Anistia condena “hipocrisia dos EUA” ao cortar recursos à ONU em Gaza e armar Israel
A Anistia Internacional juntou-se ao coro global de reprovação aos EUA, Reino Unido, Alemanha e Itália e mais alguns países, por cortarem fundos para a agência da ONU para assistência aos refugiados palestinos (UNRWA), sob uma acusação de Israel de que 12 entre 13.000 funcionários da agência teriam supostamente “envolvimento” com o ataque do Hamas de 7 de outubro, isso, poucas horas após a Corte Internacional de Justiça ter decidido prosseguir a ação apresentada pela África do Sul, contra Israel, por genocídio e incitação ao genocídio.
“Alguns dos próprios governos que anunciaram que cortarão fundos à UNRWA por causa dessas alegações continuaram, enquanto isso, a armar as forças israelenses, apesar das evidências esmagadoras de que essas armas são usadas para cometer crimes de guerra e graves violações dos direitos humanos”, disse a secretária-geral da Anistia Internacional e ex-Relatora Especial da ONU sobre Execuções Extrajudiciais, Agnès Callamard.
“Correr para congelar fundos para ajuda humanitária, com base em alegações que ainda estão sendo investigadas, enquanto se recusa a sequer considerar suspender o apoio aos militares israelenses é um exemplo gritante de dois pesos e duas medidas”, ela sublinhou.
“Em vez de suspender o financiamento vital para aqueles que precisam”, acrescentou Callamard, “os Estados deveriam estar trabalhando para interromper as transferências de armas para Israel e grupos armados palestinos e pressionando por um cessar-fogo imediato e sustentado e acesso humanitário total para ajudar a aliviar o sofrimento devastador”.
“A crise humanitária atingiu níveis catastróficos, e quaisquer limitações adicionais à ajuda resultarão em mais mortes e sofrimento.”
“Supostas ações de alguns indivíduos não devem ser usadas como pretexto para cortar a assistência que salva vidas, o que pode equivaler à punição coletiva”, ela assinalou.
Para observadores, a suspensão do financiamento da UNRWA é um ato de cumplicidade explícita com a guerra genocida de Israel no sitiado enclave palestino.
UNRWA, UMA RESPOSTA AO DESTERRO PALESTINO
A Agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) foi criada em 1949 por decisão da Assembleia Geral da ONU, em resposta à Nakba (Catástrofe, como denominam os palestinos ao desterro a que foram forçados sob terror israelense), de 1948, em que multidões de palestinos foram forçadas para fora de seus lares por milícias israelenses, e desde então presta assistência humanitária em Gaza, na Cisjordânia e em campos de refugiados palestinos que operam no Oriente Médio.
O comissário-geral da UNRWA, Philippe Lazzarini, chamou de “chocante” a suspensão de fundos, lembrando que esta é “a principal agência humanitária em Gaza, com mais de 2 milhões de pessoas dependendo dela para sua sobrevivência”.
O relógio está correndo para uma fome iminente, ele acrescentou. “A agência administra abrigos para mais de 1 milhão de pessoas e fornece alimentos e cuidados de saúde primários, mesmo no auge das hostilidades.”
Ele observou, ainda, que a UNRWA “compartilha a lista de todos os seus funcionários com os países anfitriões todos os anos, incluindo Israel”, e “nunca recebeu quaisquer preocupações sobre membros específicos da equipe”.
“Seria imensamente irresponsável sancionar uma agência e toda uma comunidade que ela atende por causa de alegações de atos criminosos contra alguns indivíduos, especialmente em um momento de guerra, deslocamento e crises políticas na região”.
“ESPINHA DORSAL DA ASSISTÊNCIA HUMANITÁRIA”
“A UNRWA é a espinha dorsal de toda a resposta humanitária em Gaza”, enfatizou Guterres, chamando Washington, Londres e Berlim a reverem esse corte desumano – quando os mais de dois milhões de palestinos estão à beira de uma fome catastrófica, depois de quatro meses de bombardeios israelenses, 90% da população expulsa de seus lares, hospitais, escolas, mesquitas e universidades atacadas, 90 mil palestinos mortos ou feridos, sob um cerco que já foi comparado ao de Leningrado. “
Os recursos da UNRWA mal bastam para manter a assistência humanitária em Gaza em fevereiro. Noruega, Espanha, Irlanda, Bélgica e Luxemburgo se recusaram a aderir a essa cínica punição coletiva, que inclusive viola a Convenção da ONU de Prevenção do Genocídio.
Posição que foi saudada pelo ex-deputado do Knesset e líder do partido Balad/Tajamou, Sami Abou Shehadeh. O apoio dado por “Espanha, Bélgica, Luxemburgo, Noruega e Irlanda ao papel e mandato da UNRWA é uma lição de decência”.
“Obrigado por seu apoio ao povo palestino, à humanidade e aos princípios básicos de uma ordem internacional baseada em regras”, ele postou no X, referindo-se aos países que não se dobraram à manobra de Biden.
Ao reiterar que Madri não iria suspender o financiamento da UNRWA, o ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, disse que a agência da ONU tem sido insubstituível para “aliviar a terrível situação humanitária em Gaza”.
“Não nos resignaremos a ver mais mulheres, homens e crianças inocentes mortos em Gaza e mais sofrimento das famílias palestinas”, disse Albares. “Não vamos nos resignar a ficar assistindo ao sofrimento das famílias dos reféns. A violência tem de acabar.”
LAVROV DESANCA “PUNIÇÃO COLETIVA”
O ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, censurou a campanha encabeçada por Washington contra a agência da ONU que presta assistência aos refugiados palestinos, por meio do corte do financiamento.
“O que aconteceu e está acontecendo é punição coletiva, proibida pelo direito humanitário internacional”, disse Lavrov.
Ele acrescentou que uma “investigação” sobre as alegações de que o pessoal da UNRWA esteve envolvido no ataque de 7 de Outubro “não deve ser substituída por punição coletiva da agência e do povo de Gaza”.
Fonte: Papiro