Judeus fecham a entrada do consulado de Israel em Chicago | Foto: Reprodução

Como já visto em Nova Iorque e na capital Washington, os protestos de comunidades judaicas que repudiam o genocídio em curso em Gaza e exigem um cessar-fogo imediato vêm se espalhando pelos EUA, chegando a Chicago, Los Angeles e Boston.

Na quinta-feira (16) dezenas de manifestantes, convocados pelos grupos Jewish Voice for Peace e IfNotNow, entre outros, bloquearam pela manhã a ponte da Universidade de Boston, na costa leste, que liga a cidade com Cambridge.

“Vemos o que está acontecendo com o povo de Gaza: sem comida, sem água, sem eletricidade, sem remédios”, diz carta aberta do IfNotNow Boston, endereçada ao presidente Biden e à senadora democrata por Massachusetts, Elizabeth Warren, em especial.

“Cada dia traz mais morte, mais fome, mais crianças perdendo membros, mais bebês ficando órfãos. É insuportável, nossas almas clamam contra isso”.

“Gostaríamos que houvesse uma maneira de parar esta guerra, indo diretamente para os políticos que têm o poder de intervir. Mas tentamos isso, tentamos de tudo”, explica a carta. “Marchamos em frente à Casa Branca e oramos dentro do Congresso. Fomos afastados do gabinete da senadora Warren quatro vezes e nos juntamos a milhares de pessoas para protestar do lado de fora.”

“No último mês, testemunhei atrocidades indescritíveis que estão sendo feitas em meu nome, e estou aqui para dizer que isso não é para a segurança judaica americana, isso não é para a segurança judaica global, e que estamos pedindo um cessar-fogo”, disse a manifestante Emma Rose Borzekowski à emissora NBC10 Boston. “Estamos dizendo que é preciso acabar com a violência.”

A carta do IfNotNow também enfatiza que “sabemos que a segurança real para os judeus requer segurança para todas as pessoas. O nosso futuro e a nossa libertação estão ligados à libertação dos palestinos. Não pode haver paz para ninguém até que o cerco termine e o apartheid e a ocupação sejam desmantelados.”

“O princípio judaico de פיקוח נפש, Pikuach Nefesh, exige que as pessoas de nossa fé façam o que pudermos para salvar até mesmo uma única vida. Hoje, milhões de pessoas estão em perigo mortal por causa desta guerra. E os políticos americanos têm o poder, se o usarem, de fazê-la parar”, sublinha a carta.

“Portanto, hoje cumprimos nossa obrigação moral e religiosa sentando-nos nesta ponte, implorando ao presidente Biden, à senadora Warren e a todos os que afirmam nos representar que peçam um cessar-fogo.”

CENTENAS DE ATIVISTAS PARAM HOLLYWOOD

Na quarta-feira (15), a manifestação foi em Los Angeles, com centenas de ativistas judeus pela paz fechando o cruzamento da Hollywood Boulevard com a Highland Avenue para exigir um cessar-fogo em Gaza, registrou o Los Angeles Times.

Os participantes seguravam cartazes com os dizeres “Judeus dizem não ao genocídio” e gritavam “Faça chuva ou faça sol, Palestina Livre!” em meio à tempestade de quarta-feira na metrópole da costa oeste dos Estados Unidos.

A manifestação teve início às 14h30 no Parque De Longpre e foi organizada conjuntamente pelos grupos IfNotNow e Jewish Voice for Peace.

O Departamento de Polícia de Los Angeles disse por volta das 17h30 que o trânsito estava fechado ao redor da manifestação, com manifestantes sentados no cruzamento.

A Hollywood Boulevard foi fechada entre Orange Drive e Las Palmas Avenue, enquanto Highland Avenue foi fechada de Franklin Place para Sunset Boulevard.

Por volta das 19h50, os manifestantes liberaram o cruzamento e o trânsito foi retomado. Nenhuma prisão foi feita em decorrência do ocorrido. “A manifestação foi pacífica e os participantes limparam a cena”, postou o LAPD no X, antes conhecido como Twitter. “Obrigado por sua paciência.”

EM CHICAGO: “NÃO EM NOSSO NOME”

Na manhã de segunda-feira (13), centenas de ativistas pacifistas judeus e apoiadores convergiram para uma importante estação ferroviária no centro de Chicago durante a hora do rush, bloqueando a entrada do consulado israelense e exigindo que os EUA pare com sua cumplicidade com o genocídio em curso em Gaza e pare de vetar um cessar-fogo, com vem fazendo há mais de um mês.

No registro da Associated Press, judeus do meio-oeste e apoiadores viajaram de Iowa, Missouri, Minnesota, Michigan, Indiana, Wisconsin e Illinois para Chicago para a manifestação. O consulado israelense em Chicago fica em um prédio conectado ao Ogilvie Transportation Center, uma importante estação ferroviária suburbana.

Mais de 100 manifestantes que bloquearam as escadas rolantes que levam ao consulado foram presos e escoltados para fora da estação, denunciou um dos organizadores do ato, Ben Lorber.

O protesto foi encabeçado pelas sessões de Chicago da Jewish Voice for Peace, IfNotNow e Never Again Action.

CUMPLICIDADE COM GENOCÍDIO PÕE REELEIÇÃO EM RISCO

Na semana passada, organizadores democratas da juventude enviaram carta ao presidente Joe Biden advertindo que, se ele continuasse a se pronunciar contra o cessar-fogo, iria por em risco sua reeleição, já que o voto da juventude, que foi essencial para a derrota de Trump na eleição e para parar a “onda vermelha” republicana em 2022, pode não vir em 2024, devido à cumplicidade de Biden no morticínio.

Os protestos contra o massacre de bebês e mulheres por Israel têm se multiplicado nos EUA, sob o brado de “Biden, you can´t hide/ we charge you genocide” [Biden, você não tem como se esconder/ nós acusamos você de genocídio] – como visto inclusive diante da Casa Branca. Na quarta-feira, 24 deputados democratas enviaram uma carta a Biden cobrando uma ação pelo cessar-fogo.

Os bombardeios israelenses em Gaza mataram mais de 11 mil palestinos, incluindo pelo menos 4.710 crianças, com centenas ainda sob os escombros. Os feridos são mais de 27 mil. Cerca de três quartos dos 2,3 milhões de habitantes do território foram deslocados. A blitzkrieg israelense não poupa nada, de hospitais a mesquitas, escolas da ONU e padarias. Metade das casas e prédios do enclave palestino estão em ruínas. O cerco e bloqueio israelenses mantêm o enclave sem energia elétrica, sem água, sem comida e sem combustível, e o que entra de ajuda humanitária pela fronteira com o Egito é uma gota num oceano de necessidades dos civis palestinos.

Fonte: Papiro