Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Os equipamentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que foram encontrados na casa de Alexandre Ramagem, pela Polícia Federal, dois anos depois dele deixar a direção do órgão – um notebook e um celular – haviam sido registrados como devolvidos. Esta é mais uma evidência de que o aliado de Bolsonaro, tentava esconder seu esquema de espionagem ilegal contra jornalistas, políticos da oposição e ministros do STF.

Segundo os investigadores da Polícia Federal que estão atuando no caso, cerca de 30 mil pessoas podem ter sido espionadas durante a passagem de Ramagem pela Abin.

A Abin afirma que registrou a devolução do notebook e dos celulares funcionais do atual deputado bolsonarista federal Alexandre Ramagem (PL) após sua exoneração, em 2022.

A apreensão, agora, de equipamentos internos em posse de seu ex-diretor-geral surpreendeu a agência, que informou que vai investigar inclusive de qual departamento e de quem seria a responsabilidade pelo notebook e celular confiscados pela Polícia Federal nessa quinta-feira (25).

Alguém está mentindo. O órgão de inteligência diz que recebeu de volta os equipamentos das mãos do ex-diretor, mas eles foram encontrados esta semana escondidos na casa de Ramagem. Além disso, o próprio ex-diretor afirmou, em entrevista, depois da apreensão, que não havia devolvido os equipamentos. “Não tem utilização há mais de três anos, sem uso. Mesmo sem uso, não devolve. Poderia devolver, mas não devolvi”, disse.

A Abin alega que faz parte do rito comum de desligamento de um agente da Abin que ele passe por uma entrevista e que não possa deixar o órgão antes de devolver todos os equipamentos que estejam com ele. Esses itens são catalogados e há controle interno com a atribuição de um código para cada um deles.

Usualmente, se houver resistência ou não devolução, além de sindicância para apurar a apropriação indevida do patrimônio, o fato é comunicado a outros órgãos, e, enquanto houver a pendência, não pode nem ser indicado a outros cargos no governo.

Além do notebook e celular, foram apreendidos com Ramagem 20 pen drives. A Abin fornece a seus agentes um pen drive criptografado, que dá acesso ao sistema interno da agência. A Polícia Federal ainda não sabe dizer se algum desses pen drives pertence à agência e se tem as características de chave de acesso. Esse item é o mais sensível, porque esses pen drives contém senhas de acesso a sistemas, inclusive remotamente, para quem estiver fora da agência.

A Abin jura que as senhas de Ramagem foram bloqueados após a sua saída. Agentes notaram, no entanto, uma situação pouco usual: e-mails de Ramagem, e outros policiais federais que integravam a chamada “Abin paralela” ainda aparecem em seus sistemas internos. Entre eles, por exemplo, está o e-mail de Marcelo Bormevet, ex-chefe do Centro de Inteligência Nacional, e Luiz Felipe de Barros Félix, que foi lotado no gabinete do diretor-geral. Ambos foram alvos da Operação Vigilância Máxima, da PF, que mirou a “Abin paralela” no governo Jair Bolsonaro (PL).

Os policiais identificaram ligações entre os nomes que aparecem nos e-mails e “missões” contra adversários políticos de Bolsonaro. Segundo o site Metrópole, Marcelo Bormevet foi o responsável por mandar oficiais levantarem suspeitas sobre prefeitos e governadores em meio à pandemia da Covid. A ordem foi recebida com insatisfação por agentes da Abin. O movimento foi visto, segundo a reportagem, internamente à época como uma tentativa de abastecer o presidente Jair Bolsonaro (PL) em meio a uma briga com estados e municípios no auge da CPI da Covid no Congresso Nacional.

Fonte: Página 8