Estações de trem alemãs lotadas durante a paralisação | Vídeo

Greve dos maquinistas de trens da Alemanha entrou no quarto dia nesta sexta-feira (12), contra perdas salariais e elevação das horas trabalhadas. A greve teve início após a suspensão das negociações entre o Sindicato dos Maquinistas Alemães (GDL) e a Deutsche Bahn (DB), operadora estatal de transporte ferroviário, iniciadas em dezembro, terem fracassado.

A greve dos maquinistas começou na terça-feira (9) com a paralisação dos trens de carga, seguida da interrupção dos serviços de passageiros, nesta quarta-feira (10). As medidas dos grevistas forçaram a operadora nacional da ferrovia a funcionar em serviços mínimos, contando linhas e horários de circulação dos trens. 

Os trabalhadores travam uma longa disputa sobre salários e horários de trabalho. Eles exigem uma redução gradual da jornada laboral de 38 para 35 horas semanais sem diminuição do salário, um aumento nos salários de no valor de 420 euros [cerca de 2.250 reais] em duas etapas e um incremento significativo das indenizações, assim como estabelecimento de um gatilho para compensar novas perdas salariais. 

“É insuportável para o GDL ver até que ponto as diretrizes da empresa ferroviária, financiada com dinheiro dos contribuintes, se distanciam das condições de vida e de trabalho de seus próprios empregados”, afirmou o presidente do sindicato, Claus Weselsky, em nota.

O sindicato exige ainda um aumento de 5% da contribuição patronal para o plano de pensões da empresa, um aumento do prêmio de trabalho por turnos para 25%, entre outros pontos, tudo a ser implementado no prazo de 12 meses.

A Deutsche Bahn tentou legalmente impedir a greve, mas, na terça-feira à noite, um tribunal afirmou a legalidade da greve.

A GREVE REPERCUTE EM TODA A EUROPA

As consequências da greve também são sentidas nos países vizinhos, uma vez que quase 60% dos serviços de transporte de mercadorias da Deutsche Bahn são realizados em toda a Europa. Seis dos 11 corredores de transporte de mercadorias na Europa passam pela Alemanha, de acordo com o Ministério Alemão da Digitalização e Transportes. “A Alemanha é o coração logístico da Europa”, diz Thomas Puls, do Instituto de Economia Alemã (IW).

O trânsito de automóveis no país também é afetado até o final da semana pelos agricultores alemães que iniciaram uma semana de protestos, nesta segunda-feira (8), com manifestações bloqueando estradas com tratores contra medidas do governo de cortar programas sociais e subsídios ao produtor rural.

Entre os protestos destacou-se a presença de mais de 500 tratores estacionados em frente ao Portão de Brandemburgo, em Berlim, além de manifestações em Munique, Hamburgo, Wiesbaden, Magdeburg, Mainz e Bremen. Na Baviera, escolas passaram para o ensino à distância devido aos protestos.

ALEMANHA ESTÁ EM RECESSÃO

A Alemanha está oficialmente em recessão e deve fechar o ano de 2023 com uma queda no PIB em torno de 0,3% de acordo com dados da Comissão Europeia. Trata-se de um dos piores desempenhos econômicos no bloco, uma vez que a previsão de crescimento da União Europeia como um todo em 2023 é de pífios 0,6%. 

Entre as causas está a crise energética que afetou a Alemanha mais fortemente do que a seus vizinhos continentais, principalmente porque o governo liderado por Olaf Scholz  concordou em diminuir a compra do gás russo após o início da operação militar especial. E ainda teve a explosão dos gasodutos Nord Stream em setembro de 2022 que, segundo o jornalista norte-americano Seymour Hersh, contou com o apoio e aprovação prévios de Washington.  

“Além do aumento no preço de energia resultante das sanções contra a Rússia, a Alemanha também sofreu com a alta da inflação dos preços gerais da economia, incentivando o Banco Central Europeu a subir os juros, afetando assim o poder de compra da população e impactando o consumo. As empresas alemãs, com isso, não somente perderam competitividade internacional com a aplicação das sanções, como o país agora arrisca passar por um processo de desindustrialização.  A título de exemplo, a empresa BASF, reconhecida gigante do setor químico, está cortando mais de 2.500 empregos na Alemanha e abrindo uma fábrica na China”, assinalou Valdir da Silva Bezerra em artigo do site Sputnik Brasil. 

Fonte: Papiro