Trabalho da agência da ONU é fundamental para a sobrevivência dos palestinos em Gaza | Foto: Reprodução

A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras (MSF) manifestou-se “profundamente alarmada” pelo corte, por vários países, do financiamento à agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), após alegação de Israel de que 12 de seus 13 mil funcionários teriam supostamente envolvimento com o ataque do Hamas de 7 de outubro.

MSF advertiu que tais cortes de financiamento contradizem as medidas provisórias emitidas pela Corte Internacional de Justiça na semana passada, que incluem medidas imediatas para garantir fluxos suficientes de ajuda humanitária para Gaza.

“É necessária muito mais ajuda para atender a essas necessidades, não menos”, disse a organização humanitária, reiterando seu apelo por um cessar-fogo “imediato e sustentado” e o levantamento do bloqueio de alimentos, água, remédios, combustível e eletricidade.

Em seu comunicado, a MSF se disse profundamente alarmada com a decisão de alguns países de suspender seu financiamento à UNRWA (…) que é uma tábua de salvação para milhões de palestinos na Faixa de Gaza, na Cisjordânia e na região”.

“Na Faixa de Gaza, a crise humanitária atingiu níveis catastróficos, e quaisquer limitações adicionais à ajuda resultarão em mais mortes e sofrimento”, alertou, sublinhando que as organizações humanitárias já estão lutando para satisfazer até uma fração das necessidades urgentes em Gaza.

Já há quem considere que a decisão de corte do financiamento para a agência de assistência da ONU aos refugiados palestinos, puxada pelo governo Biden, não passa de uma abjeta retaliação contra a decisão da Corte Internacional de Justiça (CIJ) da ONU, anunciada na sexta-feira, de prosseguir com a ação contra Israel por genocídio e incitação ao genocídio, apresentada pela África do Sul, nação que representa a vitória da humanidade sobre o apartheid, o racismo e o fascismo. Além disso, a retaliação fica mais evidente ainda quando seu diretor, Phillipe Lazarini era um dos mais persistentes na denúncia de agressões israelenses particularmente com entidades sob jurisdição da ONU e, por isso, a UNRWA já era há algum tempo alvo de ataques e ameaças por parte do governo israelense.

ALEGAÇÕES ISRAELENSES SÃO ENGODO, DIZ OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu aos países que continuem financiando a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), chamando as alegações israelenses contra o órgão da ONU de “distração” da guerra em Gaza.

“A discussão agora é uma distração do que está acontecendo todos os dias, todas as horas em Gaza”, disse o porta-voz da OMS, Christian Lindmeier, em uma coletiva de imprensa da ONU em Genebra.

Lindmeier se referia às recentes alegações de Israel de que alguns funcionários da UNRWA estavam envolvidos no ataque transfronteiriço pelo Hamas em 7 de outubro.

Argumentando que, embora essas alegações devam ser investigadas, ele disse que elas atualmente servem como uma “distração”, de medidas que impedem o acesso de uma nação inteira a alimentos, água e eletricidade.

Eles também desviam a atenção dos “bombardeios contínuos” de palestinos em Gaza, mesmo em áreas designadas como seguras, bem como de ataques a “abrigos, escolas, hospitais”, acrescentou.

Pelo menos 12 países – Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Finlândia, Austrália, Reino Unido, Holanda, EUA, França, Áustria e Japão – suspenderam o financiamento da UNRWA, criada em 1949 para ajudar refugiados palestinos em todo o Oriente Médio.

Noruega, Espanha e Irlanda anunciaram que continuarão com suas doações para a UNRWA, uma agência da ONU que foi criada em 1949 por decisão da Assembleia Geral, logo após a Nakba de 1948, a brutal expulsão da população palestina de seus lares por milícias armadas israelenses. Segundo o ministro das Relações Exteriores de Israel, é a existência da UNRWA que “perpetua a questão palestina” e não a agressão e ocupação israelenses.

JORNALISTAS QUEREM LEVAR NETANYAHU ÀS BARRAS DOS TRIBUNAIS

A Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) pretende levar o governo Netanyahu a julgamento pela execução de jornalistas em Gaza.

Em uma carta aberta ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e ao ministro da Defesa, Yoav Gallant, publicada no sábado (27), a FIJ afirmou que cerca de 10% dos jornalistas que trabalhavam em Gaza foram mortos durante a guerra entre Israel e Hamas.

“A taxa de mortalidade entre os funcionários da imprensa tem sido tamanha – cerca de três vezes a dos profissionais de saúde, por exemplo – que é impossível acreditar que se trata de uma questão de acaso”, afirmou a carta.

O Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), uma organização que promove a liberdade de imprensa, com sede nos EUA, disse, no domingo (28), que 83 jornalistas e trabalhadores da mídia foram mortos desde o início da guerra, em 7 de outubro: 76 palestinos, quatro israelenses e três libaneses.

São casos escabrosos como o do cinegrafista Samer Abudaqa, da Al Jazeera, que foi ferido por ataque de drone israelense e deixado sangrando até morrer por cinco horas, com Israel recusando que o socorro médico chegasse até ele, apesar das súplicas desesperadas de jornalistas estrangeiros, da Al Jazeera e da Cruz Vermelha Internacional para salvar sua vida. Ele estava cobrindo o ataque de Israel a uma escola da ONU em Khan Younis, Gaza, e claramente identificado como “imprensa”.

No mesmo ataque, o chefe da sucursal da agência de notícias do Qatar, Wael al Dahdouh, só se salvou, porque, ferido, conseguiu se arrastar até uma ambulância nas proximidades.

O filho de Al Dahdouh, Hamza, que também é jornalista, foi morto em um ataque de drone, aliás, junto com o jornalista da AFP Mustafa Thuraya. Wael Al Dahdoud também perdeu outros membros da família quando teve sua casa bombardeada.

Disparos israelenses contra jornalistas claramente identificados como imprensa mataram Issam Abdallah, da Reuters, e feriram outros profissionais, como comprovou investigação realizada pela agência de notícias britânica. A fotógrafa da Agência France-Presse (AFP), Christina Assi, de 28 anos, ficou gravemente ferida e teve a perna amputada. O crime de guerra ocorreu perto da aldeia libanesa de Alma al-Shaab, a pouco mais de 1 km da fronteira com Israel.

Fonte: Papiro