Plataforma de petróleo na província argentina de Neuquen | Foto: AFP/Juan Mabromata

Em consonância com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o presidente Javier Milei está colocando em prática um plano de “ajuste fiscal” que concentra ainda mais recursos no governo central, afrontando o funcionamento das províncias (Estados), que ficarão sem recursos.

Tendo seus caixas esvaziados até mesmo para pagar os salários dos servidores públicos, sejam eles professores, policiais, médicos ou enfermeiros, todos os 23 governadores condenaram o arrocho a que vem sendo submetidos e, neste sábado (24), alguns mandatários decidiram partir para o confronto.

O governador de Chubut, Ignacio “Nacho” Torres, uma das principais regiões produtoras de petróleo e gás, afirmou que “na próxima quarta-feira [28], não sairá nem uma gota de petróleo se não respeitarem, de uma vez por todas, as províncias e não retirarem o pé de cima”. Numa disputa por justiça na distribuição de recursos, Torres se soma a outros governadores contra a adoção de “ajustes fiscais” que inviabilizam o funcionamento da máquina pública estadual.

A força da reação estampa o isolamento de Milei. Chubut, a segunda maior província produtora de petróleo e gás depois de Neuquén, ganhou o apoio de outras nove administradas por aliados de centro-direita, entre elas Tierra del Fuego, Santa Cruz, Río Negro, La Pampa e Neuquén.

De forma categórica, os governadores anunciaram na sexta-feira (23) que, “se o Ministério da Economia não entregar os recursos de Chubut, Chubut não entregará seu petróleo e gás”.

Além da retirada de fundos, a questão dos maus-tratos é grave, ressaltam os governadores, pois “não há ninguém com quem conversar. O que um conserta, outro desfaz. Mas, acima de tudo, ninguém resolve nada”.

“DEGENERADOS FISCAIS”

A caminho dos Estados Unidos, Milei chamou de “degenerados fiscais” os governadores que criticam o corte de 13,5 bilhões de pesos (R$ 80,2 milhões) nas transferências mensais de fundos federais e apoiam sua reivindicação.

Descontrolado, Milei escreveu “Nacho e seus cúmplices”, ameaçando os governadores com até dois anos de prisão, dizendo que no Código Penal está prevista a pena para quem impeça, atrapalhe ou dificulte o fornecimento de energia. “Pobrezito Nachito, é um menino pobre que não vê. Não pode ler sequer um contrato. É de uma precariedade intelectual muito grande”, declarou Milei ao canal LN desde Washington, onde participava da Conferência da Ação Política Conservadora (Cpac).

O atual ministro da Economia, Luis Caputo, (ministro da pasta e presidente do Banco Central no governo de Maurício Macri), alegou que o corte de fundos foi devido a uma dívida não paga de Chubut no valor de 119 bilhões de pesos (R$ 667 milhões), situação que pode se repetir com outras dez províncias devedoras.

“Estados empenhados em apoiar os esforços para reduzir de forma duradoura a inflação, melhorar as finanças públicas e aumentar o crescimento liderado pelo setor privado”, declarou a diretora do FMI, Kristalina Georgieva, agradecendo a dedicação de Milei.

Segundo o presidente, “o Fundo mostrou-se colaborativo na busca das soluções estruturais de que a Argentina precisa”.

Diante de sua política ultraneoliberal e de aberto confronto com os representantes da sociedade, em apenas dois meses o apoio de Milei despencou 15%, assinalou o Centro de Estudos de Opinião Pública (Ceop). Pesquisa divulgada pelo Ceop na semana passada aponta que já são mais os que avaliam mal (54%) a gestão do presidente do que bem (46%). Juntamente com o colapso da figura de Milei, vem o colapso de um dos seus argumentos centrais: nada menos que 75,9% dos entrevistados disseram que o ajuste vem sendo pago pelo povo contra apenas 6,7% de que “a casta paga”.

Fonte: Papiro