Gonzalo Lira, o jornalista morto sob custódia pelo regime de Kiev | Foto: La Tercera

Mantido incomunicável e sob tortura desde maio de 2023, o jornalista, escritor, blogueiro e cineasta Gonzalo Lira, morreu nesta sexta-feira (12) numa prisão ucraniana por criticar o governo de Vladimir Zelensky, a ascensão do nazismo em Kiev e a intervenção da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

A informação foi dada pelo pai, Gonzalo Lira Senior, que afirmou que o profissional de comunicação de 55 anos foi submetido a uma morte propositalmente lenta, que se deu com a anuência do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

“Não posso aceitar a forma como meu filho morreu. Ele foi torturado, extorquido e ficou incomunicável durante oito meses e 11 dias, e a embaixada dos EUA nada fez para ajudar. A responsabilidade desta tragédia é do ditador Zelensky, com a concordância de um presidente americano senil, Joe Biden”, lamentou o pai do jornalista, Gonzalo Lira Senior.

Em uma carta escrita à mão, o jornalista pediu aos familiares que divulgassem a precariedade da situação em que foi mantido na prisão, relatando a negligência das autoridades de Kiev e da Justiça diante do agravamento do seu quadro de saúde.

PNEUMONIA DUPLA, PNEUMOTÓRAX E EDEMA

“Avisem a minha irmã: Tive pneumonia dupla (ambos os pulmões), além de pneumotórax [ar entre as duas camadas da pleura, membrana fina que reveste os pulmões e o interior da parede torácica] e um caso muito grave de edema (inchaço). Tudo isso começou em meados de outubro, mas foi ignorado pela prisão, em uma audiência em 22 de dezembro. Estou prestes a passar por um procedimento para reduzir a pressão do edema em meus pulmões, que está me causando extrema falta de ar, a ponto de desmaiar após atividades mínimas, ou mesmo apenas falar por dois minutos”, relatou.

O jornalista disse ter recebido cuidados na prisão somente da representação chilena, enquanto a embaixada dos EUA ligou para ele “três vezes”, não lhe dando “nada além de ‘apoio’: um disparate vazio”. Lira ressaltou que se dependesse da subsecretária de Estado dos EUA, Victoria Nuland, seria extraditado, pois ela “me odeia profundamente, ou pelo menos foi o que me disseram”.

Quando questionado sobre o destino de Lira em agosto, o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Matthew Miller, recusou-se a dar qualquer resposta, alegando razões de “privacidade”.

CRÍTICO DA MÍDIA OCIDENTAL

Morador de Carcóvia, a segunda maior cidade ucraniana, Lira era casado com uma ucraniana e usava o seu canal no YouTube para divulgar notícias sobre o conflito com a Rússia. Era bastante crítico da mídia ocidental, a quem acusava de retratar a Ucrânia como uma “democracia”, denunciava a corrupção desenfreada do governo e apontava uma lista de opositores de Zelensky que informou terem sido “desaparecidos”.

O jornalista foi preso em 5 de maio de 2023 acusado de divulgar desinformação, insultar militares de Zelensky e fazer propaganda para o governo russo, e libertado após pagar fiança. Ele havia sido detido anteriormente, em abril, pelo Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU), pelas mesmas acusações, mas foi então liberado com a repercussão global do caso. Libertado sem acusação, foi impedido de acessar suas contas e instruído a não deixar a cidade, para depois ser novamente preso e ficar incomunicável até a sua morte, agora anunciada.

Lira é autor de vários romances em inglês e espanhol, incluindo o thriller de espionagem de 2002, ‘Acrobat’.  Afirmava que a Ucrânia não tinha nenhuma possibilidade de ganhar a guerra contra a Rússia e responsabilizava o governo Zelensky e seus patrocinadores ocidentais pela tragédia em curso.

Fonte: Papiro