Após uma reunião que se estendeu por sete horas desta quinta-feira (25) e teve o Brasil como mediador, os chanceleres da Venezuela, Carl Barrington Greenidge, e da Guiana, Yván Gil Pinto, avançaram no diálogo sobre Essequibo. O encontro foi realizado no Palácio Itamaraty, em Brasília, e contou com observadores da ONU (Organização das Nações Unidas) e da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos).

Segundo os dois chanceleres, os países se comprometeram a buscar uma solução pacífica para o conflito, sem recorrer às Forças Armadas. O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira – que mediou a reunião –, também se declarou otimista com o andamento das negociações.

“Salientamos à delegação de venezuelanos que a Guiana segue comprometida em resolver a controvérsia que a Venezuela tem com a decisão de 1988 do tribunal arbitral de um jeito muito pacífico”, disse Yván Gil. “Reiteramos nosso apoio e compromisso com a Carta da ONU, que inclui o respeito à lei internacional e ao acordo de 1966 de Genebra, que está dentro da lei internacional”, agregou o chanceler de Guiana.

O aceno foi elogiado pelo ministro venezuelano, que falou em “buscas alternativas” para “chegar a uma solução mutuamente aceitável” e “impulsionar as relações de cooperação e integração entre Guiana e Venezuela”. Carl elogiou os resultados da reunião: “Nós nos sentimos realmente satisfeitos e vamos com muitas expectativas às futuras discussões. Ainda há muita matéria a discutir.”

Segundo Mauro Vieira, o Brasil foi convidado a permanecer à frente das tratativas entre Venezuela e Guiana. As duas partes concordaram em realizar, caso necessário, uma nova reunião, possivelmente no Brasil. “Comprometeram-se, reconhecidas as diferenças de lado a lado, a seguir dialogando com base nos parâmetros estabelecidos pela declaração de Argyle”, disse o ministro brasileiro.

“Reafirmo que nossa região tem a vontade política e todos os instrumentos necessários para avançar no princípio comum de desenvolvimento social justo em ambiente pacífico e solidário. Ao nos depararmos com guerras em diferentes partes do mundo, aprendemos a valorizar ainda mais nossa cultura latino-americana e caribenha de paz”, agregou Vieira.

O Brasil pode voltar a influenciar o debate na cúpula da Comunidade dos Estados do Caribe (Caricom), marcada para 28 de fevereiro. Além de 20 países caribenhos (15 membros e cinco associados ao bloco), a cúpula terá a participação do Brasil como convidado – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença.

Parte do território guianês, Essequibo, rico em petróleo e outros recursos naturais, é reivindicado pelo governo venezuelano. Em 2023, uma consulta popular aprovou, com 96% de apoio, a proposta de anexar a região à Venezuela como um novo estado, com a concessão de nacionalidade venezuelana para seus 125 mil habitantes.