Regime de Netanyahu já matou 16 mil palestinos, do quais 7112 são crianças e 4.885 são mulheres | Foto: Omar Ashtawy/Agência Keystone Press

O representante da Organização Mundial da Saúde (OMS) nos territórios palestinos ocupados, Richard Peeperkorn, advertiu em Genebra que Gaza “está perto da hora mais sombria da humanidade”, diante da escala das atrocidades perpetradas por Israel e catástrofe humanitária decorrente.

“A situação piora a cada hora”, ele afirmou em entrevista na sede da OMS na Suíça na terça-feira (5). “Os bombardeios estão a intensificar-se em todo o lado, mesmo nas zonas do sul”, ele acrescentou. Muitas pessoas estão desesperadas e “quase em estado de choque permanente”.

Segundo a última atualização das autoridades palestinas, já passam de 16 mil os palestinos mortos pelas bombas e mísseis israelenses, do quais 7112 são crianças e 4.885 são mulheres. Entre os mortos, 311 médicos e paramédicos e 81 jornalistas. Os desaparecidos são 7600. Os feridos ultrapassam os 43 mil.

A ajuda que a OMS conseguiu levar a Gaza “é muito pequena”, acrescentou Peeperkorn, dizendo ser urgente “muito mais suprimentos e equipamentos”. A OMS – ele acrescentou – distribuiu 90% das suas reservas no enclave num “movimento de pânico”.

Gaza “não pode se dar ao luxo de perder mais hospitais”, reiterou o dirigente da OMS, observando que apenas 18 dos 36 hospitais da Faixa estão operando atualmente, com apenas três hospitais no norte “mal funcionando”.

12 hospitais seguem parcialmente funcionais, mas “extremamente sobrecarregados”, o que significa que “excederam a sua capacidade duas a três vezes mais”.

O Hospital Al Alhi, no norte, de repente, se viu como o único hospital que recebe pacientes de trauma, é “como um filme de terror”, denunciou o oficial sênior de emergência da OMS em Gaza, Rob Holden.

Pelo terceiro dia consecutivo, Rafah foi a única província de Gaza onde ocorreram distribuições limitadas de ajuda, de acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

“Os palestinos em Gaza estão vivendo um horror total e profundo”, afirmou o chefe de direitos humanos da ONU, Volker Turk, na quarta-feira, ao pedir um cessar-fogo imediato.

“Os civis em Gaza continuam a ser implacavelmente bombardeados por Israel e punidos coletivamente – sofrendo morte, cerco, destruição e privação das necessidades humanas mais essenciais, como alimentos, água, suprimentos médicos que salvam vidas e outros itens essenciais em grande escala”, disse ele em entrevista coletiva.

Ele disse que 1,9 milhão dos 2,2 milhões de habitantes do enclave palestino foram deslocados e estão sendo empurrados para “lugares cada vez menores e extremamente superlotados no sul de Gaza, em condições insalubres”.

“Meus colegas descrevem a situação como ‘apocalíptica’. Nessas circunstâncias, há um risco elevado de crimes atrozes”, afirmou.

A agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA) ecoou suas palavras, alertando que a situação em Gaza está “piorando a cada minuto”.

“Outra onda de deslocamentos está em andamento em Gaza”, disse a UNRWA em um post no X, classificando o enclave como “um dos lugares mais perigosos do mundo”.

CINCO ESCOLAS BOMBARDEADAS 

Cinco escolas da ONU foram bombardeadas por Israel em 24 horas, disse o Observatório Euro-Mediterrânico dos Direitos Humanos, que condenou nos “termos mais fortes” a escalada.

O grupo documentou ataques aéreos e bombardeios de artilharia que ocorreram na terça e na manhã de quarta-feira visando escolas palestinas e Salah al-Din no campo de refugiados de Jabalia, no norte da Faixa de Gaza, a escola al-Falah, no bairro de al-Zaytoun, ao sul da Cidade de Gaza, a escola Maan, em Khan Younis, e outra escola na cidade de Bani Suhaila, no sul da Faixa de Gaza.

Na descrição do Al Mayadeen, “as ruas estão completamente cheias e as pessoas tentam achar comida e água, mesmo que não seja água limpa ou potável. As pessoas ainda estão, até o momento, tentando resgatar os que foram alvejados ontem à noite de debaixo dos escombros.”

A situação sanitária – continua – está em colapso e as pessoas não conseguem receber assistência médica porque os hospitais estão ficando sem insumos. Não há centros de distribuição de alimentos funcionando desde a retomada dos combates. O lixo está por toda parte nas ruas, o cheiro é sufocante e mal se aguenta.

A família de Momin Alshrafi, correspondente da Al Jazeera árabe, foi morta em um ataque aéreo israelense à casa em que estavam abrigados. O ataque, que ocorreu durante a noite no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, matou 21 membros da família de Alshrafi, incluindo seus pais Mahmoud e Amina, seus irmãos e seus cônjuges, além de sobrinhos e sobrinhas.

O correspondente do Middle East Eye na cidade de Gaza, Mohammad Al Hajjar, registrou que, depois de cinco dias, tanques israelenses se afastaram de seu bairro na zona ocidental. As famílias saíram após cinco dias de cerco, para avaliar os danos. Hajjar diz que viu três corpos espalhados em sua rua quando saiu para despejar o lixo pela primeira vez em dias. “Um deles foi baleado a cerca de 20 metros da minha casa”, disse Hajjar. As pessoas que tentaram fugir em meio aos ataques foram baleadas, acrescentou, com algumas escapando das balas e outras morrendo no local. Quando alguém gritou ‘Deus é grande’ em desafio, a casa em que ele estava foi bombardeada.

“ISSO TEM DE PARAR”

O coordenador de ajuda de emergência da ONU, Martin Griffiths, afirmou que a escalada israelense privou os trabalhadores humanitários de meios substanciais para ajudar os 2,3 milhões de pessoas em Gaza. Tudo o que eles podem fazer, ele insistiu, é pedir o fim imediato do genocídio.

“O que estamos dizendo hoje é basta, isso tem de parar”, ele disse ao jornal britânico The Guardian, a invasão israelense por terra virtualmente parou com toda a ajuda humanitária.

“Não é mais uma operação estatisticamente significativa, é um pouco um remendo em uma ferida e não faz o trabalho, e seria uma ilusão para o mundo pensar que as pessoas em Gaza podem ser ajudadas pela operação humanitária nessas condições”, acrescentou Griffiths.

“Esta é uma situação apocalíptica agora porque esses são os resquícios de uma nação sendo empurrada para um bolsão no sul.”

Segundo o jornal britânico Financial Times, o ataque aéreo a Gaza é um “dos mais pesados da História”. 70% das casas e prédios do enclave foram arrasadas.

ALÇAPÃO EM AL MAWASI

O exército colonial israelense ordenou aos palestinos – a quem empurrou para o sul, onde supostamente ficariam ‘seguros’ – que fujam de Khan Younis e se espremam em Al Mawasi, uma área de 6,5 quilômetros quadrados, com metade do tamanho do aeroporto Heathrow de Londres, segundo The Guardian. Um terreno arenoso e desolado.

A especialista jurídica Bushra Khalidi, de Ramallah, disse à Al Jazeera que “Gaza já estava superpovoada (…) [agora] estamos falando de 1,8 milhão de pessoas em um aeroporto.”

Khalidi acrescentou que a cólera e a gastroenterite estão se espalhando rapidamente devido às condições congestionadas. “As pessoas não estão melhorando porque as condições não estão permitindo que elas melhorem”, disse ela.

RECEITA PARA O DESASTRE

Uma receita para o desastre, segundo o diretor geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus.

“Tentar aglutinar tantas pessoas em uma área tão pequena, com tão pouca infraestrutura ou serviços, aumentará significativamente os riscos para a saúde das pessoas que já estão à beira do precipício”, disse ele, acrescentando que a OMS não participará do estabelecimento de qualquer chamada “zona segura” em Gaza “sem amplo acordo e a menos que condições fundamentais estejam em vigor para garantir a segurança e outras necessidades essenciais sejam atendidas” e exista “um mecanismo para supervisionar a sua implementação”.

ISRAEL REVOGA VISTO DA ONU

O regime Netanyahu/Gvir/Smotrich, que já teve o desplante de exigir a “renúncia” do secretário-geral da ONU por este ter lembrado os “56 anos de ocupação sufocante” de Israel em Gaza, agora revogou o visto de residência da coordenadora humanitária da ONU, Lynn Hastings, depois que ela disse que “as condições necessárias para entregar ajuda ao povo de Gaza não existem”.

Referindo-se a retomada da carnificina após a curta trégua, Hastings advertira que “está prestes a desenrolar-se um cenário ainda mais infernal, em que as operações humanitárias podem não ser capazes de responder”.

ANISTIA ACHA DIGITAIS DOS EUA NO GENOCÍDIO

Uma investigação da Anistia Internacional mostrou que bombas usadas por Israel  para matar 43 civis palestinos foram fabricadas pelos EUA.

“Uma nova investigação da Anistia Internacional descobriu que munições de ataque direto conjunto (JDAM) fabricadas pelos EUA foram usadas pelo exército israelense em dois ataques aéreos mortais e ilegais contra casas cheias de civis na Faixa de Gaza ocupada”, disse a organização em um post no X.

Os fragmentos metálicos das armas indicavam que elas foram fabricadas nos EUA em 2017 e 2018. “Os dois ataques mataram um total de 43 civis”, disse ainda a AI.

“Em 10 de outubro, um ataque aéreo à casa da família al-Najjar em Deir al-Balah matou 24 pessoas. Em 22 de outubro, um ataque aéreo à casa da família Abu Mu’eileq, na mesma cidade, matou 19 pessoas. Ambas as casas estavam ao sul de Wadi Gaza, dentro da área para onde, em 13 de outubro, os militares israelenses ordenaram que os moradores do norte de Gaza se mudassem.

“O fato de que munições fabricadas nos EUA estão sendo usadas pelos militares israelenses em ataques ilegais com consequências mortais para civis deve ser um alerta urgente para o governo Biden. As armas fabricadas nos EUA facilitaram os assassinatos em massa de famílias extensas”, denunciou Agnes Callamard, secretária-geral.

Fonte: Papiro