Evento conservador dominado por desinformação reúne Trump, Milei e Eduardo Bolsonaro
Donald Trump e Javier Milei nos bastidores da CPAC, encerrada neste sábado (24) em Washington.| Foto: Reprodução / @Cpac
No sábado, durante um discurso na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), o ex-presidente Donald Trump proclamou-se um “orgulhoso dissidente político”, desencadeando uma retórica carregada de confronto e determinação. Diante de uma audiência fervorosa, Trump afirmou que a sua reeleição representaria o “dia da libertação” para os seus apoiantes e o “dia do julgamento” para os seus oponentes políticos.
Essa escolha de palavras impressionante ocorre num momento em que Trump, nos últimos dias, fez comparações entre a sua situação jurídica e a do líder da oposição russa Alexey Navalny, que faleceu recentemente numa prisão estatal russa. Os comentários de Trump no sábado foram interpretados como uma escalada significativa dessa retórica desafiadora.
“Em muitos aspectos, estamos vivendo um inferno neste momento, porque o fato é que Joe Biden é uma ameaça à democracia”, declarou Trump à multidão no CPAC. “Estou aqui hoje não apenas como o vosso presidente passado e, esperançosamente, futuro, mas como um orgulhoso dissidente político. Eu sou um dissidente.”
Essas observações marcaram o ponto culminante de uma conferência de quatro dias fortemente influenciada pelos elementos mais conspiratórios do movimento de Trump. Dentro do CPAC, o ex-presidente é visto como o presidente legítimo, alegações de fraude eleitoral são aceites como factos e o ataque ao Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 é reinterpretado de forma revisionista.
Um ano após ter afirmado na CPAC: “Eu sou a vossa retribuição”, Trump compartilhou uma nova visão de vingança política, centrada não na punição dos seus adversários, mas sim no sucesso futuro dos Estados Unidos.
“A vossa liberdade será a nossa recompensa final, e o sucesso sem precedentes dos Estados Unidos da América será a minha vingança final e absoluta”, declarou Trump. “Isso é o que eu quero. O sucesso será a nossa vingança.”
No entanto, outros discursantes no CPAC expressaram um desejo por uma luta mais direta. Tom Fitton, presidente do grupo de defesa legal de direita Judicial Watch, pediu ação contra o ex-presidente Barack Obama, gerando clamores de “Prenda-o” da plateia.
Enquanto Trump discursava no CPAC, os eleitores na Carolina do Sul participavam das primárias presidenciais republicanas. Lá, Trump enfrenta a ex-governadora do estado, Nikki Haley, que promete desafiá-lo durante a Superterça. Embora Trump não tenha mencionado Haley durante o seu discurso em Maryland, ele preparou o terreno para uma possível revanche com Biden nas eleições gerais.
Num discurso repleto de previsões sombrias, Trump retratou um cenário distópico para a América sob um segundo mandato de Biden. Ele sugeriu que a nação enfrentará “apagões constantes”, “inflação desenfreada” e um aumento nas travessias ilegais de fronteira, prevendo até mesmo a possibilidade de uma “Terceira Guerra Mundial”.
“Se o corrupto Joe Biden e os seus aliados vencerem em 2024, o pior ainda está por vir”, alertou Trump. “O nosso país está sendo destruído, e a única coisa que nos protege da sua destruição sou eu.”
Para Trump, votar nele é uma “passagem de volta à liberdade”.
Em resposta, a campanha de Biden classificou os comentários de Trump como “bizarras” e acusou Trump e os republicanos de ameaçarem retirar as liberdades dos americanos.
“Donald Trump é um perdedor”, afirmou o porta-voz da campanha de Biden, Ammar Moussa. “Sob a sua presidência, a América perdeu mais empregos do que qualquer presidente na história moderna. Os republicanos perderam o rumo ao colocar a busca de Trump pelo poder acima da nossa democracia.”
À medida que as eleições se aproximam, o cenário político americano continua a ser marcado por tensões profundas e narrativas de confronto que definem o legado de Trump e o futuro da nação.
Argentina e Brasil
Durante a CPAC, Trump e o presidente argentino Javier Milei fizeram referência à frase “Make Argentina Great Again”, uma adaptação do lema de campanha de Trump, “Make America Great Again” (MAGA). O evento ocorreu em Maryland e contou com a participação de diversos líderes conservadores, incluindo o deputado federal brasileiro Eduardo Bolsonaro.
Embora o ex-presidente Jair Bolsonaro tenha sido convidado para o evento, ele não pôde comparecer devido à apreensão de seu passaporte durante a operação Tempus Veritatis, conduzida pela Polícia Federal brasileira. A defesa de Bolsonaro solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) a devolução do documento para que ele pudesse participar da conferência, porém, não há informações públicas sobre o deferimento ou não do pedido pelo relator do caso, ministro Alexandre de Moraes.
Enquanto Jair Bolsonaro não pôde comparecer, seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, fez uma intervenção na CPAC. Ele denunciou alegadas perseguições do atual governo brasileiro a figuras da oposição, incluindo seu pai, entre outros.
Por sua vez, Javier Milei concentrou-se em suas ideias econômicas e anti-“woke” (movimento contra a educação sobre gênero e diversidade nas escolas e restrições ao debate sobre racismo e sexualidade em universidades). Ele destacou a importância de não permitir o avanço do socialismo, rejeitar a regulação excessiva e resistir à agenda da justiça social. Milei ainda aproveitou o mote de Trump e declarou que não se renderá “até tornar a Argentina grande novamente”. Ele finalizou seu discurso com seu famoso bordão: “¡Viva la libertad, carajo!”.
O evento na CPAC mostra como líderes conservadores de diferentes países estão buscando inspiração e conexões para fortalecer seus movimentos políticos e promover ideias compartilhadas de liberdade para ataques discriminatórios e preconceituosos, conservadorismo e oposição ao que percebem como agendas progressistas. A presença de líderes latino-americanos como Milei e a referência à frase “Make Argentina Great Again” destacam a influência global desses movimentos e sua busca por unidade em torno de ideais comuns.
(por Cezar Xavier)