Bombardeio a mando de Biden atinge cidade síria | Foto: Al Arabya

Os EUA bombardearam na sexta-feira (2) a Síria e o Iraque, sob alegação de retaliação ao ataque de drone contra sua base ilegal de Al Tanf de domingo passado, que matou três soldados norte-americanos e feriu 40, no mesmo dia em que chegaram aos EUA os corpos dos soldados mortos.

Em clima de pré-campanha eleitoral, o presidente Joe Biden anunciou em comunicado os ataques, apontando como alvo instalações do “IRCG [Guarda Revolucionária Iraniana] e milícias afiliadas”.

Observadores registraram que a retaliação amplia o risco da extensão do conflito em Gaza a toda a Ásia Ocidental, já que o que está levando as forças da resistência – como o Hezbollah libanês e os grupos armados iraquianos – a reagir é o genocídio perpetrado por Israel em Gaza com armas norte-americanas há quatro meses. Mesma razão que levou os revolucionários do Iêmen a decretar o fim do trânsito de navios ligados a Israel pelo Mar Vermelho, enquanto o morticínio continuar.

O Pentágono anunciou que os ataques serão “multiníveis” e por vários dias. Nesse primeiro ataque, foram 85 locais bombardeados. Seriam “centros de comando e controle, armazéns de foguetes, mísseis e drones, centros logísticos e locais de distribuição de munição”.

Veículos de imprensa da Síria afirmaram que os locais atingidos ficam em áreas de deserto do país, e que há vítimas.

Essa reação ao genocídio em Gaza já resultara em mais de 150 ataques a instalações norte-americanas na região desde 7 de outubro, causando uma centena de feridos. O fato novo foi que a defesa antiaérea norte-americana falhou e o estrago foi enorme. Além dos três soldados mortos, outros oito precisaram ser transportados para um hospital militar na Alemanha. Ao todos, são 40 feridos.

AL TANF

Um colunista da agência russa Ria Novosti observou que persistem questionamentos sobre exatamente qual foi a base dos EUA que foi atacada, com Washington insistindo em falar da “Torre 22”, localizada na fronteira, mas na Jordânia, enquanto na Jordânia surgiram relatos de que o ataque fora na base de Al Tanf, em território sírio.

“Aqui, claro, há uma diferença fundamental: na Jordânia, as instalações americanas estão localizadas no âmbito de um tratado bilateral, portanto, do ponto de vista do direito internacional, os Estados Unidos têm todo o direito de se defender. Na Síria, os americanos estão por sua própria vontade, por isso é problemático apresentar ataques de qualquer lado como agressão”.

Al Tanf é a base do lado sírio da fronteira que dá sustentação à ocupação de um terço do território sírio mantido pelos norte-americanos, eo que inclui o roubo do petróleo sírio e do trigo da região. Conforme vazou pela imprensa norte-americana, o drone atacante foi confundido com um drone usado pela própria tropa norte-americana, que deveria estar de volta.

De qualquer forma, a “Torre 22” é só uma instalação de acesso a Al Tanf pelo lado jordaniano; ali há uma espécie de tríplice fronteira, Síria, Jordânia e Iraque.

IRà

Em um discurso na sexta-feira na cidade de Minab, o presidente iraniano reiterou que o Irã “não iniciará nenhuma guerra, mas se um país ou uma força hostil quiser nos intimidar, receberá uma resposta dura e contundente”.

No domingo, a Resistência Islâmica no Iraque, uma coalizão de grupos de milícias, reivindicou a responsabilidade, dizendo em um comunicado que “se os EUA continuarem apoiando Israel, haverá escaladas” e que “todos os interesses dos EUA na região são alvos legítimos”.

Na segunda-feira, o The New York Times admitira que, segundo “autoridades da inteligência americanas”, embora o Irã forneça armas, financiamento e, às vezes, inteligência a seus grupos proxy, “não há evidências de que dê os tiros – o que significa que pode não ter sabido com antecedência sobre o ataque na Jordânia”.

Nesse mesmo dia, o porta-voz da diplomacia iraniana, Nasser Kanaani, assinalou em comunicado que os grupos de milícias iraquianas “não aceitam ordens” do Irã e descartou como “infundada” qualquer alegação de que o Irã dirigiu o primeiro ataque mortal contra militares americanos desde 7 de outubro.

“Repetir as alegações infundadas contra o Irã”, acrescentou Kanaani, “é transferir a culpa e um complô daqueles que veem seus interesses em mais uma vez envolver os EUA em um novo conflito na região e provocá-lo para expandir e escalar a crise, a fim de colocar um freio em seus problemas dessa maneira”.

PRIMÁRIAS ESQUENTAM

Biden chegara a dizer que “não acredito que precisemos de uma guerra em grande escala no Oriente Médio, não é isso que procuro”. Mas, com pesquisas eleitorais que não são propriamente alvissareiras e com a terça-feira gorda das primárias chegando, ele desencadeou uma operação típica norte-americana de boca de urna, com aviões de guerra norte-americanos bombardeando terra alheia.

Em um artigo de opinião para a revista Time, Mark Weisbrot e Justin Talbot Zorn, do Centro de Pesquisa Econômica e Política, enfatizaram que, se o governo Biden realmente quer evitar uma guerra direta com o Irã e um conflito regional mais amplo, deveria buscar um cessar-fogo na Faixa de Gaza em vez de contribuir para o ciclo crescente de violência no Oriente Médio.

“Quaisquer que sejam as motivações do Irã e das milícias regionais aliadas, está claro que eles têm lançado ataques em resposta a Gaza”, escreveram Weisbrot e Zorn. “Durante o cessar-fogo de seis dias entre Israel e o Hamas em novembro, os ataques de milícias contra as tropas americanas pararam em grande parte.”

Eles chamaram Biden a usar “sua influência para trazer um cessar-fogo”. “Isso poderia salvar milhares de vidas e evitar uma guerra regional ampliada. Poderia muito bem salvar sua presidência também.”

IRAQUE PROTESTA

Porta-voz das forças armadas iraquianas declarou que os ataques violam flagrantemente a soberania iraquiana, minam os esforços do governo iraquiano e representam uma ameaça significativa que pode arrastar o Iraque e a região para consequências altamente indesejáveis.

Yahya Rasool Abdullah afirmou que as cidades de al-Qaim e as áreas fronteiriças iraquianas foram sujeitas a “ataques” aéreos por aviões norte-americanos, acrescentando que estes “ataques” ocorrem numa altura em que o Iraque se esforça para garantir a estabilidade da região.

Um funcionário do Ministério do Interior iraquiano informou à AFP que, com base em informações preliminares, o “ataque” americano teve como alvo um depósito de armas leves. Fontes do portal libanês Al Mayadeen confirmam que a maioria dos locais visados tinha sido evacuada antes da agressão. No balanço inicial da agressão, dois civis mortos em Al Qaim.  Como resultado da agressão, a eletricidade foi completamente cortada em Deir Ezzor, na Síria.

REPUBLICANO ACHA POUCO

O senador Roger Wicker, líder republicano no Comitê de Serviços Armados no Senado dos EUA, criticou o governo Biden, a quem acusou de “telegrafar” o ataque e dar tempo para a evacuação dos locais visados.

“O governo Biden passou quase uma semana telegrafando as intenções dos EUA para nossos adversários, dando-lhes tempo para se realocar e se esconder”, em uma indicação clara de que Washington está tentando garantir a evacuação de quaisquer locais que planeja atacar, ele asseverou.

Fonte: Papiro