Nas últimas semanas, após as fortes chuvas que atingiram o estado do Rio de Janeiro, 12 pessoas morreram e milhares ficaram desabrigadas | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Em meio à última tragédia provocada pelas chuvas no Rio de Janeiro, “fruto da ausência de obras de drenagem, sem nenhum tipo de planejamento ambiental”, a CTB-RJ (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil) denuncia o abandono da população em artigo publicado em seu site, questionando sobre o que foi feito com os bilhões da venda da Cedae, privatizada em 2021.

A entidade acusa o governador Cláudio Castro de, apesar dos R$ 22,6 bilhões arrecadados com o leilão da Cedae – “um valor 114% superior ao estimado pelo próprio governo na época” –, deixar o Rio como “o terceiro estado mais desigual do Brasil (segundo o IBGE), com uma taxa de desemprego acima da média nacional, e 37,7% dos desempregados buscando emprego há pelo menos 2 anos”, e que, “no Grande Rio os trabalhadores empregados gastam mais de 1/3 dos seus salários com o transporte público”.

“Diante de mais uma tragédia climática, milhares de pessoas perdem suas casas, seus bens e ficam à mercê de cadastros para aguardar uma ajuda que não se sabe quando virá. O Governo Federal antecipou seus programas sociais para os moradores das cidades atingidas pelas chuvas, o governo do Estado não pode fazer o mesmo pois no ano passado decidiu acabar com o Supera RJ”, afirma a CTB. E questiona, após a privatização, “o que vimos de melhoria no fornecimento de água e no saneamento básico fluminense?”.

De acordo com o artigo, o povo “convive com enchentes fruto da ausência de obras de drenagem, sem nenhum tipo de planejamento ambiental. O Fórum Rio de Mudanças Climáticas, que deveria preparar o Estado para enfrentar as mudanças climáticas não foi implementado, os investimentos em saneamento seguem escassos e com isso mais vidas são perdidas e mais pessoas ficam desabrigadas”.

O artigo afirma que as enchentes do Rio Acari – que afetou pelo menos 20 mil pessoas e dos rios que cortam a baixada fluminense “são fruto da falta de planejamento ambiental do Estado” e questiona: “Sem programas sociais, sem projetos de saneamento implementados, sem gestão ambiental e em constante crise econômica e social, fica a pergunta, onde foi parar os bilhões da criminosa venda da CEDAE?”.

“Cadê os investimentos prometidos pelas concessionárias? A água ficou mais cara e rara para o povo, o saneamento não avançou e as áreas pobres e periféricas seguem abandonadas. Fica a questão: a quem serviu essa privatização?”.

AUMENTO DE TARIFAS

A entidade denuncia ainda consequências da privatização, como falta d’água, rompimento em série de adutoras que se espalham pelas periferias, morros e chegam até os bairros da classe média, além da tarifa, que aumentou o dobro da inflação, com autorização da Agência Reguladora (Agenersa). “O que levou a Agenersa a, no estado com os índices de desemprego e desigualdade que temos, autorizar o aumento da tarifa na ordem de 11,82% e 10,24% em 2022 e 2023, anos que tiveram IPCAs de 5,79% e 4,62%?”.

A CTB-RJ ressalta ainda o “duro golpe” a que os trabalhadores da Cedae foram submetidos, como “um nefasto PDV que além de lhes retirar direitos, reduziu a capacidade da própria empresa de atender às necessidades da população”.

“O histórico das privatizações mostra o que acontece com os serviços depois de entregues. Supervia, Light e o próprio leilão da Cedae estão aí para comprovar que a qualidade dos serviços prestados à população piora na mesma proporção em que os serviços se tornam mais caros”, afirma o artigo.

“Denunciado pela Polícia Federal e investigado em diversos inquéritos, o governador antes de acertar as contas com a justiça precisa acertar as contas com o povo e explicar como transformou R$ 22 bilhões em pó e que benefícios trouxe para o povo a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal”, cobra a CTB-RJ.

Fonte: Página 8