Rússia convoca CS da ONU após EUA bombardear Iraque, Síria e Iêmen
O bombardeio dos EUA ao Iraque, Síria e Iêmen foi condenado pela Rússia, que pediu em caráter de urgência uma reunião do Conselho de Segurança da ONU, que irá ocorrer nesta segunda-feira (5).
“Condenamos veementemente o novo ato flagrante de agressão americano-britânica contra Estados soberanos. Procuramos uma consideração urgente da situação emergente através do Conselho de Segurança da ONU”, enfatizou a porta-voz da diplomacia russa, Maria Zakharova.
A diplomata classificou os ataques aéreos nos territórios do Iraque e da Síria como “um total desrespeito pelo direito internacional por parte dos Estados Unidos”.
Ao atacar quase continuamente alvos alegadamente pertencentes a grupos pró-iranianos, os Estados Unidos estão deliberadamente tentando mergulhar os maiores países da região no conflito, assinalou a porta-voz russa.
Zakharova registrou ainda que a operação aérea dos EUA na região foi a maior desde 2003 e não tem justificativa, apesar de “apresentada por Biden como um ‘ato de retaliação’ por um ataque com um UAV de origem desconhecida a uma base dos EUA na Jordânia.
“Tentativas de ‘flexionar os músculos’ com o objetivo de influenciar a situação política interna na América, o desejo de corrigir de alguma forma o curso fracassado do atual governo americano na arena internacional, através de uma nova escalada da tensão mundial, só irá minar ainda mais a posição dos EUA no mundo árabe”, ela advertiu.
Zakharova concluiu apontando que Washington não procura e nunca procurou soluções para os problemas da região, e só faz piorar “as contradições crônicas no Médio Oriente”.
O Ministério das Relações Exteriores do Irã repeliu no sábado (3) os ataques aéreos dos EUA durante a noite de sexta-feira no Iraque e na Síria, chamando-os de “violações da soberania e da integridade territorial” dos dois países.
Os ataques dos EUA foram concebidos “para ofuscar os crimes de Israel em Gaza”, sublinhou o porta-voz Nasser Kanaani, expondo a indisfarçável escalada promovida por Washington em socorro do regime de Netanyahu, acuado na Corte de Haia, devido à acusação de genocídio e intenção de genocídio, impetrada pela África do Sul, símbolo no mundo inteiro da luta contra o apartheid, o racismo e o fascismo.
Kanaani disse que “a causa raiz das tensões e crises no Oriente Médio é a ocupação de Israel e o genocídio dos palestinos com o apoio ilimitado da América”.
O próprio Biden se encarregou de chamar sua violação da soberania alheia de “retaliação” ao ataque com drone a uma base norte-americana na fronteira jordano-síria, em que três soldados dos EUA morreram e 40 ficaram feridos.
Base que é parte do complexo de Al Tanf, este inequivocamente em solo sírio, que sustenta a ocupação ilegal de um terço do território sírio pelos EUA e a pilhagem constante de petróleo e trigo.
Os bombardeios norte-americanos à Síria e ao Iraque provocaram cerca de 39 mortos, segundo avaliações iniciais, inclusive de civis, e, segundo Washington, atingiram “85 alvos”. Na agressão, os EUA utilizaram até mesmo bombardeiros B-1, que decolaram do Texas.
Kanaani considerou o ataque norte-americano aos dois países árabes “outro erro aventureiro e estratégico dos Estados Unidos que resultará apenas no aumento da tensão e na instabilidade na região”.
O porta-voz iraniano também instou o Conselho de Segurança da ONU a prevenir “ataques ilegais e unilaterais dos EUA na região”. Antes das provocações dos EUA de sexta-feira, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, dissera que o Irã não iniciaria uma guerra, mas que “responderia fortemente a qualquer um que tentasse intimidá-lo”.
Síria e Iraque repudiaram a escalada, que poderá arrastar a região para “consequências indesejáveis”.
“A Síria condena esta flagrante violação americana e rejeita categoricamente todos os pretextos e mentiras promovidos pela administração americana para justificar este ataque”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Síria em um comunicado no sábado (3).
Damasco denunciou “danos significativos” e acusou Washington de atacar as forças sírias encarregadas de conter os remanescentes do Estado Islâmico. Acrescentou que está determinado a libertar todo o território sírio de todo o terrorismo e ocupação, incluindo a ocupação dos EUA, que “não pode persistir”.
“A agressão dos EUA hoje de madrugada não tem justificativa, mas é uma tentativa de enfraquecer a capacidade do exército sírio de combater o terrorismo”, afirmou.
O porta-voz das Forças Armadas do Iraque, Yahya Rasool, chamou os ataques norte-americanos de “violação da soberania iraquiana”, que poderá “arrastar o Iraque e a região para consequências indesejáveis, os resultados serão terríveis para a segurança e estabilidade no Iraque e na região”.
De acordo com autoridades de segurança iraquianas, os ataques dos EUA atingiram instalações utilizadas pelo al Hashed al Shabi ou Unidades de Mobilização Popular (PMU) perto da fronteira Iraque-Síria.
Foram quatro séries de ataques contra a província síria de Deir Ezzor, cuja capital sofreu um apagão. Supostas instalações dos grupos paramilitares na região desértica de Mayadin e a leste da cidade de Abu Kamal, perto da fronteira com o Iraque, foram bombardeadas. A Al Qaim, no Iraque, perto da fronteira com a Síria, também foi bombardeada.
Biden prometeu continuar a escalada “contra a Guarda Revolucionária Islâmica do Irã (IRCG) e milícias afiliadas em momento e local de nossa escolha”. Já os republicanos acusam Biden de ter “telegrafado” por dias o bombardeio, “com altos funcionários americanos informando sobre sua natureza, sua gravidade e até insinuando seus alvos”, na descrição da CNN.
BORRELL PEDE “DESESCALADA”
A União Europeia avalia a situação no Oriente Médio como crítica após os ataques dos EUA na Síria e no Iraque, teme que saia do controle e pede uma desescalada, disse o chefe de política externa da UE, Josep Borrell, ao chegar a uma reunião informal de ministros das Relações Exteriores da UE.
“Temos repetido mais uma vez que o Oriente Médio é uma caldeira que pode explodir”, disse Borrel a repórteres. “Pedimos a todos que tentem evitar uma escalada. Estamos vivendo uma situação crítica no Oriente Médio, em toda a região”, enfatizou.
IÊMEN: “ATÉ QUE A AGRESSÃO A GAZA PARE”
No sábado (3), EUA e Reino Unido voltaram a bombardear o Iêmen, tendo perpetrado mais de 35 ataques contra 13 cidades iemenitas, inclusive Sanaa, a capital, segundo o canal libanês Al-Mayadeen.
O porta-voz dos revolucionários do movimento Ansarallah, Muhamad Abdel Salam, afirmou no domingo (4) que “a continuação dos ataques americanos e britânicos contra o Iêmen não alcançará nenhum objetivo para os agressores, mas aumentará os seus dilemas e problemas a nível regional”.
Dirigindo-se aos governos dos EUA e do Reino Unido, Abdel Salam recomendou que em vez de criar tensões e abrir uma nova frente na região, prestem atenção à opinião pública internacional, que exige a cessação imediata da agressão israelense, o levantamento do cerco de Gaza e não proteger Israel à custa do povo palestino.
“É preciso sublinhar que as incursões agressivas, seja contra o nosso país, seja contra o Iraque e a Síria, aumentarão o ódio do povo e o unirá contra a presença colonial americana na região”, acrescentou
A decisão do Iêmen de apoiar Gaza – ele enfatizou – “é firme e baseada em princípios, pelo que não será afetada por qualquer agressão”.
Diante do cerco total israelense que está matando os palestinos de Gaza de fome e os bombardeios inclementes e expulsão dos palestinos de seus lares, o Iêmen decidira bloquear a passagem no Mar Vermelho às embarcações israelenses ou transportando cargas para Israel, o que vem fazendo desde novembro, e que só foi ampliado para embarcações norte-americanas e ingleses quando Washington e Londres começaram a bombardear o país.
Ele advertiu que as capacidades militares do Iêmen não podem ser facilmente destruídas, uma vez que foram reconstruídas durante anos de uma guerra dura.
O bombardeio deste domingo foi executado com mísseis Tomahawk lançados de navios de Guerra dos EUA na região e por caças-bombardeiros F/A-18 do porta-aviões USS Eisenhower.
O Iêmen prometeu responder “à escalada com escalada”, sublinhou Mohammed Al Bukhaiti. As operações militares contra Israel vão continuar “até que a agressão contra Gaza pare, não importa que sacrifícios isso nos custe”.
Fonte: Papiro