Foto: Rafael Ribeiro/CBF

O julgamento do jogador brasileiro Daniel Alves, acusado de estupro de uma jovem na Espanha em 2022, teve início nesta segunda-feira (5), em Barcelona, e deve se estender até a quarta-feira (7).  Ele está preso no país há um ano. 

A sessão começou com as considerações iniciais das partes, além da apresentação, por parte do Ministério Público, de documentos relativos ao caso. 

A defesa do jogador pediu a suspensão do julgamento, o que foi negado, alegando suposta violação de direitos do jogador pelo fato de a juíza responsável não ter aceitado que um segundo perito examinasse a vítima. Tal argumento foi rechaçado pela procuradora do Ministério Público e pela advogada da vítima. Ainda segundo a defesa do jogador, Alves estaria sendo vítima de um “tribunal paralelo” da opinião pública. 

Também nesta segunda-feira, a vítima presta seu depoimento, de maneira privada e com imagem e voz distorcidas, para preservar sua identidade. Além da jovem e do jogador, serão ouvidas 28 testemunhas que estavam na boate onde o caso ocorreu, em 30 de dezembro de 2022. O último dia do julgamento terá o depoimento de Alves e a apresentação de laudos e relatórios periciais. 

A acusação queria que Daniel Alves fosse condenado à pena máxima para esse tipo de crime na Espanha, que é de 12 anos se não houver agravantes, mas o Ministério Público espanhol fixou o pedido em nove anos. Além disso, se condenado, ele terá de pagar cerca de 150 mil euros (R$ 798 mil) à vítima para cobrir eventuais danos e prejuízos.

Tentativa de acordo

Como forma de estancar o processo, o jogador vem tentando fechar acordo com a vítima para o pagamento de indenização. Conforme noticiado, mesmo com o julgamento iniciado, um acordo ainda pode ser feito, desde que antes de proferida a sentença. 

No entanto, segundo noticiado, essa tratativa está ainda mais difícil de ser levada a cabo após a divulgação, por parte da mãe de Daniel Alves, Lúcia Alves, de imagens da jovem nas redes sociais, o que estava proibido por determinação da Justiça da Espanha. 

Em janeiro deste ano, a União Brasileira de Mulheres (UBM) entregou ao Ministério Público Federal um pedido de investigação criminal contra a mãe do jogador, após ela expor o rosto e o nome da mulher que acusa o jogador de estupro, o que pode ser considerado crime de violência psicológica contra a vítima. A jovem também deverá processar a brasileira.

Ao longo das investigações, Daniel Alves apresentou ao menos três diferentes versões e se contradisse sobre o caso. Inicialmente, afirmou, a um canal de TV, que não conhecia a jovem. Depois, disse à juíza responsável que manteve relações sexuais consensuais sem penetração. Mais tarde, alegou que teria havido penetração, mas repetiu que teria sido consensual. 

Devido ao processo, Daniel Alves teve suas contas bloqueadas. Recentemente, como forma de ajudá-lo, o pai do jogador Neymar Jr., Neymar da Silva Santos, encaminhou 150 mil euros para Alves, usados para pagar a “atenuante de reparação de dano causado”. A quitação desse valor pode ajudar a diminuir a possível pena em caso de condenação. 

No mundo do futebol, o caso foi tratado com distanciamento e silêncio, em mais uma demonstração da condescendência e proteção masculina com relação à violência sexual. O mesmo tipo de comportamento foi dedicado a outros casos graves, como o de Robinho, condenado a nove anos de prisão, no final do ano, por estupro coletivo na Justiça italiana. Em 2024, ele deverá ser julgado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) do Brasil, que definirá se o jogador cumprirá a pena aqui. 

Com agências

(PL)