Chanceler israelense, Israel Katz, e o embaixador brasileiro Frederico Meyer. Foto: Reprodução Redes Sociais

O tratamento prestado ao embaixador brasileiro Frederico Meyer após a justa crítica do presidente Lula à “tentativa de genocídio promovida por Israel contra o povo palestino” é inabitual na diplomacia. Tanto que o episódio levou a um rápido crescimento das tensões, o que pode ser lido como parte do marketing da guerra promovido por Israel.

Como já indicou o chanceler brasileiro Mauro Vieira, Lula não deverá se retratar como querem os israelenses. O assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República, Celso Amorim, chegou a afirmar que a chance de Lula voltar atrás em sua fala é zero.

O que o presidente fez foi convocar de volta ao Brasil o embaixador submetido à “emboscada” como sinal de desaprovação do novo espetáculo grotesco promovido pelo governo do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.

A voz insurgente de Lula sobre o massacre perpetrado na Faixa de Gaza, onde, desde 7 de outubro, 29 mil pessoas foram mortas, sendo 12.400 crianças, recebeu apoio de entidades de diversos setores da sociedade civil. Espera-se que a denúncia feita pelo presidente sirva como referência para que a comunidade internacional avance no sentido da promoção de paz no conflito que envolve a Palestina e Israel.

Marketing de guerra

Segundo o cientista político, Maurício Santoro, colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha, em entrevista ao Estadão, a ação de Israel em levar o embaixador do Brasil Frederico Meyer ao Memorial do Holocausto para uma declaração pública em que Lula foi declarado “persona non grata” foi uma decisão “dura” e que foge dos protocolos da diplomacia. A indicação em latim é utilizada para indicar que Lula não é bem-vindo ao país.

Ele explica que a simples convocação de um embaixador para prestar esclarecimentos já é um instrumento para demonstrar insatisfação. Assim, da forma como foi feito pelos israelenses, serviu para que a crise avançasse de forma rápida.

Para Santoro, a situação é irônica, uma vez que Lula foi o primeiro presidente brasileiro a visitar Israel de forma oficial, em 2010. Ao Valor, o especialista ainda lembrou que a tradição da diplomacia brasileira é em defesa de Israel e pela criação do Estado Palestino.

No entanto, com a convocação de retorno de Meyer ao Brasil por tempo indeterminado, é preciso aguardar para avaliar como o status do desentendimento irá se desenrolar. Por ora, a situação das arestas criadas deve se manter.

‘Emboscada’

Fontes da diplomacia brasileira ouvidas pelo blog da jornalista Andreia Sadi, no g1, classificam o ato com Meyer no Memorial do Holocausto como “emboscada”. Isto porque o embaixador brasileiro foi exposto ao estar em uma situação em que o chanceler israelense, Israel Katz, falou a todo momento em hebraico sem tradução para Meyer, que não domina o idioma.

No sentido contrário, o embaixador israelense no Brasil, Daniel Zonshine, foi convocado para uma reunião no Rio de Janeiro com o chanceler brasileiro Mauro Vieira, que mostrou como a diplomacia deve se comportar: não expôs Zonshine à imprensa e ainda disponibilizou tradutor em inglês para a comunicação, que no caso, não foi necessário, de acordo com o blog.

Ainda assim, interlocutores afirmam que Vieira mostrou firmeza em repreender o trato oferecido a Meyer e chamou a atenção de Zonshine que tal postura não contribui para o vasto rol de relações bilaterais mantidas entre os países.

A volta de Meyer a Israel dependerá dos rumos que a tensão tomará na próxima semana. No momento ele traça viagem de retorno ao Brasil, o que demonstra a insatisfação por aqui pelo tratamento dispendido à diplomacia nacional.