Protesto no Capitólio exigiu fim do massacre em Gaza e pediu: "parem de financiar a violência" | Foto: NY Communities for Change

Denunciando o genocídio em curso contra os palestinos, manifestantes de mais de 80 grupos ocuparam o Capitólio, em Washington, na terça-feira (19), para exigir um cessar-fogo permanente em Gaza, o fim da ajuda militar norte-americana a Israel e proteção aos migrantes na fronteira dos EUA com o México.

Centenas de ativistas ocuparam a Rotunda do Capitólio dos EUA – registrou o Common Dreams -, onde bradaram “não em nosso nome” e expuseram cartazes com os dizeres “parem de armar Israel” e “protejam imigrantes e asilados”. Cerca de 60 manifestantes acabaram algemados e presos.

Em um comunicado conjunto, os manifestantes denunciaram que o governo Biden e os democratas do Senado indicam disposição de “avançar com propostas cruéis de imigração para aprovar um pacote de gastos que enviará bilhões de dólares a Israel para continuar seu genocídio em Gaza”.

O protesto visa advertir o governo Biden contra fechar um acordo com o trumpismo no Congresso para aumentar a repressão aos imigrantes na fronteira sul dos EUA, em troca dos republicanos aprovarem mais dinheiro para a guerra na Ucrânia, o genocídio em Gaza e as provocações contra a China em Taiwan, o chamado “pacote de gastos suplementares de ‘segurança nacional’ de US$ 106 bilhões de Biden”.

E que, como registra o comunicado, visa enviar US$ 14,3 bilhões em armas e financiamento a Israel para seus ataques genocidas em Gaza, e quase US$ 8 bilhões para a militarização da fronteira sul e perseguição a imigrantes.

O comunicado também denunciou que “mais de 8 mil crianças” estão entre as quase 20 mil pessoas mortas pelo ataque de Israel a Gaza.

Os ativistas também observaram que “os palestinos estão sendo mortos em massa pelo exército israelense e negados acesso a comida, água, abrigo, eletricidade e cuidados médicos em Gaza, um lugar que foi descrito como a ‘maior prisão ao ar livre do mundo’”

Os organizadores do protesto anunciaram que seguirão unidos como uma coalizão dedicada a “lutar por justiça e libertação para nos opormos categoricamente a todas as propostas que alimentam a violência contra nossas comunidades no país e no exterior”.

Os manifestantes denunciaram, ainda, que “a Patrulha de Fronteira dos EUA está mantendo migrantes que escapam das condições criadas pelo imperialismo dos EUA em centros de detenção ao ar livre em nossa fronteira sul, onde estão sendo privados de comida, água, abrigo e atendimento médico.”

“NÃO A ARMAS PARA O GENOCÍDIO EM GAZA”

“Estamos juntos, unidos de braços dados, para dizer não a mais armas para o genocídio de Israel em Gaza, não a mais dinheiro para prender crianças e famílias que buscam segurança em nossa fronteira, não a mais dinheiro para destruir vidas”, afirmou Sandra Tamari, diretora executiva do Projeto de Justiça Adalah. “A liderança democrata e o governo Biden estão falhando com o povo”, ela acrescentou.

Ao Common Dreams, Saqib Bhatti, codiretor executivo do Centro de Ação sobre Raça e Economia, disse estar no Capitólio “porque meu governo está usando meus dólares dos contribuintes para realizar um genocídio contra pessoas que se parecem comigo em Gaza e para manter fora deste país famílias de imigrantes que se parecem com a minha”.

“Estamos aqui para defender palestinos inocentes, imigrantes e a grande maioria do povo americano que está exigindo o fim do derramamento de sangue”, acrescentou o dirigente.

“Precisamos de um cessar-fogo permanente hoje e começar o trabalho árduo de reparar os danos que nossos bilhões de dólares em ajuda militar causaram ao povo palestino.”

Audrey Sasson, diretora executiva da organização Judeus pela Justiça Racial, exigiu que o Congresso “pare de financiar crimes de guerra israelenses em Gaza” e rejeite “quaisquer propostas de aumento da militarização na fronteira dos EUA”.

“Que a guerra em Gaza esteja sendo travada em meu nome me enche de vergonha, tristeza e indignação”, acrescentou Sasson. “Como líder judeu vendo o número de mortos palestinos aumentar diariamente, não ficarei em silêncio.”

No comunicado, os organizadores traçaram paralelos entre a violência de Israel contra os palestinos e a perseguição, nos EUA, aos imigrantes e refugiados.

“Esses paralelos não são coincidência. Vemos a mesma tecnologia utilizada pelos militares israelitas contra os palestinianos utilizada nas nossas próprias fronteiras; vemos que os militares israelenses treinam nossa aplicação da lei, incluindo agentes [da Imigração e Alfândega dos EUA]; Sabemos que a limpeza étnica e o deslocamento em massa sempre colocarão as pessoas necessitadas frente a frente com nossas políticas de imigração mortíferas. As decisões de financiar esses sistemas são motivadas por xenofobia, racismo, antinegritude e lucro.”

“Se permitirmos que as autoridades eleitas alcancem um acordo, bilhões de dólares de nossos contribuintes alimentarão a guerra e o genocídio e, consequentemente, o deslocamento em massa para o exterior, ao mesmo tempo em que fecharão a porta para o asilo e aumentarão a escala da violência estatal contra nossas comunidades negras, pardas, indígenas e migrantes”, afirmaram os grupos.

“Não permitiremos que nossas comunidades sejam divididas e conquistadas, ou que sejam usadas como moeda de troca para impulsionar a ajuda militar profundamente problemática e impopular.”

Em outubro, protesto semelhante no Capitólio, pelo imediato cessar-fogo em Gaza, reuniu milhares de pessoas, por convocação da Voz Judaica pela Paz e do grupo, também judaico, IfNotNow.

Segundo uma pesquisa encomendada pelo The New York Times e divulgada na terça-feira, nos Estados Unidos, entre os jovens, na faixa etária de 18 a 30 anos, 46% disseram ser pró-Palestina e 27% pró-Israel, o que mostra um enorme crescimento do apoio aos palestinos, em contraste com o que ocorre em outras faixas etárias. Outros 9% disseram ser favoráveis aos dois e o restante não respondeu.

Certamente a carnificina perpetrada por Israel em Gaza com o suporte militar e diplomático do governo Biden, explicam em grande parte esse deslocamento da opinião entre os jovens, que já preocupa a Casa Branca, diante das eleições presidenciais do ano que vem.

Fonte: Papiro