conselho de Segurança da ONU”, disse o embaixador russo, Vasily Nebenzia após a votação. Antes, ele advertira que Washington pretendia continuar a dar a Israel “uma licença para matar”. E pedira aos membros do CS para combaterem “a ilegalidade de Washington”.

“Foi novamente escrita pela delegação dos EUA, que persegue o mesmo objetivo – cobrir seu aliado mais próximo do Oriente Médio e jogar pelo tempo o máximo possível, para que [Israel] possa completar seus planos desumanos para Gaza, ou seja, espremer os palestinos do setor e ‘limpar’ completamente o enclave, transformando-a em uma área desabitada”.

A total responsabilidade pelas consequências do resultado de terça-feira recai sobre Washington, não importa o quanto os Estados Unidos tentem evitá-la, falando sobre os seus “importantes esforços de mediação”, ele acrescentou.

“A China expressa sua forte decepção e insatisfação com o veto dos EUA”, disse o embaixador Zhang Jun. “O veto dos EUA envia uma mensagem errada, empurrando a situação em Gaza para uma situação ainda mais perigosa”. Ele acrescentou que a objeção de Washington ao cessar-fogo em Gaza não é “nada diferente de dar sinal verde para o massacre contínuo”, registrou a agência de notícias Xinhua.

10 MIL TONELADAS DE ARMAS

Diante do isolamento cada vez mais indisfarçável, a proposta de Biden vazara para a Reuters na véspera uma sugestão ao CS para, no lugar do cessar-fogo imediato, se limitar a declarar “apoio a um cessar-fogo temporário” em Gaza “assim que possível”, com base na “libertação de todos os reféns” e levantamento – tão logo quanto Netanyahu se disponha, provavelmente – “de todas as barreiras à prestação de assistência humanitária em escala.” Mas, sem pressa, ele alardeou. Afinal, a pressa é inimiga da perfeição…

Desde 7 de outubro, Washington já enviou 10 mil toneladas de armas e bombas para o massacre de palestinos pelo regime supremacista de Netanyahu e está buscando aprovar mais US$ 14 bilhões para financiar o genocídio, enquanto corta o financiamento da agência da ONU que presta desde 1949 assistência aos refugiados palestinos, para chantagear pela fome os árabes.

De acordo com o Middle East Eye, a Liga Árabe estuda levar sua resolução à Assembleia Geral da ONU, que inclui todos os 193 países membros da ONU, onde é praticamente certo que seja aprovada, embora não seja juridicamente vinculativa.

ISRAEL DE NOVO NO BANCO DOS RÉUS EM HAIA

Participando da audiência de terça-feira da revisão histórica, pela Corte Internacional de Justiça da ONU, a pedido da Assembleia Geral da ONU, sobre a ilegalidade da ocupação dos territórios palestinos desde 1967, a África do Sul criticou o apartheid de Israel na Palestina como pior do que o que viveu antes de 1994.

“Nós, como sul-africanos, vemos, ouvimos e sentimos em nosso âmago as políticas e práticas discriminatórias desumanas do regime israelense como uma forma ainda mais extrema do apartheid que foi institucionalizado contra os negros em meu país”, disse o embaixador da África do Sul na Holanda, Vusimuzi Madonsela, na Corte de Haia.

Madonsela acrescentou que o apartheid israelense, sendo um crime em si, é simultânea e fundamentalmente um colonialismo de colonos que a África do Sul se sentiu obrigada “a chamar e acabar”.

Na véspera, o representante da Palestina na ONU, Riyad al-Maliki, havia pedido aos juízes do tribunal que declarem a ocupação israelita ilegal e a ponham “imediatamente, total e incondicionalmente” fim.

“Os palestinos suportaram o colonialismo e o apartheid (…) Há quem se enfureça com essas palavras. Eles devem estar enfurecidos com a realidade que estamos sofrendo”, disse al-Maliki.

Durante a sessão, al-Maliki advertiu que “a justiça atrasada é a justiça negada, e o povo palestino foi negado por muito tempo”, acrescentando que “é hora de pôr fim aos dois pesos e duas medidas que mantiveram nosso povo cativo por muito tempo”.

Al-Maliki sublinhou então que “o genocídio em curso em Gaza é resultado de décadas de impunidade e inação”, reafirmando que “acabar com a impunidade de Israel é um imperativo moral, político e legal”.

Mais de 50 países apresentarão argumentos até 26 de fevereiro, bem como a União Africana, a Liga Árabe e a Organização de Cooperação Islâmica. Foi solicitado ao painel de 15 juízes da CIJ que analisasse a “ocupação, assentamento e anexação… por Israel, incluindo medidas destinadas a alterar a composição demográfica, o caráter e o status da Cidade Santa de Jerusalém, e a adoção de legislação e medidas discriminatórias relacionadas”. Espera-se que os juízes levem cerca de seis meses para emitir um parecer.

Fonte: Papiro