Coordenadora de Assuntos Humanitários da ONU, Lynn Hastings, teve seu visto cassado por Israel | Foto: Reprodução

O Escritório de Assuntos Humanitários das Nações Unidas comunicou, na quarta-feira (13), que Gaza enfrenta um “desastre de saúde pública” devido ao colapso do seu sistema de saúde e à propagação de doenças causadas pela superlotação.

“Todos sabemos que o sistema de saúde está em colapso”, disse Lynn Hastings, Coordenadora para Assuntos Humanitários da ONU no Território Palestino Ocupado. “Temos uma receita clássica para epidemias e desastres de saúde pública”, frisou, reforçando o alarme sobre a propagação de doenças infecciosas em Gaza, onde o deslocamento interno de 85% da população que foge dos indiscriminados bombardeios israelenses levou à superlotação em abrigos, tendas e outras instalações temporárias.

A OMS relatou um aumento acentuado de infecções respiratórias agudas, diarreia, piolhos, sarna e outras doenças de rápida propagação.

Hastings disse que as pessoas em Gaza tiveram que fazer fila durante horas apenas para ter acesso a um banheiro. “Você pode imaginar como são as condições de higiene e saneamento”, alertou.

A OMS reportou, na terça-feira (12), que apenas 11 dos 36 hospitais de Gaza estavam funcionando parcialmente, um no norte e 10 no sul do enclave.

COORDENADORA HUMANITÁRIA DA ONU

A Coordenadora Humanitária disse que quase metade da população de Gaza, de 2,4 milhões, estava agora em Rafah, no extremo sul do enclave, para escapar dos ataques israelenses.

O trabalho dos setores ativos da ONU, assim como as denúncias da nova catástrofe, irritam o governo de Netanyahu. O ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli Cohen, informou na semana passada que – ao invés de se preocupar com as denrevogou o visto de Lynn Hastings. A decisão, segundo Cohen, foi tomada devido “à parcialidade da coordenadora na guerra entre Israel e os terroristas palestinos”.

Stephane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, confirmou que Hasting teve o visto revogado por Israel na semana passada. “Só posso reiterar a total confiança do secretário-geral na Sra. Hastings, na forma como ela se comportou e na forma como realiza o seu trabalho”, enfatizou Dujarric.

AGÊNCIA PARA REFUGIADOS PALESTINOS À BEIRA DO COLAPSO

O diretor da Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, afirmou na quarta-feira (13), em uma intervenção especial no Fórum Global de Refugiados em Genebra (Suíça), que a capacidade da entidade de fornecer serviços em Gaza, devastada pela guerra, estava à beira do colapso após a morte de mais de 130 funcionários no enclave, reiterando que a Faixa de Gaza é hoje um “verdadeiro inferno”, onde “não há qualquer sítio seguro”.

“As infraestruturas civis e as instalações da ONU não foram poupadas pelos bombardeios [de Israel]. Fiquei horrorizado com as imagens de ontem [terça-feira 12] de uma escola da UNRWA destruída por bombas no norte de Gaza. A população de Gaza está sem tempo e sem opções, pois enfrenta bombardeios, privações e doenças num espaço cada vez mais reduzido”, denunciou.

Assinalando que já escreveu na semana passada ao presidente da Assembleia-Geral da ONU para “alertar para o fato da capacidade da UNRWA para cumprir o seu mandato em Gaza estar seriamente limitada”, o diretor da agência, que voltou a apelar a um cessar-fogo humanitário em Gaza – rejeitado por Israel -, reforçou que “toda a resposta humanitária depende em grande medida da capacidade da UNRWA e esta está atualmente à beira do colapso”.

Lazzarini disse que “a maior parte da população de Gaza foi deslocada à força, em grande parte para o sul da Faixa, Rafah”, cidade que alberga atualmente “mais de um milhão de pessoas”, quando antes acolhia 280 mil, e que “não possui a infraestrutura e os recursos necessários para sustentar tal população”.

“Dentro dos nossos armazéns, as famílias vivem em espaços minúsculos, separados por cobertores pendurados em finas estruturas de madeira. Ao ar livre, surgem abrigos frágeis por todo lado. Rafah tornou-se uma comunidade de tendas”, descreveu, acrescentando que “os espaços à volta dos edifícios da UNRWA estão congestionados com abrigos e pessoas desesperadas e esfomeadas”.

O diretor da UNRWA alertou uma vez mais que “esta realidade operacional não é sustentável, nem para a população, nem para a agência”, que já perdeu mais de 130 membros, mortos desde o início da ofensiva israelita no enclave palestino.

Segundo a ONU, mais de metade das casas foram destruídas ou danificadas pela guerra na Faixa de Gaza, onde 1,9 milhões de pessoas – 85% da população — estão deslocadas.

Fonte: Papiro