Secretário-geral da ONU, Antonio Guterres | Divulgação

“Uma ofensiva israelense total sobre a cidade de Rafah, em Gaza, seria não só aterradora para os mais de um milhão de civis palestinos que aí se encontram abrigados, como também colocaria o último prego no caixão dos nossos programas de ajuda”, afirmou o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, na abertura da 55ª sessão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, realizada nesta segunda-feira (26) em Genebra, Suíça.

Conforme Guterres, “nada justifica a punição coletiva do povo palestino”, expressa nos 30 mil mortos e mais de 80 mil feridos e mutilados desde o dia 7 de outubro pelos sionistas.

O alerta do dirigente da ONU ocorreu um dia após o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, ter reiterado que suas tropas vão lançar uma ofensiva em grande escala em Rafah para garantir a “vitória total” sobre a resistência do movimento palestino Hamas.

Apontando que “Rafah é o centro da operação de ajuda humanitária”, Guterres assinalou que “a espinha dorsal desses esforços” é a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), que vem sendo sabotada pelo governo israelense e teve suas remessas de recursos suspensas por iniciativa dos Estados Unidos.

Para o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini, a situação da agência alcançou “o ponto de ruptura” com “os repetidos apelos israelenses para o seu desmantelamento e congelamento do financiamento dos doadores”.

Na sua campanha propagandística para o cerco e aniquilamento de todo um povo, Israel acusou 12 membros da UNRWA de envolvimento com o Hamas. Assim, mesmo sem ter exibido qualquer sombra de prova, conseguiu com que 16 países suspendessem o financiamento da agência, reduzido em 450 milhões de dólares.

SABOTAGEM DE ISRAEL INCLUI “DESINFORMAÇÃO”

O Alto-Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, denunciou a profundidade e a desumanidade do corte em meio ao agravamento da fome e da destruição de casas, escolas e hospitais, condenando “as tentativas de minar a legitimidade e o trabalho das Nações Unidas e de outras instituições”. Tais “tentativas”, apontou o advogado austríaco, “incluem a desinformação que visa as organizações humanitárias e as forças de manutenção da paz da ONU”, além do seu próprio gabinete.

Antônio Guterres voltou a defender uma “reforma profunda” do Conselho de Segurança da ONU “e dos seus métodos de trabalho”, já que “está frequentemente bloqueado, incapaz de atuar sobre as questões de paz e segurança mais importantes do nosso tempo”. O secretário-geral lembrou que, em dezembro passado, invocou pela primeira vez o artigo 99º da Carta das Nações Unidas, “para exercer a maior pressão possível sobre o Conselho”. O objetivo, disse, era fazer “tudo ao seu alcance para pôr termo ao derramamento de sangue em Gaza e evitar uma escalada”. Isso “não foi suficiente” e “o direito internacional humanitário continua a ser atacado”, frisou.

As afirmações de Guterres ocorreram menos de uma semana depois de os EUA, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU terem vetado um projeto de resolução proposto pela Argélia exigindo um cessar-fogo humanitário imediato na Faixa de Gaza.

A resolução, que teve amplo apoio dos países árabes, recebeu 13 votos a favor, um voto contra (Estados Unidos) e uma abstenção (Reino Unido), tendo sido essa a terceira vez desde o início da operação genocida, em outubro passado, que Washington bloqueia uma resolução pelo cessar-fogo em Gaza.

Fonte: Papiro