Porta-bandeira da Portela sofreu racismo momentos após ter sido homenageada no Congresso Nacional | Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Após ser homenageada no Congresso Nacional como parte das celebrações do Dia da Consciência Negra, a porta-bandeira Vilma Nascimento, de 85 anos, foi vítima de uma abordagem racista no aeroporto de Brasília. O caso aconteceu nesta terça-feira, quando ela estava à espera do voo junto com sua filha, Danielle Nascimento.

O caso repercutiu agora, após publicação feita por Danielle nas redes sociais. No vídeo Danielle relata que a porta-bandeira e a família estavam na loja comprando chocolates e, quando estavam saindo, um fiscal realizou uma abordagem acusando Vilma de ter levado um produto sem pagar.

Em entrevista à TV Brasil, Vilma disse que ficou olhando os perfumes da loja enquanto sua filha Danielle fazia uma compra. “Eu não comprei nada. Passamos novamente em frente à loja e veio uma segurança e pediu para a gente entrar na loja para ser revistada a bolsa”, afirmou.

“Minha filha perguntou o porquê daquilo. A segurança não respondia nada. Abri a bolsa. Tinha um monte de freguês dentro da loja vendo eu tirar tudo da minha bolsa e a segurança olhando. Tirei, ela viu que não tinha nada, se comunicou com alguém e disse que não tinha nada na minha bolsa. Nem desculpa pediu”, disse.

Vilma e Danielle pediram, sem sucesso, para que a polícia fosse chamada. Tiveram que sair da loja correndo para pegar o voo ao Rio. “Eu posso comprar os perfumes que eu quiser. Não preciso roubar. Quero agradecer todos os apoios que estou recebendo dos meus amigos, dos meus fãs. Sou negra, tenho orgulho de ser negra, meu avô era escravo e minha avó era índia”, afirmou a porta-bandeira em vídeo enviado à TV Brasil.

“Foi uma humilhação que nem eu, nem a minha mãe imaginávamos passar nessa vida. Estamos tristes e traumatizadas até agora. Foi um absurdo”, contou Danielle.

Os funcionários foram questionados sobre o motivo da revista, mas não responderam. “Entrei no avião lotado aos prantos, com todos me olhando”.

Em nota, a Portela repudiou o caso e disse que “o constrangimento, demonstrado nas imagens divulgadas, é sentido por todos que temos no samba parte importante de nossa identidade”. Leia a nota na íntegra no final.

Personalidades, políticos e ministros criticaram o ocorrido e prestaram solidariedade a Vilma.

Paulinho da Viola compartilhou o vídeo de Danielle e afirmou: “Vilma Nascimento, eterna Porta-bandeira da Portela, foi vítima de um ato inaceitável numa loja do aeroporto de Brasília. Foi obrigada a abrir sua bolsa na frente de todos para provar que não havia furtado nenhum produto. Foi com dor e indignação que vi o vídeo dessa cena lamentável, onde Vilma constrangida mostra seus pertences e se explica para uma funcionária. Apesar de todos os esforços que temos feito para combater esse preconceito, ele acontece diariamente toda vez que uma pessoa é agredida, humilhada, constrangida e ferida dessa maneira. Eu também me sinto ferido. Sinto muito, querida Vilma, sinto mesmo. Você é muito maior que tudo isso”.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes compartilhou a publicação de Paulinho da Viola e disse: “Racismo! Simples assim! Dona Vilma, nossa Porta-bandeira da Azul e branco de Osvaldo Cruz e Madureira, receba meu carinho e afeto. Mais que isso, minha luta como homem público para acabar com esses crimes.  A senhora é grande e um orgulho para todos nós!”.

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco disse: “São absurdas e inadmissíveis as acusações racistas feitas por funcionários de uma loja do aeroporto de Brasília à Vilma Nascimento, Baluarte da Portela e lenda viva da cultura negra brasileira”. Ela afirmou, ainda, que entrará em contato com a vítima para “prestar solidariedade e auxílio”.

Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Paulo Pimenta também escreveu no X (antigo Twitter): “Inadmissível! Na semana da Consciência Negra, um caso absurdo de racismo escancara a dura realidade do nosso país. Dona Vilma Nascimento, 85 anos, porta-bandeira e figura histórica da Portela, foi constrangida e teve sua bolsa revistada aqui no aeroporto de Brasília.”

Ele continuou: “Meu abraço e minha solidariedade a ela e sua filha. Presidente Lula já deu o recado e nós reafirmamos que não vamos tolerar racismo no nosso país.”

Fonte: Página 8