Foto: Divulgação Prefeitura do Rio

Os ministros dos negócios estrangeiros do G20 estão reunidos no Rio de Janeiro esta quarta e quinta-feira, sob a sombra de conflitos globais em Gaza e na Ucrânia, além de outras crises menos noticiadas como a da República Democrática do Congo (RDC). Este encontro, marcado por discussões cruciais sobre tensões mundiais e o aprimoramento das organizações multilaterais, é especialmente significativo, dado o contexto de desafios que o mundo enfrenta atualmente.

No discurso de boas-vindas aos chanceleres do G20, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, foi enfático em dizer que é inaceitável a paralisia do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) diante do número recorde de conflitos no mundo, que ele estimou em mais de 170. (Leia mais abaixo)

O Brasil, que assumiu a presidência da cúpula anual do G20 em dezembro de 2023, colocou a reforma da governança mundial, a luta contra as mudanças climáticas e a redução da pobreza como suas prioridades para 2024. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem defendido a expansão do Conselho de Segurança da ONU, uma proposta que encontrou resistência entre os membros permanentes do Conselho, que possuem poder de veto.

Um diplomata europeu destacou que o encontro serviria como um momento para “desabafos”, visando impulsionar a reforma multilateral e diagnosticar os problemas enfrentados pelas organizações globais. Esse foco na reforma multilateral reflete o crescente desejo de muitos países por uma representação mais equitativa nas instituições globais.

Além das discussões sobre conflitos e reforma multilateral, a reunião do G20 no Rio de Janeiro também focará no combate à pobreza e à fome. A importância da experiência do Brasil com o programa “Bolsa Família” é lembrada internacionalmente por conseguir retirar cerca de 18 milhões de famílias da pobreza e representa um modelo potencialmente replicável em países africanos.

O G20, que reúne países responsáveis por aproximadamente 85% do PIB global e 75% do comércio internacional, tem uma oportunidade única de influenciar positivamente as questões mais prementes do mundo. Com temas que vão desde a reforma da governança global até o combate à fome, o encontro no Rio de Janeiro poderá ser um marco na busca por soluções conjuntas para os desafios globais.

A postura do Brasil no cenário internacional foi recentemente marcada por controvérsias, especialmente após críticas do Presidente Lula à incapacidade das Nações Unidas de resolver o conflito israelo-palestiniano. Acusações de genocídio dos palestinos por Israel feitas por Lula provocaram uma crise diplomática, levando à convocação do embaixador brasileiro no país.

A reunião do G20 no Rio também promete momentos de alta tensão diplomática, com a presença do Secretário de Estado americano Antony Blinken e do ministro russo dos Negócios Estrangeiros Sergueï Lavrov. Este será o primeiro encontro cara a cara entre os dois desde um breve diálogo no ano passado em Nova Delhi, acrescentando uma camada de expectativa ao evento. O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, estará ausente.

Blinken no Planalto

O encontro ocorrido hoje em Brasília, entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o secretário de Estado americano, Antony Blinken, antecipa algumas posições em debate no Rio de Janeiro. Eles discutiram temas que vão desde questões bilaterais até desafios globais complexos como o conflito na Faixa de Gaza e a situação política na Venezuela.

Blinken optou por uma abordagem focada em temas como emprego, cooperação ambiental e a busca por uma solução pacífica para o conflito palestino, reiterando o apoio dos EUA à criação de um Estado palestino independente.

Esta visita de Blinken ao Brasil, a primeira durante o mandato de Lula, sinaliza um fortalecimento das relações diplomáticas, especialmente após encontros anteriores de Lula com o presidente Joe Biden nos Estados Unidos.

Além das questões geopolíticas, a reunião também pautou preocupações com as próximas eleições na Venezuela e as ameaças de invasão à Guiana, temas delicados que requerem atenção especial e diálogo contínuo. O Brasil, sob liderança de Lula, tem atuado como mediador em conflitos regionais, buscando evitar escaladas de violência e promover a paz.

No âmbito ambiental e econômico, as discussões abordaram desde o apoio americano ao Fundo Amazônia até a transição energética e o fortalecimento de fóruns empresariais. Com os olhos voltados para o G20 e além, Brasil e Estados Unidos caminham juntos na construção de uma parceria estratégica mais robusta e significativa.

Unidos contra as fraturas globais

Durante a abertura da reunião dos chanceleres do G20, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, definiu o tom para o que promete ser um encontro marcado pela busca de soluções para as divisões globais e a reforma das instituições de governança mundial. Vieira destacou a importância do G20 como plataforma para a resolução de diferenças e a promoção da paz.

Prioridades Brasileiras no G20

O chanceler brasileiro ressaltou as três prioridades principais estabelecidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva: “o combate à fome, pobreza e desigualdade; o desenvolvimento sustentável, em suas dimensões econômica, social e ambiental; e a reforma da governança global.” A ênfase foi dada à necessidade urgente de reformar a governança global, tema central da reunião.

O ministro ressaltou a crescente relevância do G20 como fórum internacional, capaz de reunir países com visões diversas para diálogos produtivos, superando as posições arraigadas que frequentemente paralisam outros foros, como o Conselho de Segurança da ONU.

Apelo Global Contra a Fome

Vieira fez um apelo aos países membros para apoiarem a iniciativa de uma “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, uma prioridade-chave da presidência brasileira, visando anunciar contribuições significativas para erradicar a fome no mundo durante a Cúpula de Líderes do Rio de Janeiro em novembro.

Discussões sobre Paz e Segurança

O ministro chamou a atenção para o papel do G20 na mediação de tensões internacionais, enfatizando que, apesar de as Nações Unidas serem o principal foro para questões de paz e segurança, o G20 se destaca como um espaço onde “países com visões opostas ainda conseguem se sentar à mesa e ter conversas produtivas.”

Enfatizando a necessidade de uma reforma na governança global, Vieira defendeu, ainda, a adoção de soluções pacíficas para conflitos, rejeitando o uso da força militar como meio de resolver diferenças entre nações. “O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar… Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado”, declarou o Ministro.

Preocupação com Conflitos e a Postura do Brasil

A preocupação do Brasil com os conflitos globais foi enfatizada, apontando para o número recorde de conflitos em andamento – mais de 170 – e o aumento das tensões geopolíticas. Vieira lembrou o histórico do país em buscar soluções diplomáticas e construir consensos, respeitando a autodeterminação dos povos.

O Brasil, segundo Vieira, mantém uma posição única que permite discutir tensões internacionais em qualquer fórum, tendo apresentado suas visões sobre os conflitos na Ucrânia e na Palestina em instâncias como o Conselho de Segurança e a Assembleia Geral da ONU.

Chamado por Ação Concreta

Destacando o desequilíbrio entre gastos militares e investimentos em desenvolvimento e combate à mudança climática, o chanceler questionou a eficácia das ações atuais frente às ameaças existenciais. “Não consigo evitar a sensação de que nos faltam ações concretas sobre tais questões,” declarou Vieira, apontando para a necessidade urgente de repensar as prioridades globais.

Encorajamento ao Diálogo e Cooperação

Finalizando, o ministro Vieira incentivou os membros do G20 a focarem no diálogo e na cooperação como meios de superar divergências, rejeitando o uso da força e outras práticas contrárias ao multilateralismo. “O Brasil está pronto para contribuir com ideias e propostas concretas nesse sentido,” concluiu, enfatizando a disposição do Brasil em liderar esforços para uma governança global mais eficaz e pacífica.

Este encontro do G20 no Rio de Janeiro surge como um momento crucial para a diplomacia internacional, com o Brasil posicionando-se como um mediador em potencial na busca por soluções conjuntas para os desafios globais mais prementes. A liderança brasileira no G20 aponta para uma era de diplomacia focada na construção de pontes entre nações, na esperança de superar as fraturas que ameaçam a estabilidade mundial.

(por Cezar Xavier)