No dia em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anuncia, em Brasília, a Nova Indústria Brasil, uma pesquisa mostra quão complexo e desafiante será o caminho desta que é a principal aposta do governo para a neoindustrialização. Embora o parque industrial brasileiro seja um dos 15 maiores do mundo, o País amarga posições vexatórias em termos de crescimento da produção fabril.

É o que indica o ranking global de desempenho da produção física, um levantamento do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) divulgado nesta segunda-feira (22). Baseado em dados da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido), o estudo aponta que o Brasil ocupa apenas a 58ª posição entre 115 países.

O resultado se refere ao terceiro trimestre de 2023. Mesmo três contrações seguidas da indústria – sendo a última de 0,9% –, o Brasil, inusitadamente, subiu 20 posições. Isso porque a produção em 57% desses países também registou recuo entre julho e setembro do ano passado, incluindo Alemanha, Coreia do Sul e Japão. A Europa, em conjunto, despencou -1,7%, e a América Latina, -1,4%. Assim, o tombo brasileiro foi menor do que o da média mundial.

Do ponto de vista global, o crescimento, de tão modesto, sugere uma grande estagnação. Mesmo com o fim da pandemia de Covid-19, os 115 países tiveram, juntos, uma alta de apenas 0,4% entre o terceiro trimestre de 2022 e o terceiro de 2023.

Mas Rafael Cagnin, economista do Iedi, frisa que muitos países podem alternar períodos de alta e baixa. Não foi o caso brasileiro. “O que é de particular do Brasil é que a produção local pisou mais forte no freio”, diz Rafael. “Desde o terceiro trimestre de 2021, o País tem resultado menores que o agregado mundial.”

Mais surpreendente é o topo da lista, formado pelos países cuja produção industrial que mais cresceu no período. Aí estão, em ordem, Macau (China, com 58,2% em um ano), Belarus (14,1%), Mongólia (13,8%) e Bangladesh (12,7%). A Rússia, às voltas com uma guerra e sob retaliações do Ocidente, cresceu 6,8%. Entre os continentes, só a Ásia cresceu: 1,8%.

Rafael Cagnin, porém, vê com bons olhos o caminho do Brasil rumo à neoindustrialização sob o governo Lula. Segundo ele, há medidas que têm impacto imediato para a indústria, como os créditos do BNDES. Outras, como a reforma tributária e o plano Nova Indústria Brasil, requerem mais tempo para gerar resultados. “As sinalizações que temos para este ano são positivas”, conclui o economista do Iedi.