Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A enquete de opinião promovida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que questiona a opinião de médicos sobre a vacinação de crianças contra a covid-19 gerou revolta devido ao negacionismo que contamina o CFM.

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), entidades médicas e de infectologia e da ciência vieram a público condenar a ação do Conselho.

Em nota publicada na última segunda, a SBPC critica o CFM afirmando que ciência não é matéria de opinião, objeto que o Conselho induz em seu questionário. Ainda, a SBPC afirma que protocolos de prevenção e de tratamento de doenças são desenvolvidos a partir de pesquisas, do laboratório aos seres humanos.

“Não se decide se a Terra é redonda ou plana, se Marte é um planeta ou um holograma, por meio de enquetes de opinião, como essa ora realizada pelo CFM. Questões científicas são tratadas por cientistas, mediante procedimentos rigorosos e mundialmente consagrados”, completa o texto.

Da mesma forma, outras entidades também criticaram o conselho. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) divulgou um posicionamento em que critica a pesquisa conduzida pelo CFM.

No formulário disponível, o CFM alega que está conduzindo a pesquisa “para entender a percepção dos médicos brasileiros” sobre a obrigatoriedade da imunização de crianças, e afirma que a opinião dos profissionais “é fundamental para enriquecer a análise e contribuir para a tomada de decisões futuras”.

Para a SBIm, a pesquisa equipara as crenças pessoais dos médicos à ciência, o que pode gerar insegurança na comunidade médica e afastar a população das salas de vacinação. “A SBIM entende que a pesquisa realizada pelo CFM não trará nenhum benefício à sociedade”, afirma a instituição científica.

A SBIm lembra que a covid-19 foi responsável por 5.310 casos de Síndrome respiratória aguda grave (SRAG) e 135 mortes entre crianças menores de 5 anos no Brasil em 2023, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, que reúne dados até novembro.

Além disso, desde o início da pandemia, houve 2.103 casos de Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P), considerada uma manifestação tardia da covid-19, com 142 mortes. Diante disso, a sociedade ressalta que a vacinação contra a covid-19 é uma estratégia comprovadamente eficaz e segura para a prevenção da doença, potencialmente fatal também entre crianças.

Da mesma forma, em carta aberta conjunta, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) questionam a enquete feita pelo CFM. “Esta pesquisa está aberta a todos os médicos, com quatro perguntas sem opção de argumentos ou comentários, desprovida de metodologia adequada para os objetivos propostos”, diz a nota.

“Existem claras evidências que apontam os benefícios da vacinação pediátrica na prevenção das formas agudas da doença, reduzindo o risco de hospitalizações, bem como suas complicações em curto e longo prazo na população pediátrica. Estas evidências apontam a necessidade de que tenhamos vacinas atualizadas e disponíveis para o grupo de crianças menores de 5 anos, onde ainda temos uma proporção significativa de crianças nunca infectadas e sem doses de vacina”, argumentam as duas entidades.

Sobre a autonomia dos médicos, a SBI e a SBP dizem que “todas as medidas de saúde pública devem ser seguidas pelos médicos ligados ao Conselho Regional de Medicina (CRM) e ao CFM”.

Durante a pandemia, a postura do CFM em não condenar a prescrição de cloroquina e hidroxicloroquina, remédios sem eficácia contra Covid-19, gerou repercussão na comunidade médica. Em 2021, a Defensoria Pública da União chegou a entrar com uma ação civil contra a entidade por danos morais coletivos pela indicação do uso dos medicamentos.

Fonte: Página 8