Parentes dos detidos em mãos do Hamas exigem o cessar-fogo com a liberação dos reféns | Foto: Emine Sinmaz/Guardian

Em negociações intermediadas pelo Qatar e pelo Egito, o regime de ocupação israelense e o Hamas concordaram na quarta-feira (22) com uma trégua humanitária em Gaza de quatro dias para permitir a libertação de 50 mulheres e crianças israelenses ali mantidas em troca da libertação de 150 mulheres e crianças palestinas cativas em prisões de Israel, bem como a entrada substancial de ajuda humanitária no enclave durante esse período.

Gaza está há seis semanas sob bloqueio de água, comida, remédios e combustível e sob assalto por terra, ar e mar, em que sequer hospitais ou escolas da ONU foram poupados pelas tropas de ocupação israelense, que já mataram mais de 14 mil palestinos, 65% dos quais crianças e mulheres, e expulsaram 1,7 milhão de palestinos de suas casas.

O gabinete de Netanyahu aprovou o acordo, após seis horas de tensa reunião e depois de, na semana passada, os parentes dos reféns terem marchado de Tel Aviv a Jerusalém, até à casa do primeiro-ministro, para exigir que fosse dada prioridade máxima à libertação de seus entes queridos.

A trégua é uma suspensão ainda muito limitada, mas aponta na perspectiva de um entendimento que pare o genocídio que vem sendo perpetrado por Israel em Gaza há seis semanas.

Desde o início do bombardeio israelense a Gaza, milhões foram às ruas no mundo inteiro para exigir que Israel pare com o massacre que não poupa hospitais e escolas. “Cessar-fogo imediato” tornou-se palavra de ordem planetária.

TRÉGUA

O Hamas disse saudar a “trégua humanitária” com Israel e divulgou um comunicado com detalhes do acordo. O grupo disse que centenas de caminhões com combustível, ajuda humanitária e médica entrarão no enclave sitiado durante a trégua.

O Hamas disse que, durante a trégua, Israel se comprometeu a não atacar ou prender ninguém na Faixa de Gaza, ou obstruir a circulação de pessoas ao longo da rodovia Salah al Din, a principal estrada que corre do norte ao sul de Gaza.

Durante a trégua, prevista para quatro dias, não haverá ação militar e Israel não moverá nenhum veículo militar em Gaza.

O horário de início da entrada em vigor da trégua entre Hamas e Israel na Faixa de Gaza será anunciado nas próximas 24 horas, de acordo com um comunicado do Ministério das Relações Exteriores do Catar. Nos últimos dias, vinham se acumulando os relatos sobre um acordo iminente. “O número de libertados será aumentado em fases posteriores de implementação do acordo”, acrescentou o comunicado.

Até aqui, o Hamas havia libertado, por razões humanitárias, Judith Raanan, de 59 anos, e sua filha, Natalie Raanan, de 17 anos, de cidadania norte-americana, em 20 de outubro, e as israelenses Nurit Cooper, de 79 anos, e Yocheved Lifshitz, de 85 anos, três dias depois.

No levante de 7 de outubro contra os 16 anos de bloqueio israelense a Gaza, combatentes do Hamas chegaram a tomar alguns assentamentos e postos militares do entorno de Gaza e capturaram mais de 200 israelenses, anunciando a intenção de trocá-los por mulheres e crianças palestinas presas nos cárceres israelenses.

POETA É LIBERTADO

A aprovação da troca de presos pelo gabinete israelense se deu apesar da oposição dos ministros mais ligados ao roubo de terras palestinas, Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças). Netanyahu aproveitou para puxar o saco de Joe Biden, a quem atribuiu “ajuda” para melhorar o acordo provisório de forma a, segundo ele, incluir mais reféns e menos concessões.

Na terça-feira, foi libertado o poeta palestino Mosab Abu Toha, que havia sido preso em Gaza no domingo.

De acordo com a Reuters, que citou como fonte um “alto funcionário”, duas mulheres norte-americanas e uma menina de três anos que ficou órfã no dia 7 de outubro serão libertadas.

Conforme a agência de notícias, autoridades norte-americanas deram a entender que esperam que a trégua se estenda além dos quatro dias iniciais.

500-700 CRIANÇAS PALESTINAS PRESAS POR ANO 

Levantamento feito pelo portal Middle East Eye revelou a drástica situação vivida pelos menores palestinos nas prisões israelenses, que o serviço prisional israelense dizia em setembro ser de 146, total que, segundo o grupo de direitos humanos B’tselem não inclui os arbitrariamente detidos em instalações militares. De acordo com a Defence for Children International-Palestine (DCIP), em média 500-700 menores são detidos pelas forças de ocupação todos os anos.

Relatório de 2013 da Unicef conclui que o mal trato de crianças palestinas detidas nas instalações militares israelenses era “extenso, sistemático e institucionalizado”.

Pesquisa da Save the Children de julho revelou que 86% desses menores tinham sido espancados; 69% haviam sido desnudos para serem revistados e quase a metade, no momento da prisão, haviam sido feridos, alguns deles com feridas a bala e ossos fraturados.

Os menores presos – alguns tão jovens quanto 12 anos de idade – são submetidos a interrogatórios em locais desconhecidos, sem a presença do pai ou de advogado, e frequentemente privados de comida e água. Também são comuns as condenações com confissões obtidas por coerção e submissão a solitária.

MAIS CRIMES DE GUERRA

Os crimes de guerra cometidos pelo regime de Netanyahu continuam causando espanto e repulsa no mundo inteiro. O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Dr. Tedros Ghrebreyesus, expressou nas redes sociais a “perda devastadora” de uma de suas funcionárias em Gaza, “ao lado de seu bebê de seis meses, marido e dois irmãos”.

Outros familiares, segundo relatos, que se abrigavam na mesma casa, também foram mortos. “Não tenho palavras para descrever nossa dor”, disse Tedros, postando uma foto da vítima, Dima Alhaj.

“Esta perda vem juntar-se a outras perdas na família da ONU desde 7 de outubro: 108 colegas da UNRWA [agência para refugiados palestinos] foram mortos. Esse horror precisa acabar. Todos os humanitários e civis devem ser protegidos”, disse ele, acrescentando “Cessar-fogo. AGORA.”

Por sua vez, o chefe da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA), Philippe Lazzarini, disse que a Palestina está vivendo “uma catástrofe humanitária sem precedentes”.

“Não podemos sequer proteger as pessoas sob a bandeira das Nações Unidas”, disse Lazzarini, indignado, acrescentando que quase 67 instalações da UNRWA foram atingidas, principalmente em áreas onde Israel prometeu segurança às pessoas.

“O povo de Gaza não está seguro em lugar nenhum: nem em casa, nem sob a bandeira da ONU, nem em um hospital, nem no Norte, nem no Sul”, disse Lazzarini. O fluxo de ajuda permitido em Gaza no último mês foi aproximadamente o equivalente a dois dias de entregas antes do início da guerra, ele alertou.

COLONIALISTAS ISOLADOS

Na terça-feira, os BRICS realizaram caráter de emergência, por teleconferência, sua primeira reunião ampliada, já com a participação dos novos membros, em prol do cessar-fogo em Gaza e da imediata retomada da solução dos Dois Estados, que até agora foi adiada pelos ladrões de terra alheia na Terra Santa.

Na véspera, chanceleres da Indonésia, Arábia Saudita, Egito, Jordânia e o secretário-geral da Organização para Cooperação Islâmica estiveram em Pequim para coordenar esforços para deter a carnificina em curso em Gaza.

Fonte: Papiro