Foto: Marcos Nagelstein/MTur

O desmatamento na fatia Sul do continente levou à perda de 20% da vegetação campestre do Pampa entre 1985 e 2022, revela análise de imagens de satélite captadas pelo MapBiomas Pampa, uma rede colaborativa de especialistas da Argentina, Brasil e Uruguai. O Brasil foi o que teve a maior perda proporcional de vegetação campestre desse bioma e a Argentina, a maior em números absolutos. 

No Brasil, o pampa se estende por 63% do Rio Grande Sul, o que equivale a 2,07% do território brasileiro. Aqui, foram desmatados 2,9 milhões de hectares, dimensão que se equipara a 58 vezes a área de Porto Alegre. “Trata-se de uma perda de 32% da área existente em 1985 em apenas 38 anos. O principal vetor dessa mudança é a expansão das áreas agrícolas para o plantio de soja. O uso agrícola do solo aumentou 2,1 milhões de hectares entre 1985 e 2022”, aponta o estudo. 

A silvicultura, por sua vez, “expandiu seu território em mais de 720 mil hectares nesse período – um aumento impressionante de 1.667%. Em 1985, a área total ocupada pelos campos era de 9 milhões de hectares e passou para 6,2 milhões de hectares em 2022”. 

Na avaliação de Eduardo Vélez, da equipe do MapBiomas Pampa, feita à Agência Brasil, “quando começa a ficar muito descaracterizado a gente fica em situação muito crítica. O Pampa hoje só perde para a Mata Atlântica em termos de descaracterização. É o segundo bioma mais destruído. Na Mata Atlântica estabilizou no Pampa ainda não. Isso nos preocupa muito. É como se o Brasil não olhasse para o Pampa”. 

Ele salientou que o esperado era que o desmatamento se estabilizasse e se mantivesse a área de agricultura e de vegetação natural, mas o processo continua e ainda não acabou. “Isso tem consequências ambientais porque a gente está perdendo biodiversidade, muitas espécies ameaçadas e em vias de extinção, especialmente plantas, além da perda de infiltração da água no solo e maior contaminação por agrotóxicos”, destacou.

Para lidar também com este problema, no início do mês, durante a COP 28, o Brasil e a Alemanha fecharam um acordo para o aporte de 25 milhões de euros (R$ 134 milhões) em restauração florestal e manejo sustentável. 

Um dos eixos prioritários, os Planos de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento (PPCDs), terá um total 30 milhões de euros (R$ 160 milhões) voltados à estruturação de ações para o Pantanal, a Mata Atlântica, a Caatinga e o Pampa.

O governo Lula também formou grupos de trabalho para a apresentação de plano de prevenção e controle do desmatamento e queimadas, no qual o Pampa também está incluído. 

América do Sul

Somando os três países onde está presente — Argentina, Brasil e Uruguai —, o Pampa se estende por mais de um milhão de quilômetros quadrados, o que representa 6,1% da América do Sul. A perda verificada em 38 anos inclui 9,1 milhões de hectares de campos nativos. Do total da área mapeada, 66% estão na Argentina (72 milhões de hectares), 18% no Brasil (19,4 milhões de hectares), e 16% no Uruguai (17,8 milhões de hectares). 

“Vários estudos indicam que o Pampa Sul-Americano, onde predomina a vegetação nativa não florestal, é um dos biomas menos protegidos e mais ameaçados do continente, exatamente por conta das grandes taxas de transformação na cobertura e uso da terra e dos baixos níveis de proteção de seus ecossistemas naturais”, explica Eduardo Vélez. 

Segundo a medição, a vegetação nativa já cobre menos da metade do Pampa (47,4%). A maior parte dela corresponde à vegetação campestre (32% do território), e que tradicionalmente é utilizada para a pecuária. Quase metade (48,4%) da região já teve a vegetação nativa convertida para o desenvolvimento da agricultura, pastagens plantadas ou silvicultura. 

Em área, diz o estudo, “o avanço da silvicultura foi menor: 2,1 milhões de hectares. Mas isso representou um crescimento de 327%. Já a vegetação campestre nativa, que é a base para a produção animal, sendo a vocação natural do bioma, caiu de 44 milhões de hectares em 1985 para 35 milhões de hectares em 2022”. 

A Argentina foi o país que acumulou a maior perda absoluta de vegetação campestre: 3,7 milhões de hectares – o mesmo que 182 vezes a cidade de Buenos Aires, perda de 16% da área em 38 anos.

Com informações do MapBiomas e Agência Brasil

(PL)