As famílias brasileiras desmentiram os economistas e suas bolas de cristal. Enquanto o mercado previa que o PIB (Produto Interno Bruto) do País ficaria negativo no terceiro trimestre (podendo chegar até a -0,3%), o índice oficial foi ligeiramente positivo: +0,1%. Os dados foram divulgados nesta terça-feira (6) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

As projeções “técnicas” têm sido marcadas por erros desde o início do governo Lula. Mas um recorte em especial mostra a desconexão entre as planilhas e a realidade dos fatos: a alta no consumo das famílias, que avançou 1,1% em relação ao segundo trimestre e “salvou” o PIB. Esse indicador mostra os gastos dos brasileiros com bens e serviços.

Mais uma vez, o mercado esperava o oposto do que efetivamente ocorreu. “A gente esperava alguma desaceleração no consumo e veio uma alta considerável”, confessou à CNN a economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico. “Além do PIB estável, outro dado que surpreendeu o mercado foi o consumo das famílias no Brasil”, reforçou, em sua coluna no O Globo, a jornalista Míriam Leitão.

Só que as famílias não estão consumindo mais por acaso. Em primeiro lugar, com a ampliação das vagas no mercado de trabalho, a taxa de desemprego caiu a 7,6% no trimestre encerrado em outubro, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua. É o menor percentual desde o trimestre encerrado em fevereiro de 2015. Mais de 100,2 milhões de pessoas compõem hoje a população ocupada no País.

Uma segunda razão é a retomada das políticas de transferência de renda pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Auxílio Gás, por exemplo, atende a mais de 5,4 milhões de famílias, subsidiando 100% do valor da média nacional do botijão de gás de cozinha de 13 quilos.

Já o Bolsa Família paga ao menos R$ 600 por mês para 21,2 milhões de beneficiários diretos. Há valores adicionais para famílias com gestantes e lactantes (R$ 50), para famílias com crianças e adolescentes de 7 a 18 anos (R$ 50) e, especialmente, para famílias com crianças até os seis anos (R$ 150).

Terceiro: a inflação. Diferentemente da gestão Jair Bolsonaro – que em 2022 adotou medidas eleitoreiras e polêmicas para deter a escalada de preços –, o governo Lula enfrentou o problema de modo abrangente. O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) – que permaneceu acumulado em dois dígitos entre 2021 e 2022, sob Bolsonaro – estava em apenas 4,14% n os 12 meses até outubro de 2023.

Especialistas não citam, ainda, o impacto do programa Desenrola, que, Ministério da Fazenda, já renegociou R$ 29 bilhões em dívidas de 10,7 milhões de pessoas. Mas a tendência ao consumo claramente cresce à medida que as famílias estão às voltas com mais estabilidade financeira, o que pode ter estimulado o consumo em alta detectado pelo IBGE.

É pouco para garantir um crescimento sustentado e duradouro do PIB – mas é o suficiente para demonstrar o viés absurdamente pessimista do mercado com Lula e seu governo. O País de mais investimentos, como as obras do Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) se quiser garantir saltos econômicos de longo prazo. Até lá, o mercado pode afinar suas bolas de cristal.