Ministro Vieira apresenta a posição brasileira ao encontro de chanceleres do G20 | Foto: Divulgação/G20

O G20 tem “virtual unanimidade” sobre a necessidade de dois Estados como solução do conflito entre Israel e Palestina, afirmou o ministro de Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira, após o segundo e último dia da Reunião de Chanceleres do grupo das 20 maiores economias do mundo, no Rio de Janeiro, na quinta-feira (22).

O Brasil preside o G20 em 2024 e, entre os temas que levou para debate, estão também a reforma da governança global – como o Conselho de Segurança da ONU, OMC, FMI e Banco Mundial – e o combate à fome.

A reunião é uma prévia da cúpula anual do G20, que vai ocorrer em 18 e 19 de novembro, também no Rio de Janeiro.

O ministro assinalou que houve diversos pedidos pela liberação imediata do acesso para a ajuda humanitária a Gaza, apelos pela cessação das hostilidades, manifestações de preocupação com o deslocamento forçado de 1,1 milhão de palestinos para o sul da Faixa, bem como pela imediata libertação dos reféns em poder do Hamas.

REPÚDIO AO ATAQUE DE ISRAEL A RAFAH

“Muitos se posicionaram contrariamente à operação de Israel em Rafah, pedindo que o governo de Israel reconsidere e suspenda imediatamente essa decisão”, destacou Vieira.

Segundo as agências de notícias, o chefe da diplomacia do bloco europeu, Josep Borrell, havia pedido que o Brasil fosse “o porta-voz da solução dos dois Estados” para a região e que defendesse a questão para o mundo.

Em seu balanço da reunião, Vieira salientou que “não interessa ao Brasil viver em um mundo fraturado” e expressou o compromisso do país de trabalhar pela superação dos atuais desafios internacionais.

“Para o Brasil, é algo urgente e prioritário. Todos concordaram quanto ao fato de que as principais instituições multilaterais […] precisam de reformas para se adaptarem aos desafios do mundo atual”, sublinhou.

Na véspera, ao abrir o encontro Vieira havia afirmado que o Brasil não aceita um mundo em que as diferenças sejam resolvidas pela força militar e dito que a ONU está “paralisada”.

“Nossas posições sobre os casos ora em discussão no G20, em particular a situação na Ucrânia e na Palestina, são bem conhecidas e foram apresentadas publicamente nos foros apropriados, como o Conselho de Segurança da ONU e a Assembleia Geral da ONU”.

RESTABELECER OS MECANISMOS MULTILATERAIS

Em seu pronunciamento de quinta-feira, Vieira registrou a grande concordância quanto a que as principais instituições multilaterais precisam de reformas para se adaptar ao mundo atual. Em especial, o Conselho de Segurança da ONU.

“Todos mencionaram a necessidade de conferir impulso às discussões da necessidade da reforma da organização, em especial do seu Conselho de Segurança, com inclusão de novos membros permanentes e não permanentes, sobretudo da América Latina e Caribe e da África.”

“As diferentes propostas existentes nesse sentido precisam ser efetivamente debatidas e pretendemos impulsionar esse processo”, ele acrescentou.

Vários discursos também conclamaram ao restabelecimento da capacidade de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio, OMC.

O chefe da diplomacia brasileira registrou ainda a “grande convergência” sobre a necessidade de que o FMI e o Banco Mundial possam “facilitar acessos a financiamentos a países mais pobres” e a “urgência” de se aumentar a representatividade do mundo em desenvolvimento “em sua governança”.

Questão que o próprio presidente Lula tratara durante sua recente visita à Etiópia, em que dissera que “Essas entidades vão servir para financiar o desenvolvimento dos países pobres ou vão continuar existindo para sufocar os países pobres?”.

PROTAGONISMO DO BRASIL

Vieira anunciou que proposta do Brasil para realizar uma segunda reunião dos ministros das Relações Exteriores do G20 em setembro, à margem da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, foi muito bem recebida.

“Será a primeira vez que o G20 se reunirá dentro da sede da ONU, em sessão aberta para todos os membros da organização, para promover um chamado em ação da reforma da governança global.”

A reunião de chanceleres no Rio de Janeiro também marca a retomada, pelo Brasil, do protagonismo na cena internacional, com o presidente Lula, depois de quatro anos de subserviência, negacionismo e bolsonarismo.

O encontro no Rio contou com a participação de 45 delegações de países-membro, países convidados e organizações internacionais, sendo 32 delegações chefiadas em nível ministerial.

Como presidente temporário do grupo, o Brasil escolheu três temas prioritários para serem discutidos ao longo do ano: combate à fome, à pobreza e às desigualdades; transição energética e enfrentamento às mudanças climáticas; e reformas das instituições multilaterais.

O G20 representa dois terços da população mundial, 85% da economia e 75% do comércio global, incluindo África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia e Turquia, mais a União Africana e a União Europeia.

Fonte: Papiro