Representante dos EUA, Robert Wood, vota pela continuidade do massacre israelense em Gaza | Foto: Jessica Le Masurier/France 24

Resolução por um cessar-fogo imediato para deter o genocídio e a limpeza étnica em curso em Gaza, solicitado extraordinariamente pelo secretário-geral Guterres sob o artigo 99 da Carta da ONU, diante da catástrofe humanitária em curso no enclave e ameaça da guerra se espalhar pela região, que foi apresentada pelos Emirados Árabes e copatrocinada por 97 países, incluindo o Brasil, foi criminosamente vetada pelos EUA na noite de sexta-feira (8), como “desequilibrada e divorciada da realidade”.

No Conselho de Segurança da ONU, 13 países votaram a favor do cessar-fogo; o Reino Unido se absteve. Só EUA votou isolado contra.

Em suma, os EUA de novo deu sinal verde ao regime Netanyahu/Gvir/Smotrich para prosseguir com o genocídio e a limpeza étnica em Gaza, o que tornou Biden conhecido em seu próprio país como “Genocide Joe”, com jovens nas ruas repetindo o refrão do tempo da guerra do Vietnã: “hei hei, how many kids did you kill today?” [hei, hei, quantas crianças você matou hoje?]

Guterres, após dramáticos pronunciamentos dos organismos da ONU que atuam em Gaza, advertira o Conselho de Segurança da ONU de que a situação é catastrófica e quase irreversível, acrescentando: “Não podemos esperar”. Foi a primeira vez em décadas que o artigo 99 foi invocado.

O veto dos EUA vem manter a punição coletiva nazista contra os palestinos, perpetrada pelo regime mais extremista que Israel já teve, que já entra pelo terceiro mês, com a população palestina sem água e comida, sem combustível e sem eletricidade. E forçada pelas bombas e tanques israelenses a deixar seus lares – já são 1,8 milhão de palestinos transformados em desabrigados – e 70% das casas destruídas. 

18 mil civis palestinos foram assassinados pelas tropas coloniais israelenses – sendo mais de 7 mil crianças e mais de 6 mil mulheres -, e quase 8 mil seguem desaparecidos provavelmente sob os escombros. Os feridos passam de 46 mil e os hospitais – os poucos ainda permitidos de operar – estão à beira do colapso e sem remédios.

O Programa Mundial de Alimentos alertou que há “um sério risco de fome e fome” e crises de sarna e piolho começam a dar sinais de epidemia.

Já são 130 os funcionários da ONU assassinados ao prestarem assistência à população palestina. Nem médicos e paramédicos, nem jornalistas, escapam da carnificina.

Um genocídio brutal e covarde transmitido ao vivo, por celular, para o mundo inteiro com o indizível sofrimento das crianças palestinas sob tamanha brutalidade e covardia.

COLAPSO IMINENTE

As agências da ONU repetidamente clamaram ao longo da semana que simplesmente estava entrando em colapso a capacidade de prestar ajuda humanitária, enquanto o regime de Netanyahu ordenava que os quase dois milhões de civis expulsos de suas casas se amontoem em uma área de 6,5 quilômetros quadrados de terreno arenoso e inóspito, uma insanidade.

Os palestinos foram obrigados a deixar suas casas ao norte da Faixa de Gaza sob bombardeio e ameças. Depois que centenas de milhares rumaram ao sul, começaram a bombardear intensamente regiões ao sul, a exemplo de Khan Yunes, forcando um segundo deslocamento e deixando a Faixa de Gaza “sem nenhum lugar seguro” para onde os palestinos pudessem escapar da sanha assassina de Netanyahu, como observa a colunista Amira Hass, do jornal israelense Haaretz.

O que a resolução dos Emirados, apoiada por quase 100 países e pelo próprio secretário-geral fazia era registrar a “preocupação grave com a situação humanitária catastrófica na Faixa de Gaza” e com o “sofrimento da população civil palestina”, pedindo “cessar-fogo humanitário imediato”, bem como a “libertação imediata e incondicional de todos os reféns.”

“Mais uma vez a diplomacia americana está deixando terra arrasada e destruição em seu rastro”, disse o enviado russo à ONU, Dmitry Polyanskiy.  “Colegas, como é que vão explicar aos seus próprios cidadãos… se mais uma vez vocês bloqueiam a exigência de um cessar-fogo imediato?”

O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansour, indignou-se com o veto ao cessar-fogo. “Como isso pode ser justificado?”, ele questionou, acrescentando que “em vez de permitir que este conselho mantenha seu mandato, finalmente fazendo um apelo claro após dois meses de massacres de que as atrocidades devem acabar, os criminosos de guerra têm mais tempo para perpetuá-las”.

“A França está muito preocupada com a tragédia humanitária que está ocorrendo em Gaza”, disse o embaixador francês, Nicolas de Riviere. “E foi por essa razão que a França votou a favor desta resolução. E é por essa razão que imploramos por uma nova, imediata e duradoura trégua humanitária que deve levar a um cessar-fogo sustentável.” Ele acrescentou que Paris não vê “qualquer contradição na luta contra o terrorismo e na proteção de civis no estrito respeito pelo Direito Internacional Humanitário”.

Ao apresentar o projeto de resolução por um cessar-fogo em Gaza, o enviado dos Emirados Árabes Unidos à ONU, Mohamed Abushahab, disse que a proposta ecoava “o pedido de cessar-fogo humanitário feito por líderes mundiais, organizações humanitárias e, mais recentemente, pelo secretário-geral da ONU”. “É breve, é simples. É fundamental”, disse.

Em sua defesa do cessar-fogo no Conselho de Segurança, o enviado palestino, Riyad sublinhou que ”se você é contra a destruição e o deslocamento do povo palestino, você tem que ser a favor de um cessar-fogo imediato”.

“Devemos fingir que não sabemos que o objetivo [de Israel] é a limpeza étnica da Faixa de Gaza, a expropriação e o deslocamento forçado do povo palestino quando tantos representantes israelenses não poderiam se abster de admiti-lo?”, questionou.

“Chega. Eles estão brincando e estão te levando para passear, e você precisa acordar e ver a realidade como está”, acrescentou Mansour.

“Tudo o que construímos como humanidade após a Segunda Guerra Mundial foi para evitar esses horrores”, disse ele. “Agora, eles estão ocorrendo em Gaza contra o povo palestino.”

Em seu pronunciamento ao Conselho, pela adoção do cessar-fogo, o secretário-geral Guterres disse que “o povo de Gaza está olhando para o abismo”.

A comunidade internacional – ele continuou – tem de fazer “tudo o que estiver ao seu alcance para pôr termo ao seu calvário”.

Exorto o Conselho a não poupar esforços para pressionar por um cessar-fogo humanitário imediato para a proteção dos civis e para a entrega urgente de ajuda que salva vidas.

Antes, Guterres observara que “a brutalidade perpetuada pelo Hamas nunca pode justificar a punição coletiva do povo palestino”.

E concluiu: “os olhos do mundo e os olhos da história estão atentos. É hora de agir.”

Fonte: Papiro