Argentinos fazem primeira manifestação contra arrocho de Milei | Foto: Juan Mabromata/AFP

Condenando o “pacotaço” de ameaça e porrete esgrimido pelo presidente Javier Milei e sua ministra da (In)Segurança Patricia Bullrich, dezenas de milhares de manifestantes dos movimentos sociais da Unidade Piqueteira (UP) marcharam pelas ruas de Buenos Aires até a Praça de Maio, nesta quarta-feira (20) à tarde, na primeira mobilização contra o governo fascista, recém-empossado.

“Reclamamos de um reajuste brutal contra os trabalhadores e os aposentados, e pelos desempregados, que são os que mais necessitam do amparo. Milei acha que mudou o regime político, que estamos vivendo numa ditadura. Estamos em um regime de liberdade democrática”, afirmou Eduardo Belliboni, do movimento Polo Operário.

A operação das forças de segurança foi acompanhada desde a sede da Polícia Federal por Milei e Bullrich, conforme imagens divulgadas pela televisão, relembrando a época da ditadura civil-militar (1976-1983). Entre as saudações do novo presidente argentino encontram-se “likes” a declarações estapafúrdias como “Eu consideraria usar napalm” contra os opositores ou que havia chegado a hora de “sacar o lança-chamas”.

GOVERNO PRÓ-DOLARIZAÇÃO

Iniciado no último dia 10, o governo ultraneoliberal que se diz fervoroso defensor da dolarização, Milei decretou uma desvalorização da moeda de mais de 50% e abraçou um “ajuste fiscal” que eliminará completamente os subsídios do transporte e dos serviços públicos de energia. Além disso, se comprometeu em paralisar as obras de infraestrutura financiadas pelo Estado, agravando ainda mais as condições de vida da população.

Simbolicamente, o 20 de dezembro serviu para relembrar o trágico aniversário de 22 anos do levante popular que obrigou o presidente Fernando De la Rua a abandonar a Casa Rosada de helicóptero, na sangrenta repressão que deixou um saldo de 39 mortos e mais de 500 feridos. A época de explosão da crise neoliberal ficou marcada por “cinco presidentes numa semana” – em 11 dias, na verdade -, demarcando campo contra a reação.

Para o secretário-geral da Associação dos Trabalhadores do Estado (ATE-Capital), Daniel Catalana, “o governo de Milei tentou censurar o direito à liberdade de expressão com um protocolo que não nos permitia participar de manifestação. Demonstramos que a vontade do povo é muito mais importante que o medo que tentam gerar com a repressão”. “Nós nos mobilizamos para a Praça de Maio porque não vamos permitir que eles deixem o povo passar fome ou subjuguem nossos direitos. Aqueles que vieram pela casta não disseram que estavam vindo atrás de vocês”, asseverou Catalana.

Como descreveu o jornal Página12, a data serviu para demarcar campo entre os manifestantes populares e as marionetes do cordão de isolamento, “com a presença de policiais em motocicletas armados com espingardas à vista”.

“ARSENAL ANTICONSTITUCIONAL CONTRA O POVO”

Em entrevista ao HP, o jornalista e escritor Mariano David Vázquez, assessor da Central de Trabalhadores (CTA Autônoma) denunciou que “o governo de Milei utilizou um arsenal anticonstitucional e ilegal para cercear o direito de reivindicação e protesto através de ameaças nas estações ferroviárias, nas redes sociais e até no aplicativo estatal Mí Argentina (a versão digital do Documento Nacional de Identidade obrigatório)”. “A mobilização policial incluiu filmar manifestantes, transeuntes e usuários de transporte público”, na evidente tentativa de atentar contra a passeata, acrescentou.

“A antiutopia de George Orwell em 1984 tornou-se hoje uma realidade na Argentina”, explicou Mariano Vázquez, ao frisar que “o Protocolo anti-piquetes já tenha sido denunciado por 1.700 organizações políticas, sociais e sindicais perante organismos internacionais”. “O ajuste selvagem do governo, que está apenas começando, só pode ser garantido com repressão, bem como a instauração de um Estado policial em virtual Estado de Sítio para intimidar a população a fim de que esta não proteste pelo flagelo da inflação, pela perda de direitos e do poder de compra”, enfatizou.

Anteriormente descrito por vários meios de comunicação argentinos como “ajustaço fiscal”, “choque econômico” ou “pacote de urgência”, as medidas de “austericídio” anunciadas no dia 12 de dezembro no plano “motosserra” por Milei, “a situação vai piorar”.

O quanto Milei foi afetado no seu plano de submissão ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos banqueiros privados anunciados pela cadeia de rádio e televisão na noite desta mesma quarta-feira vamos analisar na próxima edição.

Fonte: Papiro