Vasily Nebenzya é o representante permanente da Rússia nas Nações Unidas | Foto: Jason Szenes/Legião Media

“Os EUA têm total responsabilidade por todas as vítimas do conflito em Gaza, depois de vetarem um pedido de cessar-fogo”. A afirmação, feita na ONU pelo embaixador russo Vasily Nebenzya, coloca em evidência que o genocídio em curso em Gaza, perpetrado pelo governo mais extremista da história de Israel, só acontece porque os EUA fornecem as armas a Israel, sustentam nos organismos internacionais a impunidade de Israel e, até mesmo, prestam escolta aos massacres com dois porta-aviões nucleares e um submarino nuclear enviados para o Oriente Médio.

Todas as vítimas: 60 mil mortos e feridos, na maioria mulheres e crianças; 1,8 milhão de pessoas expulsas de suas casas sob ordens – e bombas – do ocupante. Bairros inteiros reduzidos a escombros. Punição coletiva – como definida pela jurisprudência de Nuremberg – contra os palestinos, dos quais foi cortado comida, água, remédios e combustível.

Após o segundo veto dos EUA a um cessar-fogo em Gaza em dois meses, a Assembleia Geral da ONU, reunida em caráter emergencial na terça-feira, aprovou por uma avalanche de votos – 154 a 10 – o cessar-fogo, ampliando o isolamento de Washington e Tel Aviv diante do mundo, apesar da resolução ser não vinculativa.

“A humanidade prevaleceu”, manifestou-se o embaixador egípcio Osama Abdel Khalek, em meio aos aplausos que se seguiram, na ONU, à aprovação da resolução pelo cessar-fogo. “A agressão israelense a Gaza deve acabar. Este derramamento de sangue tem de parar.”

FACILITADOR DOS MASSACRES

Como registrou o jornalista Jeremyh Scahill, do The Intercept, “essa encenação de Biden e cia. Onde eles fingem que os EUA de alguma forma não são o facilitador central desse massacre em massa duradouro seria patética se não fosse tão homicida”.

Também a deputada norte-americana Rashida Tlaib advertiu que o governo Biden está “em sério risco de ser processado pelo Tribunal Penal Internacional” por fornecer armas aos militares israelitas que praticam crimes de guerra na Faixa de Gaza.

“Poucas horas depois que os EUA vetaram uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que pedia um cessar-fogo imediato e a libertação de reféns, o governo Biden nos notificou que eles ignoraram o Congresso para enviar a Netanyahu US$ 100 milhões em munição de tanque para continuar a cometer crimes de guerra e massacrar palestinos inocentes”, disse Tlaib, a primeira mulher palestina-americana eleita para o Congresso.

Nos últimos dois meses, os EUA forneceram a Israel cerca de 15.000 bombas – incluindo antibunkers de 2.000 libras – e quase 60.000 projéteis de artilharia.

Uma investigação da Anistia Internacional publicada na semana passada descobriu que Israel usou munições de fabricação americana para realizar ataques aéreos que mataram mais de 40 pessoas de duas famílias. A Anistia disse que os ataques “devem ser investigados como crimes de guerra”.

“O presidente Biden viu campos de refugiados, hospitais, escolas e bairros inteiros bombardeados”, disse Tlaib. “Ele viu crianças mortas retiradas dos escombros de pijama e, em vez de trabalhar por um cessar-fogo, está enviando mais armas para manter os massacres.”

“BOMBARDEIOS INDISCRIMINADOS”

O isolamento internacional começa a incomodar o próprio Biden que, no mesmo dia da votação na Assembleia Geral, em um evento de arrecadação de fundos para sua campanha de reeleição, admitiu que os “bombardeios indiscriminados” em Gaza estavam levando Israel a “perder apoio”.

Não restam dúvidas de que são os EUA que fornecem as armas com que o genocídio é cometido por Israel. Uma questão exemplarmente esclarecida pelo general israelense Yitzhak Brick: “Todos os nossos mísseis, as munições, as bombas guiadas com precisão, todos os aviões e bombas, é tudo dos EUA. No momento em que eles fecham a torneira, você não pode continuar lutando. Você não tem capacidade… Todo mundo entende que não podemos travar essa guerra sem os Estados Unidos. Ponto final.”

No evento de arrecadação de fundos, Biden reconheceu, ainda, que o governo Netanyahu é “o mais conservador da história de Israel”, e “não quer uma solução de dois Estados”.

50 ANOS DE INTIMIDADE BIBI-BIDEN

Segundo a transcrição, Biden disse que conversa muito com “Bibi”, a quem conhece “há 50 anos.” “Alguns de vocês sabem que ele tem uma foto em sua mesa – pelo menos quando estou lá, ele a tem. (Risos.) Oito e meio por 11, com uma foto de – onde escrevi: ‘Bibi… “Quando éramos os dois jovens, ele estava na embaixada aqui e eu era senador. Eu falei: ‘Bibi, eu te amo, mas não concordo com uma coisa maldita que você tem a dizer’. (Risos.) Continua a ser assim. (Risos.)”

“Ele é um bom amigo, mas acho que tem que mudar com esse governo. Este governo em Israel está tornando muito difícil para ele se mover.”

“Você sabe, [o ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar] Ben-Gvir não é o que você chamaria de alguém que – este é o governo mais conservador da história de Israel – o mais conservador. Conheço todos, todos, todos os chefes de Estado em Israel desde Golda Meir. E eu os conheci porque passei tempo com eles muitas vezes.”

“E este é um grupo diferente. Ben-Gvir e companhia e o novo pessoal, eles – eles não querem nada remotamente se aproximando de uma solução de dois Estados. Eles não querem apenas ter retribuição pelo que o Hamas palestino fez, mas contra todos os palestinos. Eles não querem uma solução de dois Estados. Eles não querem nada com os palestinos.”

Biden asseverou aos contribuintes para sua campanha que passou muito tempo com os árabes e eles querem “normalizar as relações” com Israel e disse ter aprovado no G20 a construção de uma ferrovia da Índia até a Inglaterra e um gasoduto através do Mediterrâneo “para unir os países”. Tudo passando por Israel.

Ele acrescentou que Bibi precisa entender que “não se pode dizer que não há Estado palestino no futuro. E essa vai ser a parte difícil”.

“Como muitos de você me ouviram dizer ao longo dos anos – “se não houvesse um Israel, teríamos que inventar um, teríamos que inventar um”, acrescentou Biden.

“Assim, temos muito trabalho a fazer, mas enquanto isso, nada disso vai deixar de fornecer a Israel o que eles precisam para se defender e terminar o trabalho contra – contra o Hamas.”

Ele relatou que ouviu de Bibi que “bem, vocês bombardearam a Alemanha. Vocês soltaram a bomba atômica. Muitos civis morreram.”

Segundo Biden, ele teria respondido a Bibi, “sim, é por isso que todas essas instituições foram criadas após a Segunda Guerra Mundial para garantir que isso não acontecesse novamente, não aconteceu novamente.”

A quem aconselhou “não cometer” os mesmos erros que “cometemos no 9/11. Não havia razão para estarmos em uma guerra no Afeganistão em 9/11. Não havia razão para termos de fazer algumas das coisas que fizemos.”

“Então, aqueles de vocês que têm família em Israel, vocês viram o que aconteceu quando Bibi tentou mudar a Suprema Corte. Milhares de soldados das FDI disseram: ‘Estamos fora. Não vamos participar. Não vamos apoiar os militares’”. Não foi nenhuma influência externa, Biden acrescentou, isso veio “de dentro de Israel”.

Antes de concluir, Biden chamou o Hamas de “animais” e disse que há que trabalhar “pelo início da opção de uma solução de dois Estados, porque ausente isso – (aplausos) – (inaudível)”. Provavelmente “é mais do que vocês queriam ouvir, mas (risos)”.

CONFERÊNCIA INTERNACIONAL, PEDE LAVROV

Em discurso na câmara alta do parlamento russo na quarta-feira (13), o ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, afirmou que “a única maneira deste problema – o Estado Palestino soberano – ser resolvido de uma vez por todas é realizar uma conferência internacional com a participação obrigatória de todos os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, representantes da Liga dos Estados Árabes, da Organização de Cooperação Islâmica e representantes do Conselho de Cooperação dos Estados do Golfo”.

Lavrov observou que a ONU deve desempenhar um papel de liderança na convocação de tal evento, acrescentando: “Espero que o secretário-geral da ONU seja capaz de tomar tal iniciativa”.

Fonte: Papiro