Com o fim da trégua, genocídio em Gaza é retomado | Foto: AFP

Israel retomou nesta sexta-feira, 1º de dezembro, o morticínio em Gaza, depois de sete dias de trégua. Apenas nas primeiras horas dos bombardeios, 109 palestinos foram mortos, segundo o Ministério da Saúde palestino. Entre os mortos, o cinegrafista da agência de notícias turca Anadolu, Montaser al-Sawaf.

Um prédio residencial foi arrasado até o chão pelas bombas israelenses em Khan Younis. “Anas, meu filho, eu não tenho ninguém além de você, meu filho!”, lamentou a mãe de Anas Anwar al-Masri, um menino deitado em uma maca com um ferimento na cabeça no corredor do hospital Nasser em Khan Younis. “Ele é meu único filho!”

Os ataques mais intensos foram contra a região sul do enclave, para onde bombardeios anteriores empurraram a maior parte da população palestina, mas também atingiram o norte e a área central. Segundo a Reuters, a entrada de caminhões com ajuda humanitária em Gaza foi bloqueada.

Durante a trégua, arrancada de Israel a contragosto e sob oposição dos ministros pogromistas Ben-Gvir e Smotrich, diante do clamor mundial de repúdio e indignação das famílias de reféns, 240 mulheres e crianças palestinas foram trocadas por 81 mulheres e crianças israelenses, além de 24 estrangeiros.

Antes da retomada do genocídio, Ben-Gvir e Smotrich, ambos ladrões de terra na Palestina, ameaçaram romper a coalizão com Netanyahu, se a “guerra” não fosse retomada imediatamente. A duras penas, Qatar e Egito obtiveram a prorrogação da trégua por mais 48 horas e, depois, em um esforço final, por mais 24 horas.

O Catar, que ajudou a intermediar a pausa junto com o Egito e os EUA, disse que as negociações entre os dois lados continuam, mas alertou que o bombardeio de Gaza “nas primeiras horas após o fim da pausa complica os esforços de mediação e agrava a catástrofe humanitária na faixa”.

Em um comunicado, o Hamas disse que, durante as negociações de quinta-feira, se ofereceu para libertar Yarden Bibas e os corpos de sua esposa e dois filhos que, segundo o Hamas teriam sido mortos por ataques israelenses. O porta-voz do Hamas, Osama Hamdan, disse à Al Jazeera que “buscamos seriamente e ainda estamos buscando a trégua”.

Como expressão de sua recusa a respeitar qualquer fórum coletivo, o regime Netanyahu escolheu como data de retomada do genocídio em Gaza o dia da abertura da conferência do clima, em Dubai, a Cop28.

OS NÚMEROS DA LIMPEZA ÉTNICA

Nas sete semanas da bestial investida de Israel contra a população de Gaza, mais de 15 mil palestinos foram assassinados, sendo mais de 6 mil crianças e 4 mil mulheres. São 35 mil os feridos. Os ataques israelenses não pouparam sequer hospitais, mesquitas, casas, padarias ou escolas administradas pela ONU.

Quase a metade das residências e prédios de Gaza foram destruídas ou muito danificadas pelos bombardeios do regime Netanyahu.

Todas as instalações de tratamento de água foram destruídas e só há água salobra para beber.

80% da população palestina foram expulsos de seus lares pelas bombas e mísseis israelenses, uma “Nakba de Gaza”, nas palavras de um ministro de Netanyahu.

A punição coletiva – plagiada dos mestres nazistas – incluiu o corte de água, eletricidade, combustível, comida e remédios. Uma coisa tão brutal que levou o ponderado presidente Putin a fazer uma comparação com o cerco a Leningrado.

A ajuda humanitária para Gaza, que era de 500 caminhões por dia, foi sustada, depois retomada ao ritmo de uma gota em um oceano de necessidades, e agora novamente suspensa.

Hospitais foram invadidos e os pacientes e equipes médicas foram postos para fora sob mira de arma, enquanto o ministério da Mentira de Tel Aviv divulgava fantasiosas histórias sobre o “comando do Hamas” no subsolo do maior hospital da cidade de Gaza, o Al Shifa, chegando à desfaçatez de prender o médico diretor do hospital, Mohamed Abu Salmiya, que foi sequestrado de um comboio da Organização Mundial da Saúde, a caminho do sul. Ele está sendo submetido a interrogatório sob acusação de “apoiar a ação do Hamas no hospital”, coisa que as tropas israelenses não acharam nada que o comprovasse.

Num hospital pediátrico, as tropas coloniais de Israel simplesmente deixaram cinco bebês prematuros para morrer. 15 dos 36 dos hospitais não têm mais como funcionar, e médicos tiveram de operar feridos no chão, sem anestesia. As tropas de ocupação também atiraram em ambulâncias e mataram 120 médicos e paramédicos. 

111 funcionários da ONU foram assassinados pelas hordas israelenses, que fazem troça do direito humanitário internacional. Um número de vítimas da ONU jamais visto em qualquer missão anterior.

“56 ANOS SOB OCUPAÇÃO SUFOCANTE”

Para o regime colonial israelense – é disso que se trata, ocupação colonialista da Cisjordânia, Gaza e colinas do Gola, sob negação das resoluções da ONU -, teria sido o “ataque do Hamas de 7 de outubro” que teria começado a “guerra” (Agora, segundo o New York Times, o governo de Netanyahu sabia do “plano” há um ano).

Mas, como observou o muito moderado secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, o ataque de 7 de outubro foi precedido por “56 anos de ocupação sufocante” de Gaza por Israel. Aliás, transformada pelos israelenses “na maior prisão a céu aberto do mundo”, segundo analistas, ou, se preferir, “o maior campo de concentração do mundo”.

O genocídio perpetrado por Israel contra os palestinos de Gaza ocorre sob escolta de dois porta-aviões nucleares e um submarino nuclear dos EUA, enquanto o secretário de Estado Antony Blinken sugere a Tel Aviv espalhar um pouco menos de sangue na carnificina em curso.

Na véspera, o governo chinês havia apresentado um roteiro de cinco pontos pela paz no Oriente Médio e na reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre Gaza, o chanceler chinês Wang Yi advertira que “a retomada da luta somente a tornaria em uma calamidade que iria devorar toda a região”.

Na quarta-feira, em uma conferência conjunta com a União Africana, marcando o Dia Internacional de Solidariedade com o Povo Palestino, após saudar a trégua como um passo na direção certa, Guterres insistiu em um cessar-fogo duradouro e destacou que “já passou da hora de avançar de forma determinada e irreversível para uma solução de dois Estados”.

“NUNCA MAIS PARA TODOS”

Também chama a atenção a dimensão que o rechaço ao genocídio alcançou dentro dos EUA, inclusive com destacada participação de comunidades judaicas, com conclamações como “Nunca Mais Para Todos” e “Palestina Livre”, e reprimendas a Biden por dar luz verde para o massacre.

Em Londres, o lugar onde a depravação da digna consigna “contra o antissemitismo” atingiu o ápice, a ponto de Jeremy Corbin, histórico dirigente pacifista e apoiador da causa palestina ter sido apeado da liderança dos trabalhistas sob esse embuste, ocorreu a maior manifestação desde o famoso protesto de 2003 contra a invasão do Iraque, exigindo o cessar-fogo imediato e o fim da ocupação de Israel.

Não cessa de crescer o isolamento de Israel: declaração cheia de tato do primeiro-ministro espanhol, Sánchez, dizendo ter “sérias dúvidas” de que Israel estivesse respeitando o direito humanitário internacional em Gaza, levou o regime israelense a se fingir de ofendido, chamando de volta seu embaixador em Madrid. Sánchez também tem chamado a União Europeia a reconhecer plenamente a Palestina como um Estado soberano.

Fonte: Papiro