Entre outras arbitrariedades, a Meta removeu comentários que diziam "Pare o Genocídio" e "Palestina Livre" | Foto: AFP

A empresa de redes sociais Meta [dona do Facebook e Instagram] tem “silenciado” as vozes dos apoiadores palestinos nestas duas redes, introduzindo “censura intensificada” a pretexto de moderação de conteúdo, em meio ao conflito Israel-Hamas, afirmou o grupo de direitos humanos norte-americano Human Rights Watch na quinta-feira (21).

“A censura da Meta de conteúdo em apoio à Palestina acrescenta insulto à injúria em um momento de atrocidades indescritíveis e repressão que já sufoca a expressão dos palestinos”, disse Deborah Brown, diretora associada interina de tecnologia e direitos humanos da Human Rights Watch.

Entre outras arbitrariedades, a Meta removeu comentários que diziam “Palestina Livre” e “Pare o Genocídio”, escondeu ou removeu o emoji da bandeira palestina das seções de comentários e suspendeu ou removeu contas palestinas proeminentes.

De acordo com a HRW, “o problema decorre de políticas falhas da Meta e sua implementação inconsistente e errônea, dependência excessiva de ferramentas automatizadas para moderar conteúdo.

“As redes sociais são uma plataforma essencial para as pessoas testemunharem e falarem contra os abusos, enquanto a censura da Meta promove o apagamento do sofrimento dos palestinos.”

A denúncia surge em meio ao que o majoritariamente o mundo percebe como genocídio e limpeza étnica contra a população palestina de Gaza, perpetrados por Israel, e que já resultou em mais de 60 mil palestinos mortos ou feridos, a maioria mulheres e crianças, o deslocamento de 85% da população de suas casas, ataques a hospitais, escolas, igrejas e padarias, e uma punição coletiva, com o corte de comida, água, remédios e combustível.

1050 CASOS JÁ FLAGRADOS

Em sua análise dessa censura sistemática on-line, o HRW examinou 1.050 casos, que são “consistentes com anos de relatos de organizações palestinas, regionais e internacionais de direitos humanos detalhando a censura da Meta ao conteúdo que apoia os palestinos” e identificou “seis padrões principais de censura, cada um recorrente em pelo menos 100 casos”.

São eles: “remoções de conteúdo, suspensão ou exclusão de contas, incapacidade de interagir com o conteúdo, incapacidade de seguir ou marcar contas, restrições ao uso de recursos como o Instagram/Facebook Live e, ainda, ‘shadow banning’, um termo que denota uma diminuição significativa na visibilidade das postagens, histórias ou conta de um indivíduo sem notificação”, disse o comunicado.

O comunicado do HRW acrescenta que, em mais de 300 casos, os usuários não conseguiram apelar da remoção de conteúdo ou das restrições de conta porque o mecanismo estava parcialmente fora de serviço.

Na véspera da divulgação do relatório do HRW, o ‘Conselho de Supervisão’ – um órgão criado pela própria Meta para gerenciar crises – preventivamente anunciou que o Instagram havia cometido um “erro” ao remover um vídeo que expunha um ataque perto do Hospital Al Shifa.

E instou a Meta a “preservar postagens removidas que possam servir como evidência de violações de direitos humanos”.

Para o HRW, a Meta “está ciente de que sua aplicação dessas políticas é falha”. “Em um relatório de 2021, a Human Rights Watch documentou a censura do Facebook à discussão de questões de direitos referentes a Israel e à Palestina e alertou que a Meta estava “silenciando muitas pessoas arbitrariamente e sem explicação.”

Na época, a Meta se comprometeu em uma série de ajustes em suas regras e na moderação de conteúdo, mas, constatou o HRW, não cumpriu seus deveres de direitos humanos, resultando em “promessas quebradas que replicaram e amplificaram padrões de abuso”.

A organização também sugeriu que a Meta revise sua política sobre “organizações e indivíduos perigosos” para garantir o cumprimento das normas internacionais de direitos humanos, examine sua política de “permissão noticiosa” para verificar se não exclui informações de interesse público e se elas são usadas de maneira igualitária e não discriminatória, e investigue as implicações de direitos humanos das alterações provisórias em seus algoritmos de recomendação que implementou em reação à recente guerra.

Em vez de “desculpas cansadas e promessas vazias”, Meta deveria tomar medidas para mostrar que leva a sério o fim da censura relacionada à Palestina e avançar em direção à “transparência e remediação”, concluiu Brown.

Fonte: Papiro