Deputada Rashida Tlaib foi censurada por defender o cessar-fogo | Foto: AA

“Tentar me intimidar ou censurar não funcionará porque esse movimento por um cessar-fogo é muito maior do que uma pessoa”, afirmou a deputada Rashida Tlaib, a única parlamentar palestino-americana do Congresso dos EUA”, pouco antes da votação na Câmara dos deputados, de uma resolução de censura apresentada pela bancada trumpista.

A votação final da medida, que acusa falsamente Tlaib de pedir “destruição do Estado de Israel” e apoiar o Hamas, foi de 234 a 188, com quatro republicanos e 184 democratas votando não. 22 deputados democratas endossaram a falsidade, que foi encabeçada pelo republicano Rich McCormick.

Em seu discurso, Tlaib disse que “há milhões de pessoas em todo o nosso país que se opõem ao extremismo de Netanyahu e estão acabando de ver nosso governo apoiar a punição coletiva e o uso de bombas de fósforo branco que derretem carne até o osso”.

“Mas deixe-me ser claro: minha crítica sempre foi ao governo israelense e às ações de Netanyahu. Nenhum governo está acima de críticas”, acrescentou Tlaib.

“A ideia de que criticar o governo de Israel é antissemita abre um precedente muito perigoso e está sendo usada para silenciar diversas vozes que defendem os direitos humanos em toda a nossa nação.”

A propósito, foram mais de 20 – e não apenas Tlaib – os deputados norte-americanos que pediram um cessar-fogo na Faixa de Gaza e alertaram sobre a terrível crise humanitária em curso no enclave palestino, sob as bombas e a punição coletiva de parte de Israel.

Em um comunicado respondendo ao voto de censura, o grupo progressista Democratas pela Justiça (DJ) acusou a Câmara de desencadear “seu fanatismo antipalestino” sobre a única palestino-americana no Congresso.

“Por que os gritos dos bebês palestinos soam diferentes para eles?”, questionou o grupo DJ, nomeando cada um dos deputados democratas que apoiaram a censura: Steve Cohen, Jim Costa, Angie Craig, Don Davis, Lois Frankel, Jared Golden, Dan Goldman, Josh Gottheimer, Greg Landsman, Susie Lee, Kathy Manning, Jared Moskowitz, Wiley Nickel, Chris Pappas, Marie Gluesenkamp Perez, Pat Ryan, Brad Schneider, Kim Schrier, Darren Soto, Ritchie Torres, Debbie Wasserman Schultz e Frederica Wilson.

“A coragem moral da congressista Tlaib nunca será extinguível, mas a covardia, a intolerância e o fanatismo desses 22 democratas serão a única coisa de que o povo americano se lembrará deles”, acrescentou Alexandra Rojas, diretora executiva do grupo.

CLAMOR GERAL

O cessar-fogo também vem sendo pedido pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, e pela grande maioria da comunidade internacional, inclusive com o Brasil tendo um papel destacado nesse objetivo. Também os grupos de direitos humanos no mundo inteiro ecoaram esse pedido, além do Papa Francisco.

Tlaib acusou o presidente Joe Biden de apoiar o genocídio em Gaza, ecoando as avaliações de juristas que advertiram que o apoio em armas a Israel de parte dos EUA, bem como a sustentação política incondicional que presta, o elevam “ao nível de cumplicidade” em crimes de guerra israelenses.

Um grupo de especialistas das Nações Unidas alertou na semana passada que “o povo palestino corre grave risco de genocídio”. “A hora de agir é agora”, acrescentaram. “Os aliados de Israel também têm responsabilidade e devem agir agora para evitar seu curso de ação desastroso.”

DOIS PESOS

Estrategista democrático Waleed Shahid – registrou o portal Common Dreams – observou em um comunicado na quarta-feira que “a Câmara não censurou o deputado Brian Mast por afirmar que não existe um civil palestino inocente e comparar todos os palestinos a nazistas, nem o deputado Max Miller por dizer que Gaza deveria ser transformada em um ‘estacionamento’, nem o deputado Josh Gottheimer, que foi relatado em dois veículos ter culpado todos os muçulmanos pelos ataques de 7 de outubro”.

“A representante Tlaib pediu repetidamente o reconhecimento da humanidade compartilhada de todos os israelenses e palestinos”, acrescentou Shahid. “É claro que, embora israelenses e palestinos possam ser iguais aos olhos de Deus, eles não estão aos olhos do governo dos Estados Unidos. Cabe agora aos democratas de consciência desmantelar a horrível hierarquia de valor humano que se instalou nos lugares mais altos do nosso partido e governo.”

Fonte: Papiro