Soldado israelense mostra em vídeo objetos roubados de loja palestina em Gaza | Vídeo

O portal israelense +972 Magazine – que já revelou antes a existência de um protocolo de Inteligência Artificial chamado de “Evangelho” para fabricar alvos em massa para bombardeios -, afirmou que, de tapetes a cosméticos e motos, passando por relógios de pulso, celulares e mantimentos, soldados israelenses “saqueiam casas em Gaza em massa”.

“Soldados descrevendo como roubar propriedades palestinas se tornou totalmente rotineiro na guerra de Gaza, com o mínimo de resistência dos comandantes”, denuncia o autor, Oren Ziv.

O crime de guerra – registra o portal – vem sendo “sendo prontamente documentado por soldados israelenses”, embora chamando menos atenção e condenação do que os vídeos que chegaram a ser exibidos, pela África do Sul, no mês passado, à Corte Internacional de Justiça da ONU, mostrando a “destruição desenfreada de edifícios e a humilhação de detidos palestinos”.

Vídeos postados nas redes sociais nos últimos meses “mostram soldados israelenses se gabando de encontrar relógios de pulso; desencaixotar a coleção de camisas de futebol de alguém; e roubar tapetes, mantimentos e jóias”. Um cantor palestino relatou ter ficado chocado ao descobrir um TikTok de um soldado tocando a guitarra que seu pai havia comprado 15 anos antes.

Desde o início da invasão terrestre de Israel, no final de outubro – destaca o +972 -, os soldados “têm levado tudo o que podem das casas dos palestinos que foram forçados a fugir” [pelos ataques israelenses].

“SAQUEAR DE ACORDO COM A LEI”

Um fenômeno “ampla – e acriticamente – noticiado na mídia israelense”, assinala o portal, acrescentando que “rabinos do movimento sionista religioso têm respondido às perguntas dos soldados sobre o que é permitido saquear” de acordo “com a lei judaica”.

Segundo relataram ao portal soldados que retornaram dos combates em Gaza, “as pessoas levaram coisas, canecas, livros, cada um a lembrança que faz isso por ele”. Um deles inclusive admitiu ter levado uma “lembrança” de um dos centros médicos que o Exército ocupava.

Outro soldado, que serviu no norte e centro de Gaza, testemunhou que “todo mundo sabe que as pessoas estão levando coisas. É considerado engraçado – as pessoas dizem: ‘Mande-me para Haia’. Isso não acontece em segredo. Os comandantes viram, todo mundo sabe, e ninguém parece se importar.”

O soldado explicou por que o fenômeno é tão generalizado: “Há algo nessa realidade em que a casa já está [em ruínas] que permite que você pegue um prato ou tapete. Em uma das operações, em uma casa destruída, havia um armário com utensílios de cozinha antigos, pratos especiais, canecas especiais. Vi eles sendo saqueados, infelizmente.”

NÃO DISSERAM QUE NÃO

Outro soldado asseverou que os comandantes “não disseram que você não poderia levar as coisas. E a maioria das pessoas sentiu a necessidade de levar uma lembrança.”

O saque, ele acrescentou, “não era segredo”. “O sargento-mor da companhia distribuiu livros de estudo do Alcorão que encontrou e deu a quem quisesse”, disse. “

Outro soldado levou um conjunto de canecas de café, uma bandeja de serviço e uma panela. Outra unidade, que conhecemos depois que eles voltaram de um passeio, trouxe uma motocicleta, como as motocicletas Nukhba [forças especiais do Hamas]. Um dos soldados declarou que era dele. Eles [os soldados] falaram em reformá-lo.”

Outro soldado que serviu em Gaza disse ao +972 e ao Local Call que os soldados levaram “contas de oração, colheres, copos, cafeteiras, joias, anéis. Tudo o que é fácil e acessível é levado. Nem tudo, mas as pessoas se sentiam donas da terra.”

NINGUÉM FISCALIZA

Ao contrário dos outros que testemunharam, este soldado disse que estava claro para ele que os saques eram proibidos, registrou o portal israelense. “Na minha experiência, claro, é um grande não”, explicou. “Eles enfatizaram essa questão, mas ninguém fiscaliza os reservistas. A coisa mais comum [para roubar] são ‘lembranças locais’ [ou seja, itens essencialmente palestinos ou árabes].”

A coisa chegou ao ponto que, nesta semana, o chefe do Estado-Maior das FDI, Herzi Halevi, a bem das aparências, pediu aos soldados que “não tomem nada que não seja nosso”. Mas – observa o +972 – esta carta chega depois de vários meses em que os saques se tornaram completamente rotineiros – e com Israel levado às barras dos tribunais duas vezes em um mês.

Apesar do comunicado do general, o fenômeno é tão normalizado que, “em um segmento recente da emissora pública de Israel, Kan, soldados presentearam o repórter Uri Levy com um espelho que trouxeram de Gaza”.

“Das ruínas de Khan Younis, no estilo clássico de Gaza”, brinca Levy, sem perguntar aos soldados onde encontraram o espelho ou por que o roubaram. Em uma coluna no Ynet, Nahum Barnea cita um soldado que disse ter visto o saque de “telefones, aspiradores de pó, motocicletas e bicicletas”.

PARA “ENVERGONHAR”

O Canal 13, ao noticiar os saques, no entanto atribuiu o compartilhamento dos vídeos no mundo inteiro a uma suposta intenção de “envergonhar os soldados israelenses”.

O segmento – anota + 972 – também incluiu uma entrevista com o soldado que se filmou com os relógios de pulso que encontrou dentro de uma casa palestina, que afirma que não os roubou: “Eles me veem segurando relógios, não saqueando, nada… Minha intenção era mostrar que a liderança do Hamas vive lá em alto nível.”

O debate sobre o que fazer com essa pilhagem em massa já chegou aos rabinos do movimento sionista religioso. No YouTube, o rabino Yitzchak Sheilat, da escola religiosa Ma’ale Adumim Yeshiva, situada na Cisjordânia ocupada, observou que saques são proibidos, em termos de halacha [lei judaica] e lei militar”, disse ele. De acordo com a Halacha, ele explicou, todos os despojos devem ir para o rei, ou seja, o comandante do exército… Seria uma pena alguém ser pego e ter que pagar um preço alto.”

ENTREGUE AO CHEFE DE GABINETE

Diante da pergunta de um soldado se é permitido retirar coisas de uma casa antes de ela ser demolida, o rabino Sheilat disse “É proibido”. “Se você pegar alguma coisa, deve ser entregue ao chefe de gabinete.”

Outros religiosos pensam diferente. O rabino-chefe da cidade de Safed, Shmuel Eliyahu, asseverou que porque os “árabes em Gaza não observam as convenções internacionais, não somos obrigados a cumprir nenhuma das regras da guerra”. Mas, esclareceu, “mesmo assim, tomamos muito cuidado, porque queremos preservar a imagem de Deus dentro de nós”.

O portal registra que, além do saque por conta própria dos soldados, existe uma unidade especial no exército israelense dedicada a apreender dinheiro e outros bens encontrados no campo de batalha. “Até agora, sabe-se que os militares apreenderam dezenas de milhões de shekels de Gaza, que afirmam pertencer ao Hamás”.

Paralelamente à pilhagem dos pertences dos palestinos, os soldados israelenses também comem rotineiramente os alimentos que encontram nas casas abandonadas de Gaza, acrescenta +972. “Depois de duas ou três semanas, os soldados usam tudo o que encontram, limpam e desinfectam”, disse um soldado, que se mostrou preocupado com a “contaminação” de alimentos encontrados em casas palestinas.

Ainda segundo o portal israelense, alguns soldados consideram que não receberam “instruções precisas sobre como se comportar durante a permanência em casas” – muitas das quais, diz o +972, “são incendiadas ou explodidas pelo exército quando deixam de ser úteis”.

Para concluir, o portal se refere a um artigo recente do Haaretz, em que soldados israelenses descreveram as suas “experiências” de cozinhar em casas palestinas utilizando os ingredientes que lá encontraram. “A culinária de Gaza, pelo que vimos, está cheia de especiarias”, disse um soldado no artigo.

“Cada casa onde ficamos tinha azeitonas que [os palestinos] fazem, que provamos… O azeite também está presente em todas as casas, em galões, e ajuda muito a valorizar qualquer alimento. Eles também têm um ótimo molho picante.”

No mês passado, uma carta publicada pelo rabinato militar detalhou instruções sobre como manter o kosher ao usar alimentos e utensílios encontrados em casas em Gaza. A carta, assinada pelo rabino Avishai Peretz, termina com a diretriz bíblica: “E comerás as riquezas de todas as nações”.

Fonte: Papiro