Porta despencou do avião da Boeing em pleno voo | Foto: Reprodução

A Administração Federal de Aviação dos Estados Unidos (FAA) anunciou na quinta-feira (11) que abriu uma investigação formal sobre o Boeing 737 Max 9 depois que um pedaço da fuselagem da aeronave se soltou em pleno voo em uma rota da Alaska Airlines na semana passada, forçando um pouso de emergência.

No sábado (6), a FAA havia suspendido a operação de 171 jatos Boeing Max 9 que têm o mesmo equipamento conhecido como plugue de porta que se soltou durante o voo da Alaska, para inspeções de segurança, a maioria deles operada pela United Airlines e pela Alaska Airlines e United Airlines.

A aeronave da Alaska Airlines, que estava em serviço há apenas oito semanas, decolou de Portland, Oregon, na sexta-feira (5) e estava voando a 4.900 metros de altura quando parte da fuselagem se soltou do avião, abrindo a porta da cabine.

“Deixou um buraco no avião do tamanho de uma geladeira”, segundo um passageiro. “Foi realmente brutal. Mal alcançamos a altitude e o painel da janela se soltou”, testemunhou o passageiro

Kyle Rinker ao canal americano CNN. Os pilotos fizeram uma aterrissagem de emergência em Portland, com passageiros tendo sofrido, além do susto, apenas ferimentos leves.

O Conselho Nacional de Segurança dos Transportes dos EUA (NTSB) está verificando se os parafusos que prendem o painel estavam devidamente apertados ou se algum deles estava faltando.

O presidente-executivo da Boeing, Dave Calhoun, disse à CNBC na quarta-feira (10) que houve um “escape de qualidade” que fez com que o Max 9 que estava no ar tivesse parte da fuselagem solta.

Em um discurso interno para a equipe na terça-feira (9), Calhoun disse: “Vamos abordar esse problema reconhecendo nosso erro”.

O escritório de advocacia Stritmatter entrou com uma ação coletiva contra a Boeing na quinta-feira (11) em King County, Washington, em nome dos passageiros do voo da Alaska Airlines, citando a admissão de Calhoun do “erro” da Boeing em relação ao MAX 9.

Segundo várias operadoras de viagens, mais passageiros estão verificando o modelo da aeronave antes de reservar voos após o incidente com a Alaska Airlines.

REPUTAÇÃO EM RUÍNA

O incidente – registrou a CNN – renova os questionamentos sobre a competência da Boeing, que em 2019 teve seu modelo 737 Max 8 aterrado por quase dois anos no mundo inteiro após dois acidentes em cinco meses em que morreram 346 pessoas, devido a um erro de projeto.

Relatório do Congresso dos EUA de setembro de 2020 atribuiu o colapso dos 737 Max 8 “à pressão competitiva, às falhas de design e uma cultura de encobrimento” por parte do fabricante de aviões e uma regulação da FAA “fundamentalmente falha” – a Boeing, na prática, ‘fiscalizava’ a si mesma.

Para manter a fundamentalmente a mesma estrutura do avião, com um motor maior, a Boeing instalou um software que deveria corrigir o problema, mas que em determinadas circunstâncias impelia o avião a mergulhar de cabeça, à revelia do piloto.

Analistas acusam a Boeing de estar mais interessada nos lucros, do que na engenharia – e segurança – propriamente dita.

Na crise de 2019, a Boeing teve sua participação de 50%-50% com a Airbus europeia no mercado de jatos de passageiros corroída. Em 2003, a Boeing terminou o ano em segundo lugar em entregas de aeronaves, o que ocorre pelo quinto ano consecutivo.

A Airbus registrou quase 2.100 novos pedidos líquidos em 2023 (61%), enquanto a Boeing registrou 1.314 (39%) novos pedidos líquidos. Em 2022, o prejuízo da Boeing totalizou 5,1 bilhões de dólares — foi o quarto ano consecutivo em que a empresa fechou o balanço no vermelho.

“PROCESSO NÃO CONVENCIONAL”

Em abril do ano passado, já na evolução do modelo para o 737 Max 9, novo problema de software chamou a atenção. Um relatório divulgado pelos portais especializados em aviação Airfinance Journal e Leeham News revelou que o processo de configuração dos computadores da aeronave apresentou defeitos, especialmente a operação conhecida como Option Selection Software (OSS).

Um mês antes, a FAA havia determinado às companhias aéreas que inspecionassem seus modelos Max para investigar um possível parafuso solto nos sistemas de controle do leme. De acordo com a Boeing, sua fornecedora Spirit AeroSystems havia utilizado um processo “não convencional” ao montar parte da fuselagem dos aviões, gerando a possibilidade dos modelos “não cumprirem certas especificações” dos reguladores do setor.

“ACHAMOS A PORTA!”

A porta do avião da Alaska Airlines, que se separou da fuselagem logo após a decolagem no dia 5, foi encontrada, anunciaram as autoridades da aviação americana. “Estou feliz em informar que encontramos a porta”, disse Jennifer Homendy, presidente da agência de segurança de transporte dos EUA, o National Transportation Safety Board (NTSB), em entrevista coletiva.

Um professor recuperou a placa de metal em seu quintal em Portland, Oregon. “Ele tirou uma foto. Nas fotos só consigo ver a parte externa da porta, as partes brancas. Não vemos mais nada, mas vamos pegar e começar a analisar”, disse a responsável do NTSB.

Trata-se de uma porta bloqueada e escondida por uma divisória, configuração oferecida pela Boeing aos clientes que a solicitam. Esses modelos têm “a porta do meio bloqueada”, segundo a diretriz da FAA publicada em seu site.

“DISCREPÂNCIAS ADICIONAIS”

As negociações entre a Boeing, a FAA e as companhias aéreas sobre as instruções revisadas de inspeção e manutenção da Boeing terminaram na quinta-feira (11) sem acordo, conforme fontes com conhecimento do assunto. A FAA disse que o incidente da Alaska Airlines “nunca deveria ter acontecido e não pode acontecer novamente”.

A agência disse à Boeing, em uma carta datada de quarta-feira (10), que a investigação era para determinar se a fabricante de aviões não havia conseguido garantir que os produtos concluídos estivessem em conformidade com seu projeto aprovado e estivessem em condições de operação segura de acordo com as regras da FAA. A agência citou “discrepâncias adicionais” em outros aviões 737 Max 9.

Em comunicado, a Boeing, cujas ações fecharam em queda de 2,3% depois de uma queda de mais de 10% desde o incidente, prometeu cooperar “de forma completa e transparente com a FAA e o NTSB em suas investigações”.

A Alaska Airlines e a United disseram na segunda-feira (8) que encontraram peças soltas em várias aeronaves que tiveram as operações suspensas durante verificações preliminares, levando a reacender as preocupações sobre como a família de jatos mais vendida da Boeing é fabricada. Centenas de voos foram cancelados.

A United Airlines revelou na semana passada, que múltiplos parafusos soltos foram encontrados em várias aeronaves 737 Max 9, amplificando os temores sobre a insegurança do modelo da Boeing.  De acordo com a publicação especializada Industrial Air Current, a United identificou parafusos discrepantes em pelo menos cinco painéis de diferentes aeronaves, durante inspeções iniciadas após o acidente.

Senadores norte-americanos se dirigiram ao presidente-executivo da Boeing, questionando o controle de qualidade da fabricante de aviões.

“Considerando os trágicos acidentes anteriores com aeronaves Boeing 737 Max, estamos profundamente preocupados que os parafusos soltos representem um problema sistêmico com a capacidade da Boeing de fabricar aviões seguros”, escreveram a Calhoun os senadores Ed Markey, JD Vance e Peter Welch.

A presidente do Comitê de Comércio do Senado, Maria Cantwell, enviou carta à FAA em que advertiu que os processos de supervisão da FAA “não têm sido eficazes” para garantir que a Boeing produza aviões em condições operacionais seguras.

Na semana passada, o secretário de Transportes dos EUA, Pete Buttigieg, esquivou-se de informar quando a FAA poderá permitir que os aviões retomem os voos, recomendando à Boeing que garanta que seus aviões sejam “100% seguros”.

Fonte: Papiro